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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Pesquisa mostra que vacina contra a COVID-19 antes de cirurgias pode evitar dezenas de milhares de mortes

        O resultado de um estudo com pacientes que precisam fazer cirurgias pode influenciar a programação de imunização da COVID-19 no Brasil e no mundo. A pesquisa aponta que se a vacina for aplicada previamente em pacientes que irão passar por cirurgias eletivas pode evitar dezenas de milhares de mortes pós-operatórias relacionadas à COVID-19, por reduzir significativamente o risco de complicações da doença. Esta é a conclusão da pesquisa conduzida no Reino Unido com a participação de cientistas brasileiros, entre eles médicos do Instituto Integra Saúde e do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, ambos em São Paulo, Capital. O estudo analisou dados de pacientes cirúrgicos com câncer, com outras doenças benignas e a população em geral, num total de 56.589 casos eletivos, 141.582 casos de mais de 1.660 hospitais no mundo. O objetivo do estudo foi apurar informações que mostrassem o impacto da imunização na redução da mortalidade de pacientes submetidos a qualquer tipo de cirurgia eletiva.

O trabalho revela que mesmo em regiões onde é baixa a taxa de contaminação por COVID-19 na população, os pacientes cirúrgicos correm maior risco ao serem infectados no hospital.

Ao vacinar o grupo de pacientes que passarão por tratamento cirúrgico mais complexo e necessário, é possível reduzir significativamente o número de mortes por COVID-19 no pós-operatório, segundo Felipe José Fernández Coimbra, cirurgião oncológico, diretor do Instituto Integra Saúde e head da equipe médica da Cirurgia Abdominal do A. C. Camargo Cancer Center. “O estudo vem mostrar que esse é grupo prioritário para a vacinação”, afirma o oncologista e participante do estudo. Ele acredita que o Sistema Público de Saúde (SUS) e o Ministério da Saúde devem considerar esses dados na atualização de grupos prioritários, de acordo com a maior disponibilidade de imunizantes. 

A pesquisa, divulgada em abril de 2021, analisou dados de vacinação e dos índices de prevenção das vacinas. Foram separados três grupos por faixa etária e em três condições diferentes: um grupo de pacientes com cirurgias por câncer, um outro de pacientes por cirurgias em geral e o terceiro na população que não passaria por nenhum procedimento.

“Foram feitas projeções estatísticas baseadas nessas informações, de quantas pessoas vacinadas precisariam para diminuir uma morte”, comenta Coimbra. O novo achado se deu em relação ao grupo de cirurgias, se comparado ao grupo da população em geral. “Foi observado que dentre os pacientes que precisam de cirurgia, aqueles que farão cirurgia por câncer é a que teve a melhor relação de prevenção de morte por COVID-19, indicando que pacientes que obrigatoriamente precisam de uma cirurgia oncológica, neste momento de pandemia, é um dos grupos que mais se beneficiaria da vacina antes da cirurgia”, afirma.

Os resultados mostraram que, ao imunizar pessoas em tratamento de câncer e que serão operadas, a possibilidade de diminuir o número de mortes é significativamente maior, se forem vacinados o mesmo número de indivíduos, que não passariam por operação.

A pesquisa também confirmou que o grupo composto por integrantes com faixa etária mais elevada teria a melhor relação de números de pessoas vacinadas para prevenir uma morte. “Quanto mais idade, ao vacinar, maior é a chance de prevenir a mortalidade por COVID-19”, explica. Ele relata que essa informação já era conhecida, tanto que a imunização começou com os mais velhos, exceto algumas prioridades que estão começando a surgir.

Coimbra comenta que o paciente que desenvolve COVID-19 após a cirurgia tem um risco de mortalidade muito maior, principalmente em procedimentos complexos, como os do aparelho digestivo. “A mortalidade dos pacientes que desenvolvem COVID-19 no pós-operatória de cirurgias complexas aumenta em 200% a 300%, então essa vacinação é muito importante”, assegura. Estes dados resultam de outra pesquisa do mesmo grupo colaborativo internacional, chamada COVIDsurg, nesta linha de investigação científica e que conduziu a pesquisa atual.

Coimbra explica que nos pacientes contaminados por SARS-CoV-2, o pulmão é um órgão-alvo importante, apesar de o vírus acometer severamente também os vasos sanguíneos e o rim.  Porém, o complicador está no fato de o pulmão ser muito exigido na recuperação de uma cirurgia de alta complexidade. “Daí o risco maior na recuperação porque além de ele estar recuperando da cirurgia, se ainda tiver mais uma agressão, que é o desenvolvimento da COVID-19 numa forma mais grave, os riscos de complicação, de aumentar a permanência hospitalar e mesmo de mortalidade são muito evidentes”, atesta Coimbra. 

O problema no Brasil e no mundo é a disponibilidade da vacina. O próprio estudo sugere que, à medida que a vacina estiver disponível para a maior parte da população, a vacinação para grupos de maior risco deve ser considerada, incluindo pacientes com doença pulmonar, diabéticos e obesos, dentre outros. “Neste caso, o estudo ajuda a entender que pacientes que precisam de tratamento cirúrgico inadiável e, principalmente, pacientes com câncer, devem ser considerados grupos prioritários para vacinação, pois eles teriam grande benefício nessa imunização prévia”, comenta.

