Saudáveis e saborosos, o consumo dos organismos aquáticos representa um mar de possibilidades
Compreendendo uma ampla gama de espécies animais, o pescado é uma
opção valiosa de proteína de alta qualidade, além de trazer sabor e variedade
às refeições. O Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, desenvolve pesquisas e ações voltadas a
disseminar a importância desses alimentos e mostrar seus benefícios para a
população.
"O Brasil tem uma diversidade impressionante de tipos de pescado",
diz a pesquisadora do IP Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva. "Usamos o
termo para nos referirmos a todos esses organismos aquáticos: peixes, crustáceos
(camarões, lagostas, siris, caranguejos), moluscos (mariscos, mexilhão, polvo,
lula, ostras) e, além desses, os répteis (a exemplo do jacaré, tartaruga), os
anfíbios (rãs) e alguns equinodermos, como o pepino do mar".
Conforme aponta, o consumo desses produtos sempre foi visto como um hábito
saudável, algo que é corroborado pelas pesquisas científicas. "Quando
pensamos em alimentação mais saudável, o pescado é um alimento
estratégico", coloca a especialista. "Tanto pela alta qualidade das
proteínas, quanto pela presença de nutrientes muito importantes, como os
ácidos-graxos (ou gorduras) poli-insaturados, principalmente os chamados
Ômega-3, relacionados ao desenvolvimento neurológico, principalmente na
infância e mesmo na gestação", complementa.
Esses alimentos, explica, podem implicar, inclusive, na diminuição do risco de
algumas doenças coronarianas, sendo importante aliados no combate à obesidade.
"Temos, ainda, os micronutrientes, como os minerais, que são muito
importantes para o funcionamento do nosso organismo, como o manganês, magnésio,
zinco, cobre entre outros, além das vitaminas do complexo B", acrescenta
Rúbia Yuri Tomita, também pesquisadora do IP, realçando mais aspectos
nutricionais positivos dos organismos aquáticos.
Todos esses impactos positivos na saúde são confirmados pelas recomendações dos
principais órgãos de saúde em nível mundial e nacional. "A Organização
Mundial da Saúde (OMS), tem recomendado o consumo de uma a duas porções
semanais de pescado, assim como a Autoridade de Segurança Alimentar da União
Europeia, que recomenda o consumo de 300g de peixe por semana para
adultos", coloca Rúbia, o que daria um consumo per capita de cerca de 12
kg por ano.
De acordo com as pesquisadoras, o Brasil está próximo desse patamar se
considerarmos a média nacional, com cerca de 10 kg anuais por pessoa, mas há
discrepâncias acentuadas entre as regiões do país. "Na Região Norte, temos
um consumo muito grande, cerca de 30 kg/ano, o maior do país. Em compensação,
na Região Sul, não chega a 2 kg/ano per capita", detalha Rúbia. Já
Cristiane aponta que, da mesma forma que acontece no Brasil, São Paulo também
apresenta características peculiares em cada região do Estado. "Fizemos um
estudo, em 2010, focado na Região Metropolitana de São Paulo, onde encontramos
um consumo interessante, relacionado principalmente aos restaurantes e serviços
de alimentação, chegando a 15 kg por pessoa", relata a pesquisadora,
contextualizando que em outras cidades paulistas o consumo é bem menor.
Qual pescado devo escolher? Todos!
Com uma variedade tão grande, como escolher qual pescado comprar? O conselho
das especialistas é justamente experimentar, variar e testar os diferentes
tipos para ver quais mais agradam ao paladar, se mostram mais práticos e têm
melhor rendimento. "Fazendo experimentações, o consumidor vai ter a
oportunidade de escolher entre peixes de extrativismo (pesca) ou cultivo, de
água salgada ou doce, e uma enormidade de sabores e características
nutricionais", garante Cristiane.
Rúbia, por sua vez, pondera que apesar de alguns peixes possuírem mais gordura
que outros, isso não deve ser considerado um problema, pois trata-se de
"gordura boa". De qualquer forma, há opções para todos os gostos.
"Uma pesquisa que fizemos em 2016 mostrou que peixes como sardinha e
trilha possuem mais gordura e são mais calóricos; já tambaqui, abrótea e
pescada-branca são mais magros", detalha. Ela ressalta a necessidade de
pensarmos na variedade como um fator essencial. "A indicação para o
consumidor é buscar essa riqueza da diversidade de pescado e não ter uma
preocupação com qual seria ‘mais saudável’, pois todos são!", concorda
Cristiane. Para as duas, do mesmo modo que devemos procurar a diversificação
quando falamos no consumo de frutas, legumes e verduras, no que diz respeito ao
pescado, também é importante diversificar. "Não consuma apenas salmão, por
exemplo. Busque variedade", aconselham.
