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Escola tem papel fundamental na formação de cidadãos mais críticos e informados, dizem especialistas
Informações que chegam por todos os lados, na tela
do celular, no computador, pela televisão, podcasts, aplicativos de mensagem.
Estar conectado 24 horas por dia faz com que nem mesmo as crianças e jovens
estejam livres da disseminação desenfreada de notícias falsas. Embora as fake news
não sejam uma novidade do século XXI, hoje elas se espalham com muito mais
velocidade e com um alcance inédito.
Como a escola pode contribuir para que os
estudantes desenvolvam seu senso crítico e, assim, não sejam vítimas de
informações mentirosas e manipuladoras? De acordo com especialistas no tema,
isso é possível com o desenvolvimento de uma análise crítica, que as pessoas só
têm condições de exercitar a partir do domínio de competências e habilidades de
leitura e escrita que estão no cerne da formação de leitores críticos e,
portanto, mais preparados para identificar as armadilhas das fake news.
Prevista na nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a Educação Midiática é
a abordagem que permite a construção dessa aprendizagem sobre o que é e como se
produz a informação, com o objetivo de combater a desinformação.
Para a consultora pedagógica do Sistema de Ensino
Aprende Brasil, Yasmim Forte, um dos principais objetivos da escola atualmente
deve ser oferecer uma preparação que permita ao aluno analisar situações
complexas, desenvolver a capacidade de olhar uma informação e fazer uma
interpretação coerente. É preciso que ele enxergue o que está por trás da
notícia, o que ela reflete, qual a influência do contexto, da cultura local e a
quem ela interessa. "A BNCC coloca a cultura digital como uma competência
geral. Um dos desafios da Educação como um todo é garantir que o aluno adquira
a capacidade de ter diferentes olhares sobre um mesmo assunto e, para isso,
precisamos envolver todas as áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática,
Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais. A Educação Midiática é um
caminho tão importante para a escola percorrer com os alunos porque ela faz
parte da vida do aluno o tempo todo", destaca Yasmim.
E, para que a Educação consiga formar cidadãos com
independência e senso crítico para decidir sobre o consumo de qualquer tipo de
informação, Yasmim defende que aprender a fazer essa curadoria deve ser uma
prática já na infância. "O ideal é trabalhar essa abordagem em todos os
níveis do ensino, promovendo uma construção - permeada tanto pela análise dos
meios de comunicação, das diferentes mídias, como também por um aprendizado
mediado pela tecnologia", afirma. Educadores indicam algumas iniciativas
simples de Educação Midiática para serem trabalhadas em sala de aula ou mesmo
em casa..
1. Como é feito um jornal?
Conhecer o trabalho da imprensa profissional é
fundamental para que qualquer pessoa entenda melhor os processos de checagem e
apuração dos fatos. Até mesmo as crianças mais novas podem participar de
projetos de jornais laboratórios. A Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo, por exemplo, mantém, há vários anos, o programa Imprensa Jovem, que
permite que crianças e adolescentes produzam suas próprias notícias e, assim,
possam se tornar agentes ativos da construção de informações.
Daniela Machado, jornalista e coordenadora do
Educamídia - programa de Educação Midiática do Instituto Palavra Aberta -,
explica que “a escola tem muito a ajudar para reconstruir a ponte entre a
sociedade e a imprensa, que está tão desgastada. É preciso colocar esses jovens
não apenas no papel de consumidores, mas também de produtores de informação. É
importante mesclar atividades em que eles analisam criticamente, mas também em
que se colocam no papel de produtores”.
2. Verdadeiro ou falso?
Muito utilizada em avaliações, a brincadeira de
classificar informações entre as categorias “verdadeiro” ou “falso” é uma
ferramenta importante para treinar leitores mais atentos. Trata-se de um exercício
simples, que apresenta uma série de notícias às crianças e pede que elas
apontem quais consideram reais e quais consideram enganosas. Durante a
atividade, é possível mostrar e fazer com que elas reflitam sobre
características típicas das fake news e aprendam a identificar
peças potencialmente mentirosas.
Em um mundo cada vez mais conectado, impedir que os
estudantes tenham contato com informações falsas é impossível, mas eles saberão
melhor como procurar boas fontes de informação se forem acostumados a isso.
Para Alexandre Le Voci Sayad, diretor da Zeitgeist, co-chairman do think tank
GAPMIL, da UNESCO, e apresentador do programa Idade Mídia, do Canal Futura, “a
ideia é qualificar o acesso à informação, que significa encontrar o que está
baseado em evidências, saber diferenciar opinião pessoal de fatos, distinguir
ironia e humor de uma afirmação de fato, entre outros”. Ele ressalta que isso
passa por desenvolver habilidades como curadoria, busca e seleção de
fontes, e também pela prática de pesquisa. Ele lembra que “nada disso
passa pela censura ou proibição, isso está fora de jogo. Esse exercício passa,
sim, pela Educação, pela qualificação e pela autorregulação”, enumera
3. Eu só acredito vendo
A leitura de imagens também é muito importante no
cotidiano do mundo contemporâneo. Muitas vezes, uma imagem pode trazer uma
informação falsa, fora de contexto ou até mesmo antiga. Analisar criticamente
imagens e incentivar a leitura crítica é um exercício que pode ser feito com
crianças de todas as idades, até mesmo na Educação Infantil. Uma das maneiras
de fazer isso é mostrando às crianças diferentes imagens e pedindo que elas
discorram sobre o que estão vendo.
Em um segundo momento, as crianças são apresentadas
ao contexto em que cada imagem foi feita, à história completa da imagem. A
seguir, elas podem voltar a compartilhar suas percepções sobre as fotografias
e, com a ajuda do professor, refletir sobre as mudanças de opinião entre a
primeira e a segunda rodadas de análise. “As pessoas precisam estar preparadas
para fazer essa curadoria. Cabe a nós sermos os curadores da nossa experiência
nesse universo da informação, que é muito poderoso, mas exige esse preparo”,
destaca Daniela. Quanto antes as crianças começarem a ser preparadas para
integrar esse mundo repleto de informações, melhor será sua vivência
nele.
Alexandre e Daniela falam mais sobre o assunto no
21º episódio do podcast PodAprender, cujo tema é “Educação
Midiática no combate às fake news”. O programa pode ser
ouvido no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br),
nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos
principais agregadores de podcasts disponíveis no Brasil.
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