Acolhimento de
obstetras pode ajudar a atenuar sintomas desse transtorno psicológico
Apesar de pouco
discutido, até 20% dos quase 10 mil partos realizados diariamente, no Brasil,
pode ocorrer envolto de medo. Trata-se da partofobia, um transtorno psicológico
que afeta gestantes por meio de elevada ansiedade, ataques de pânico, queixas
psicossomáticas e outras manifestações associadas ao momento de dar a luz.
Segundo especialistas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo), a partofobia pode influenciar negativamente o bem-estar
da gestante, bem como afetar o desenvolvimento fetal. A realização de adequado
pré-natal, bem como a construção de uma rede de apoio para mulher grávida, pode
colaborar para a diminuição desses sintomas e o restabelecimento da qualidade
de vida da gestante.
Segundo o
ginecologista Dr. Rodrigo Nunes, membro da Comissão Nacional Especializada em
Urgências Obstétricas da Febrasgo, a "partofobia pode ser primária, quando
desencadeada no início da fase adulta, na adolescência, ou mesmo na infância e
está associada a relatos de familiares da própria mãe ou pessoas próximas. Pode
ainda ser secundária a eventos traumáticos relacionados a um parto anterior,
como a dor, falta de suporte emocional no período perinatal ou complicações
obstétricas". O médico destaca que fatores como tabagismo, depressão,
ansiedade, história de violência sexual, infertilidade, abortamento prévio e
cesariana prévia estão associados à partofobia, podendo, ainda, apresentar-se
com maior intensidade em primigestas (mulheres em sua primeira gestação).
O Dr. Nunes comenta
ainda que esse medo exacerbado do parto pode gerar prolongamento da gestação ou
motivar pedido por cesariana eletiva. "Em relação ao desenvolvimento do
feto, a partofobia está associada a mudanças no crescimento intrauterino, baixo
peso ao nascer, alterações nos batimentos cardíacos fetais e prematuridade,
provavelmente decorrente do efeito negativo identificado no fluxo sanguíneo das
artérias uterinas das gestantes. Porém, os efeitos em longo prazo no
desenvolvimento das crianças ainda não foram estabelecidos".
O especialista da
Febrasgo comenta que, após o nascimento, a partofobia pode ainda ser
responsável pelo atraso na formação do vínculo entre a mulher e o
recém-nascido, dificultando a amamentação e aumentando o risco de depressão
puerperal.
De acordo com o
ginecologista Dr. Rodrigo Nunes, a correta identificação de uma gestante com
partofobia permitiria seu encaminhamento para um especialista em psicoterapia e
suporte psicossomático para diminuir o medo e o impacto negativo sobre o feto e
sobre si mesma. Segundo pesquisa DataFolha, 87% das mulheres estão satisfeitas
com o acolhimento e aconselhamento dos gineco-obstetras que as assistem -
podendo ser este um polo de segurança para discussão e apoio quanto aos
sentimentos surgidos em relação ao parto e, se necessário, indicação de
acompanhamento multiprofissional. "No Brasil, o Ministério da Saúde, por
intermédio das Diretrizes de Atenção à Gestante, orienta que em caso de
ansiedade relacionada ao parto ou partofobia, é recomendado apoio psicológico
multiprofissional. Após a orientação e apoio psicológico, quando indicado, se a
gestante mantiver seu desejo por cesariana, o parto vaginal passa a não ser
recomendado".
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