Especialistas comentam sobre expectativas em relação à próxima reunião que definirá a taxa de juros
Na próxima semana, nos dias 4 e 5 de maio, o Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne para definir a nova taxa
de juros Selic. Na última reunião, que ocorreu em março, o comitê optou por
romper a mínima história de 2% e iniciar um clico de alta da taxa, que alcançou
o patamar de 2,75%. Segundo o boletim Focus divulgado no último dia 26 de
abril, a expectativa é que a Selic continue a subir e chegue até o final do ano
a 5,50%.
A inflação, um dos principais motivos que justificam a alta dos juros, continua
acelerada. Em março, por exemplo, o IPCA subiu 0,93%, a maior alta para o mês
desde 2015.
Para Rossano Oltramari, sócio e estrategista da 051 Capital, se
as expectativas inflacionárias continuarem a se deteriorar semana após semana,
o Banco Central pode ter que elevar os juros de forma mais intensa e prolongada
do que o previsto para o ano todo.
"O Banco Central não consegue mais segurar os juros em patamares baixos
e iniciou o ciclo de alta nos juros muito em função das pressões inflacionárias
e deterioração da inflação. Um dos principais componentes que impacta os juros
é o ciclo de alta das commodities, como soja, milho, trigo e carne, que estão
subindo fortemente no mundo todo, Tivemos uma desvalorização cambial muito
forte no último ano, o que traz pressão inflacionária grande, principalmente em
relação a componentes importados", explica.
Além disso, a vacinação caminhando a passos lentos, as medidas de restrição, a
taxa de desemprego alta no país e a insegurança em relação aos gastos fiscais
são assuntos que os especialistas do Banco Central observam com atenção: "Isso
não significa que os juros nunca mais vão voltar a cair, temos que observar os
dados de inflação para entendermos os próximos movimentos da política
monetária".
Para João Beck, sócio da BRA, escritório credenciado da XP
Investimentos, a alta do dólar também causa impacto na inflação, que se
deteriora e contribui para a elevação dos juros. "Em parte causada pelo
aumento de taxas de juros nos EUA e noutro espectro pelo aumento do risco
fiscal local. Os EUA vivem uma dobradinha de forte expectativa de crescimento
do PIB combinada com projeção alta de taxas de juros. O Brasil ainda se arrasta
no tema crescimento e reduziu muito a taxa de juros. É natural que o dinheiro saia
daqui. Isso tem que ser ajustado com dólar mais alto e taxa de juros mais alta.
Precisamos ficar baratos e remunerar bem o investidor para que ele não
saia", explica Beck.
Além disso, segundo João, tem contribuído para a inflação a retomada da
economia antes do esperado: "As cadeias de produção ficaram
desabastecidas. Com a descoberta e distribuição da vacina, a demanda por bens e
serviços sobe e as cadeias de produção desabastecidas aumentam preços. Preço de
commodities diversas subiram no passado recente".
Segundo Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, o
mercado entende que já passou a necessidade de manter os juros tão baixos nesse
momento de pressão inflacionária. "Vamos ver se, com a mudança de
patamares de juros, podemos trazer mais capital estrangeiro para dentro do país
e maior valorização para o real", completa.
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