Opinião
Faz décadas
assistimos a abertura desenfreada de novas escolas médicas, sem condição de
oferecer formação minimamente digna e honesta. Jovens cujo sonho é seguir a
Medicina, cuidar de pessoas e salvar vidas pagam mensalidades caríssimas e
recebem em troca conhecimento insuficiente.
O resultado
é que são jogados na linha de frente do atendimento não como solução.
Viram um risco à saúde da população.
Nesse
processo, lamentavelmente, quase todos perdem: o jovem médico tem seu sonho
destruído e o bolso extorquido; os cidadãos ficam com uma assistência capenga e
perigosa. Só ganha mesmo é o mau empresário que abre cursos a torto e a direito
com único intuito de encher as burras de dinheiro, como diriam os mais antigos.
É
assustador ver uma nova faculdade médica a cada esquina que tropeçamos. Em sua
maioria, não possuem professores qualificados, a grade pedagógica é fraca, não
dispõem de hospital-escola.
Dessas
árvores não nascem bons frutos, claro. Medicina se aprende à beira do leito,
acompanhando os bons mestres e lidando com pacientes de carne e osso. É preciso
prática e coração para exercê-la com eficiência.
Hoje, o
Brasil tem o segundo maior quantitativo de cursos médicos do mundo, são 351,
diplomando em torno de 35 mil/ano. Digo diplomando, pois o que fazem realmente
não é formar.
Como
agravante, temos uma invasão de graduados em faculdades meia boca da Bolívia,
Paraguai e outros vizinhos... Coisa ruim não é privilégio exclusivo do Brasil,
embora aqui haja em abundância. Pior: muitos desses recém-graduados querem
exercer a Medicina aqui sem prestar a prova do Revalida, sem comprovar que
estão capacitados para atender você.
A saúde é
o nosso bem maior, pela qual lutamos dia após dia. Todo
esforço deve ser feito para que tenhamos médicos
qualificados para cuidar de nós e das futuras gerações.
A Medicina
evolui e se reinventa em velocidade espantosa. Daí a necessidade de estar a
vida inteira estudando e se desenvolvendo. Não bastam seis anos de graduação
com mais três ou quatro anos de residência. É indispensável a participação em
congressos nacionais e internacionais, simpósios e jornadas de atualização,
para se manter em condição de oferecer o melhor aos cidadãos.
É ofício
que exige habilidade, ética e atitude. Assim como são princípios primordiais da
relação médico-paciente, o humanismo, a cumplicidade, o sigilo. Aliás, médico
só é médico diante do paciente. Deve ter empatia com pessoas, transmitir
confiança e tranquilidade por meio de um olhar, de pequeno gesto, de uma
palavra.
Lidamos com
vidas, todo o cuidado é pouco.
Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica
Médica
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