Foi-se o tempo em que a figura de liderança e tomada de decisões dentro das organizações vestia apenas terno e gravata. O mundo está mudando e não há dúvida de que esse caminho vem sendo construído com muita luta, movimentos e debates. O processo de crescimento da gestão feminina nas empresas tem papel fundamental para inspirar e fortalecer a voz da mulher no mercado de trabalho e na sociedade. Apesar de caminharmos a passos lentos, é possível sentir as transformações geradas nesse cenário de liderança exercida por mulheres.
O contexto atual registra crescimento, mas
infelizmente não é refletido no todo. Dados da pesquisa “Women in Business
2020”, realizada pelo instituto Grant Thornton International, apontam que
homens ainda representam a enorme maioria nos cargos de liderança. Aliás,
quanto mais alto o cargo, menor é a presença de mulheres. Se observarmos as
funções de mais alto nível, apenas 15% das corporações possuem uma mulher no
topo. De fato, ainda falta muito para que os papéis de liderança sejam
equilibrados nas mãos de homens e mulheres.
Pluralidade e equidade são assuntos tão presentes
nas pautas atuais. O barulho desses movimentos é considerável e cada vez mais
forte. Ainda assim, sabemos que temos um longo caminho a percorrer. Se levarmos
essas discussões para o campo da Educação, deparamo-nos com outras questões
também muito desafiadoras, que merecem nossa atenção e reflexão. No aspecto
pedagógico, a escola é hoje um espaço majoritariamente de gestão feminina, mas,
infelizmente, ainda é um dos ambientes que conserva comportamentos
contraditórios e de desequilíbrio entre homens e mulheres.
Precisamos pensar sobre o “currículo oculto” nas
práticas e narrativas do dia a dia da escola, que podem reforçar essas
diferenças de gênero. Não podemos generalizar, mas é comum vermos em algumas
escolas meninas sendo incentivadas a serem quietas e reservadas, enquanto os
meninos devem ter mais iniciativa. Nos momentos das trocas entre alunos e
educadores sobre escolhas de profissões, pode ainda estar presente uma
narrativa sobre quais ocupações são adequadas para mulheres, de acordo com os
espaços culturalmente aceitos para elas. Enquanto meninas são estimuladas a
desenvolver a afetividade, o cuidado e a sensibilidade, garotos desenvolvem
habilidades de raciocínio lógico e precisão.
Essas diferenças se manifestam de forma velada,
sobretudo nos comportamentos corriqueiros do dia a dia. Contudo, a escola deve
ser um espaço de transformação. Se, historicamente, tem colaborado para que os
comportamentos mencionados sobrevivam, ela também tem o poderoso potencial de
desconstruir essa cultura. É terreno fértil para promoção da equidade.
Refletindo sobre esses comportamentos tão presentes
no cotidiano, percebemos o quanto são banalizados e absorvidos pela tradição.
São o resultado do que, ao longo da história, entendemos como permitido – e da
naturalização daquilo que a sociedade construiu como correto. E esse é o ponto!
Não podemos entender nem aceitar a tradição como justificativa para que a
mulher não realize suas escolhas, tome suas decisões e alcance seus objetivos.
A começar pela transformação desses pequenos hábitos, temos o poder de incentivar
organizações a serem mais equilibradas e mulheres a exercerem todo o seu
potencial.
Claudia Saad - gerente
pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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