O médico lembra que a cirurgia é um dos principais tratamentos para muitas doenças. No caso do câncer, 80% dos doentes precisam de algum procedimento cirúrgico, nos vários momentos do seu tratamento. Para o biênio 2020-2021, devem ser registrados 600 mil novos casos de câncer no país. Esse universo significa cerca de 480 mil pessoas em cirurgia, incluindo os vários graus de complexidade. Este número é muito maior, se consideradas as operações por causas diversas. “Por isso é extremamente importante falar da cirurgia em câncer e da vacinação pré-operatória desses pacientes”, afirma.


 A pesquisa 

A apresentação dos resultados é relevante para inserir pacientes com recomendação de cirurgia dentro dos grupos prioritários na vacinação, visto que, segundo o estudo, ao longo de 2021, a maioria dos governos priorizará o acesso à imunização para pessoas com maior risco de mortalidade por COVID-19. A pesquisa foi publicada recentemente no British Journal of Medicine, uma das mais conceituadas publicações sobre medicina no mundo.

Os cientistas acreditam que ao vacinar os pacientes que serão submetidos a cirurgias eletivas, será possível retomar esses procedimentos com maior segurança para os pacientes de câncer ou sem câncer, nas faixas etárias dos 18 aos 70 anos, homens ou mulheres. As operações agendadas com antecedência foram suspensas em diversas regiões do Brasil e do mundo, por conta da pressão sobre as unidades de saúde resultante da pandemia. No entanto, quando for possível retomar a realização desses procedimentos, a vacinação pré-operatória poderá imprimir maior segurança a essas atividades.

O estudo explorou o impacto da vacinação contra SARS-CoV-2 em pacientes adultos, nas faixas etárias de 18 a 49 anos, de 50 a 69 anos e a partir de 70 anos de idade, que passaram por qualquer tipo de cirurgia eletiva de internação. A pesquisa foi estratificada por faixa etária porque a mortalidade por COVID-19-19 está mais associada a pessoas com idade avançada.

No estudo foi definido como qualquer diagnóstico de SARS-CoV-2 feito após a cirurgia, até e incluindo o dia 30° pós-operatório, em pacientes com e sem sintomas. Os pesquisadores buscaram definir o número necessário para vacinar (NNV) para prevenir uma morte relacionada à COVID-19-19 ao longo de um ano, considerando que os pacientes cirúrgicos seriam imunizados antes da operação. O NNV é uma métrica usada na avaliação de vacinas e na elaboração de políticas de imunização. A estratificação de cirurgias de câncer e sem câncer foi adotada porque são diferentes a priorização e o planejamento desses dois grupos de procedimentos.

Sobre a eficácia da vacina, o artigo resultante do estudo informa que “nenhuma morte por COVID-19-19 foi relatada além de uma semana após a vacinação contra a SARS-CoV-2 nos estudos de fase III publicados até o momento. A análise principal foi, portanto, baseada na vacinação contra SARS-CoV-2 sendo 95% eficaz na prevenção de morte por COVID-19-19”.

O documento relata que as descobertas foram consistentes em todos os ambientes, independentemente das taxas de infecção da comunidade. A vacinação contra SARS-CoV-2, de acordo com a pesquisa, pode prevenir dezenas de milhares de mortes pós-operatórias relacionadas ao COVID-19-19. Ainda segundo o artigo, pesquisas futuras devem avaliar qual das vacinas licenciadas é mais eficaz em pacientes cirúrgicos e o momento ideal para a vacinação pré-operatória.


Instituto Integra Saúde

O Instituto Integra Saúde, sediado em São Paulo, Capital, é uma instituição de tratamento amplo em oncologia e saúde bucal, formada por médicos, equipe multidisciplinar, dentistas e pesquisadores altamente especializados, que atuam no cuidado integral dos pacientes e aplicação de terapias mais avançadas no diagnóstico e tratamento dos tumores de esôfago, estômago, duodeno, vesícula biliar, pâncreas, fígado, intestino delgado e cólon. A proposta do Instituto Integra Saúde é oferecer cuidado completo ao paciente nas áreas de oncologia clínica, cirurgia oncológica, odontologia e equipe multidisciplinar de apoio.

Cientes da relevância da prevenção e do diagnóstico precoce no sucesso de todos os tipos de tratamentos para os diversos tumores, o Instituto está intensificando suas ações de educação e divulgação de conhecimento, por meio do Integra Conhecimento. O objetivo é levar informações de maneira compreensível para que as pessoas possam se informar com conteúdo de qualidade. Com essa finalidade, terão início em maio de 2021 séries de lives sobre tumores do sistema digestivo e os avanços nas terapias e cirurgias.

Também faz parte do Instituto Integra Saúde uma equipe de dentistas especializados em diferentes áreas, que atua desde o nascimento dos dentes até cuidados que envolvem o acompanhamento de pacientes oncológicos, reabilitação oral, ortodontia, endodontia, periodontia e estética bucal, dentre outros.


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