Psicóloga do HU-UFSCar fala sobre o tema e aponta a importância do apoio da família, amigos e profissionais de saúde
A
campanha Setembro Amarelo é organizada nacionalmente, desde 2014, pela
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal
de Medicina (CFM), e tem o objetivo de sensibilizar e informar os diferentes
públicos sobre a temática do suicídio, formas de acolhimento, abordagem dos
pacientes e a prevenção com o apoio de familiares, amigos e profissionais de
saúde.
Lara
Rosa Cobucci é psicóloga do Hospital Universitário da Universidade Federal de
São Carlos (HU-UFSCar/Ebserh/MEC) e acredita que a campanha de prevenção ao
suicídio é importante por promover espaços de fala aberta sobre o tema, já que
apenas por meio do conhecimento é possível ofertar ajuda e prevenir que esse
ato ocorra. "O suicídio segue sendo um assunto pouco falado, por se tratar
de um grande tabu e estigma. Mas, ao contrário do que comumente se pensa, falar
sobre ele não aumenta seu risco, mas, sim, promove acolhimento e possibilita a
obtenção de ajuda adequada", avalia Cobucci.
Dados
De
acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da
Saúde (Opas/OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem, por ano, em todo o mundo por
causa do suicídio. Ele também é a segunda principal causa de morte entre jovens
com idades entre 15 e 29 anos. Dados da ABP indicam que são registrados cerca
de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil, com casos cada vez mais frequentes
entre os jovens. De acordo com a Associação, cerca de 96,8% dos suicídios estão
relacionados a transtornos mentais.
Para
Lara Cobucci, o suicídio, assim como o pensamento e as tentativas, não tem uma
causa única ou pontual. "Esse comportamento ocorre como um resultado da
interação de diversos fatores psicológicos, sociais, culturais, ambientais,
biológicos e genéticos. Dentre os principais fatores de risco para o suicídio
está a presença de doença mental, como depressão, transtorno bipolar e abuso de
álcool ou outras drogas. Sabe-se que praticamente todos os indivíduos que
tentam suicídio têm alguma doença mental pregressa, porém muitas vezes tais
doenças nunca foram diagnosticadas ou tratadas",
explica.
Prevenção
Como
o suicídio ocorre por uma junção de fatores, Lara Cobucci explica que há
diversas estratégias que podem e devem ser empregadas como prevenção. Uma
delas, de acordo com a psicóloga do HU-UFSCar, é a identificação e avaliação do
risco do indivíduo, considerando tentativas prévias, quadro de saúde mental, a
presença de planos de morte e características sociais e psicológicas.
"Embora haja o mito de que as pessoas que ameaçam se matar não irão
concretizar o plano e querem ‘apenas chamar atenção’, sabe-se que a maioria dá
sinais, expressa seus pensamentos e planos de morrer antes de tentar e cometer
o suicídio", alerta. Uma vez identificado o risco, a pessoa deve ser
acolhida, ouvida de forma empática e encaminhada para serviços de referência em
saúde mental. Além disso, deve-se buscar garantir a presença do suporte social.
Nesse
contexto, a psicóloga aponta que a família e amigos são essenciais na prevenção
ao suicídio. "Eles têm o papel de ouvir, dar suporte e acolher, além de
incentivar a buscar ajuda profissional e evitar que a pessoa tenha acesso a
meios de se autolesionar".
Por
fim, Lara complementa que a pandemia de Covid-19 está afetando a saúde mental
de muitas pessoas e que diversos estudos já apontam para o aumento de
depressão, ansiedade, angústia, violência e abuso de álcool e outras drogas.
"Além do contexto do isolamento social, esses sintomas se juntam a
dificuldades financeiras e perdas ocasionadas pela pandemia, e se tornam
grandes fatores de risco ao comportamento suicida. Diante disso, mais do que
nunca, são necessários a conscientização e o desenvolvimento de estratégias de
produção de cuidado, a fim de evitar um aumento nas taxas já muito altas de
comportamento suicida no Brasil e no mundo", conclui.
Em caso de
necessidade, o indivíduo poderá buscar ajuda em um dos Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) de sua cidade - em São Carlos são três tipos de Caps
(Mental, Álcool e Drogas e Infantil e Juvenil) -, além do Centro de Valorização
da Vida (CVV), que também é um importante canal de comunicação para quem
precisa conversar, disponível 24 horas pelo telefone 188.
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