Psiquiatra explica como evitar que o distanciamento e a falta de contato físico desencadeiem problemas psicológicos
A pandemia do novo coronavírus trouxe
mudanças de certa forma abruptas em nossas vidas. O home office foi aplicado na
rotina da maioria dos trabalhadores, professores e alunos tiveram que se
adaptar ao ensino remoto e as pessoas precisam se isolar dentro de casa, muitas
vezes sozinhas.
O isolamento talvez
seja a parte mais difícil de todo esse processo, principalmente para os idosos,
grupo de risco na pandemia. Sem ter contato com familiares e, na maioria das
vezes, aposentadas, as pessoas com mais de 65 anos se tornaram mais vulneráveis
não só ao vírus, mas aos problemas psicológicos.
Para a psiquiatra e
presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), Renata Nayara
Figueiredo, o isolamento e o distanciamento social impostos pela pandemia
apenas intensificaram o sentimento de solidão. "Muitos idosos já estavam
sem contato social por viverem em casas de repouso ou até por não trabalharem
mais", complementa.
Renata ressalta que
o estresse psicológico pode ter um impacto na saúde física das pessoas na
terceira idade, que também precisam de atenção. "Ao mesmo tempo em que
protege o idoso da Covid-19, o isolamento pode contribuir para redução da
resposta imunológica do corpo, ao colocá-lo sob uma condição estressante,
aumentando assim o risco de doenças vasculares", explica.
A psiquiatra ainda
alerta para um risco maior de dependências químicas, transtornos psicológicos e
tentativas de suicídio nesse grupo. "A incerteza com o futuro e o aumento
de tempo ocioso, podem desencadear o crescimento no consumo de álcool, falta de
motivação, depressão, transtorno de ansiedade e pensamentos suicidas",
lista. Ela informa que "a cada duas tentativas de suicídio em idosos, uma
evolui para óbito", taxa extremamente maior que na população geral.
Adaptando a rotina
Para melhorar e
evitar esses quadros psicológicos, a médica psiquiatra fala que é de suma
importância que a família sempre esteja atenta ao comportamento do idoso, e
pede para que os parentes tentem diferentes formas de continuar a interação com
os mais velhos. "Ligar todos os dias, nem que seja por 10 minutos, já
ajuda. Às vezes pode ser preciso ir atrás de um cuidador, para que se tenha uma
melhor visão da saúde da pessoa", diz.
Por mais que a
rotina não seja a mesma, a especialista recomenda que a família ajude os idosos
a adaptarem o seu dia a dia. "Continuar com uma alimentação saudável,
realizar atividades físicas, mesmo que dentro de casa, fazer videochamadas com
todos da família, são formas de manter a saúde física e mental mesmo sem
contato físico", pontua. Interromper outros tratamentos médicos não pode
ser uma opção, e a psiquiatra fala para os familiares recorrerem à
telemedicina.
Dra Renata, por fim,
lista uma série de queixas que devem ter um cuidado, como: falta de apetite,
dores no corpo, dificuldade para dormir, irritabilidade, insônia, falta de
memória, preocupações com a morte e sensação que é um fardo para os outros.
"Esses sinais precisam de atenção, e é recomendável procurar um psiquiatra
e um psicólogo, para uma melhor avaliação", conclui.
Psicoterapia
Milena Silva,
doutora em psicologia do desenvolvimento humano e professora do CEUB destaca
que a psicoterapia de idosos é muito importante, por dois motivos. Segundo ela,
o primeiro serve para proteger a população idosa que começa a sentir o declínio
do envelhecimento natural, isso vai demandar algumas mudanças significativas
como, por exemplo, saída do emprego, provavelmente uma mudança de local na
família, mudança nas relações sociais, porque o idoso sai de alguns espaços
muito importantes para ele, como trabalho e também das perdas que são muito
comuns nesta fase.
"O idoso
precisa ser reorganizado, se reconectar com a sua identidade. E agora dentro de
um novo contexto, de uma nova demanda de vida", afirma a especialista. Ela
continua: "a psicoterapia possibilita trabalhar de maneira geral,
temáticas como autonomia, saúde física e mental, socialização e entre outras
questões".
Em resumo, a
psicóloga explica que é reforçado para o idoso a importância das relações
afetivas, sejam sexuais, com familiares e amigos.
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