Há uma pergunta que não quer calar “como a alta taxa de juros influencia na tomada de decisão do investidor?”. Por meio de dois mecanismos os juros podem interferir no momento da aplicação do dinheiro em investimentos. O primeiro é a expectativa de retorno da renda fixa pós-fixada, aquela que acompanha a rentabilidade e a subida dos juros, considerada com menor risco.
Desta forma, o investidor ao perceber que está
recebendo um percentual mais satisfatório mês após mês, ao deixar seu valor
aplicado neste segmento, pode querer aumentar sua alocação lá ou até mesmo
retirar de outro lugar, onde ele acha que terá um rendimento menor.
Atualmente, com a taxa Selic a 5,25% ao ano, o
investidor já recebe próximo a 0,50% ao mês na maioria das aplicações
pós-fixadas, alguns meses atrás esse rendimento não passava de 0,20% ao
mês.
Já outro aspecto que impacta diretamente na decisão
do investidor, mas que é menos óbvio, é uma taxa de juros maior que deve
oferecer uma taxa de desconto maior nas ações. O preço de qualquer ação
significa uma expectativa de resultados futuros daquela empresa, que deve ser
maior que a taxa de juros.
Uma vez que os juros estão cada vez mais altos, é
essencial que os resultados da empresa sejam maiores em relação ao seu preço
atual, por exemplo. Em resumo, tudo se mantendo constante e a taxa de juros
subindo, a tendência é o preço das ações terem um desconto.
Como a pandemia impactou no movimento da taxa
Selic?
No início da pandemia, em meados de março de 2020,
houve uma preocupação muito grande por parte do Banco Central, o famoso BC, em
estimular a economia através da diminuição de juros. Em fevereiro, por exemplo,
a taxa Selic estava em 4,25% ao ano, já em agosto ela já tinha sido reduzida
para 2,00% - patamar que nunca foi atingido antes no Brasil.
Desta forma, esse movimento de queda estimulou
fortemente o crédito imobiliário, que estava mais sensível à taxa básica de
juros, de modo a incentivar o setor de construção civil, no qual é uma área que
consome muitos materiais básicos.
Após um período de demanda por commodities -
matéria prima -, que foi tão forte, não só aqui no Brasil, mas no mundo todo,
os preços desses materiais começaram a subir fortemente, impactando a taxa de
inflação - IGPM que é o índice do atacado e, agora, o IPCA que é o índice do
varejo.
Como a inflação e a expectativa dela subiram além
da meta do Banco Central, a solução foi voltar a subir os juros que,
atualmente, está em 5,25% ao ano. De modo a tentar frear um pouco a demanda
pelos materiais básicos e, também, segurar a cotação do dólar, na casa dos
R$5,20 para tentar conter a alta inflação.
Taxa Selic a 8% a.a: o investidor pode voltar a
apostar na poupança?
A poupança rende 70% da taxa Selic, resultando em
3,75% ao ano, atualmente. Sendo assim, praticamente, nunca é a melhor opção
voltar a investir na poupança, uma vez que é possível aplicar o dinheiro em um
título público e ter a rentabilidade de 100% da Selic, totalizando 5,25% hoje,
que é considerado mais seguro que a poupança.
Mas, com a chegada da taxa básica de juros a 8%, ou
em um cenário mais agressivo, acima de 10%, a renda fixa começa a ficar bem
atraente e deve começar a atrair mais recursos. Visto que estará oferecendo uma
rentabilidade mais satisfatória e ficando muito mais livre da volatilidade da
renda variável, no qual muitos investidores tem um “certo” medo.
Atualmente, não há expectativas no mercado
financeiro que a taxa Selic sofra uma redução, pelo contrário, a dúvida está no
tamanho da alta, se vai para 8% ou pode chegar a 10% já no começo de 2022. Vale
ressaltar que o movimento positivo da vacinação não tem interferência com o
patamar elevado da Selic, uma vez que a inflação já superou o teto da meta em
12 meses.
Paulo Cunha - sócio-fundador da iHUB Investimentos e especialista sobre o mercado financeiro.
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