Leia também: Consumo
de Peixes Não-convencionais une sabor, nutrição e fortalecimento da pesca
regional
Tirando do caminho os mitos sobre pescado
Para as pesquisadoras do IP, tem havido um aumento no interesse pelo pescado
por parte dos consumidores brasileiros, reflexo de uma maior preocupação com a alimentação
saudável - em parte devido à atual pandemia. No entanto, ainda prevalece no
senso comum alguns mitos, ou preconceitos infundados quanto ao consumo de
peixes, crustáceos e moluscos. Cristiane e Rúbia nos ajudam a afugentar alguns
deles:
- Pescado é muito difícil de preparar
Provavelmente você já deve ter ouvido isso, ou pessoalmente deu preferência à
compra de outra carne pensando no trabalho extra que seria preparar um pescado.
Conforme explica Cristiane, isso não é mais uma realidade, graças à oferta de
produtos variados que encontramos atualmente. "No passado, esse era um dos
pontos que levava o consumidor, por vezes, a não escolher o pescado, pela
dificuldade em eviscerar, descamar etc. Hoje, no entanto, encontramos filés já
sem pele, sem espinhos, sem vísceras, prontos para o preparo", afirma. Ela
menciona que algumas pesquisas já evidenciam o aumento de consumo nos lares,
pois o consumidor passou a perceber que pode, sim, ser fácil e prático preparar
o pescado.
- Só como o pescado se for fresco; nada de congelado
Essa é outra afirmação que não procede, de acordo com as pesquisadoras. "O
pescado tem que ser de qualidade, seja fresco, seja congelado ou conservado de
outra forma, ou seja pronto para o consumo", garante Rúbia. A pesquisadora
acredita que essa crença se deve a fatores culturais dos brasileiros, onde,
antigamente, prezava-se por comprar o peixe recém-desembarcado, das mãos do
pescador. Com o desenvolvimento da cadeia do frio e da industrialização do
pescado no país, entretanto, passou a ser possível conservá-lo por muito mais
tempo e pessoas de regiões distantes do litoral puderam ter acesso aos frutos
do mar, por exemplo.
"A cadeia produtiva está cada vez mais organizada e a qualidade cada vez
melhor. Os órgãos de inspeção estão trabalhando bastante e atuando no sentido
de coibir falsificações e fraudes, tentando transmitir uma segurança maior para
o consumidor", garante Rúbia. As pesquisadoras lembram que, fresco ou
congelado, é essencial comprar pescado em estabelecimentos de confiança, que
cumpram os requisitos higiênicos-sanitários e sejam aprovados pelos órgãos
fiscalizadores.
- Tenho medo de comer peixe, porque tem muita espinha
Mais um preconceito de raiz cultural em nosso país que acaba atrapalhando o
acesso ao pescado. "É uma preocupação até certo ponto exacerbada, que
acaba se tornando um demérito na percepção popular sobre o pescado. Muita gente
não come pensando nesse risco", lamenta Cristiane. Embora algumas espécies
tenham muitas espinhas e que seja necessária atenção ao consumi-las, há muitos
peixes com bem poucas, a exemplo dos bagres, do cação, da truta, do pirarucu,
entre outros. "Esse é um mito importante que podemos melhorar, tanto na
escolha da espécie quanto nos modos de preparo, optando, por exemplo, pelos
filés, que já vem sem espinhas", assegura a pesquisadora. Já Rúbia alerta
que, no caso das crianças, sempre é importante os pais supervisionarem o
consumo dos filhos, retirando quaisquer espinhas antes de oferecer-lhes o
alimento.
- Eu não como camarão, porque me causa alergia
De acordo com as pesquisadoras, esse receio se volta aos crustáceos e mariscos
em geral, mas principalmente ao camarão. Entretanto, o risco é menor do que por
vezes acreditamos, sendo amplificado por boatos. "Frequentemente, quando
questionamos as pessoas sobre esse respeito, elas próprias dizem que nunca
comeram, mas conhecem casos de conhecidos, parentes etc", questiona-se
Cristiane.
"A literatura científica indica que, normalmente, esses casos de reações
alérgica ao consumo de frutos do mar (camarão mais comumente), está na verdade
relacionado ao uso de aditivos na conservação desse produto (por exemplo, sais
de sulfito), para que mantenha um aspecto visual apropriado e não se deteriore
rapidamente", agrega.
No momento da pesca, o pescador adiciona esses sais de sulfito e, se a
concentração máxima permitida for desrespeitada, pode acontecer de as pessoas
terem reações alérgicas - que, em casos extremos, podem ser graves. "Há
pessoas que têm reações a variados tipos de proteínas presentes em alimentos,
não apenas no pescado, mas isso é mais raro. Essas alergias estão relacionadas
mais ao uso do aditivo", alega a pesquisadora.
Como combater isso? Na opinião das especialistas é preciso conhecer o
fornecedor, de quem se compra o camarão. "Há pescadores que vendem
pescados com origem garantida e que evidenciam que o camarão não tem aditivos,
conservadores e pode ser consumido com segurança. É algo que devemos começar a
ver e tomar cuidado: a origem do que se consome", finaliza Cristiane.
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