Um estudo realizado pela Younder, em parceria com o Instituto Mobih, por meio de pesquisa quantitativa on-line feita com 203 mulheres brasileiras e outros recortes, traz um panorama das dificuldades enfrentadas diariamente pelas mulheres na mobilidade. O levantamento conta com o apoio de especialistas em tecnologia para educação do trânsito, Mobilidade, Diversidade e Inclusão, e tem como objetivo oferecer insumos para embasar argumentos e ideias que promovam reflexões e mudanças positivas para o público feminino.
A mobilidade deve ser feita por
pessoas, para pessoas. Mas na prática não é bem assim. As nuances dentro dos
grupos sociais não são levadas em consideração, especialmente as relacionadas a
gênero. A amostra indica que 40% das mulheres vivem em residência com somente
um carro, sendo que, em 55% das oportunidades o homem fica com o veículo nesses
lares. Além disso, 68% dos homens que ficam com o automóvel único possuem relações
conjugais, enquanto 32% são familiares.
Neste contexto, um estudo
realizado pela Ipsos no ano passado aponta que os motivos pelos quais homens e
mulheres optam por ter carro são totalmente diferentes. Enquanto 45% dos homens
optam pelo carro porque querem ter mais controle sobre chegada e saída, 40% das
mulheres optam pelo próprio carro porque preferem manter sua privacidade. No
entanto, a realidade é que as mulheres brasileiras utilizam mais ônibus para se
locomover: 50% contra 42% dos homens.
Segundo a CEO da Younder,
Claudia de Moraes, a crença de que as mulheres têm menos direitos do que os
homens, faz parte da nossa construção social e cultural. Isso, obviamente, reflete na mobilidade da mulher. “Do mesmo modo que nossas avós criaram nossas mães, elas
nos criaram e nós vamos criando nossos filhos. Esquecemos de
questionar pois achamos normal sentir medo. Temos medo de andar pelas ruas da
cidade, de usar o transporte público, de chamar um motorista homem no
aplicativo, de nos divertirmos nas festas de rua em dias de Carnaval”, explica
Claudia.
Assédio
Por utilizarem menos o carro
próprio, as mulheres são mais ativas na utilização de aplicativos de
transporte. Segundo levantamento feito pela Consultoria BCG no último ano,
60% das mulheres utilizaram aplicativos ao menos uma vez
por semana. No entanto, seja no transporte público, por aplicativo ou em táxis,
a privacidade não é respeitada.
Das brasileiras com mais de 18
anos, 97% afirmaram que já passaram por situações de assédio sexual no
transporte público, por aplicativo ou em táxis. Os dados são dos Institutos
Patrícia Galvão e Locomotiva e apontam que 71% das mulheres conhece alguma
mulher que já sofreu assédio em espaço público.
Além dos problemas com assédio
em transportes, existem questões que deixam as mulheres mais vulneráveis como a
falta de iluminação nas ruas para os trajetos noturnos, entre outros. “A
mobilidade feminina deve ser pensada urgentemente como questão de ordem pública
e, também, de responsabilidade privada. Quando analisamos a estrutura da
sociedade é fácil perceber que ela não foi pensada para todos os agentes que a
compõem. Analisando as dificuldades a partir de uma perspectiva de gênero, os
obstáculos começam ao sair de casa: calçadas esburacadas, ruas sem sinalização,
falta de iluminação em muitos locais. Desde 2016, decidi não utilizar automóvel
e passei a usar transporte público e aplicativos, por isso posso listar sem
medo as inúmeras questões que me atravessam antes de virar a chave do meu
apartamento antes de sair para os meus compromissos”, argumenta Ana Bavon,
consultora, treinadora e palestrante em Diversidade e Inclusão.
Mulher ao volante
O Relatório Anual da Seguradora
Líder-DPVAT, com dados de 2019, revela que a maior incidência de indenizações
pagas no Brasil foi para vítimas do sexo masculino, mantendo o mesmo
comportamento dos anos anteriores. A taxa de destruição indenizatória foi de
75% para homens e 25% para mulheres.
A especialista em segurança e
educação no trânsito, Roberta Torres, acredita que o debate é o melhor caminho
para o fim do preconceito contra as mulheres na mobilidade. “Embora os dados
estatísticos demonstrem exatamente o contrário, crescemos ouvindo o ditado
‘Mulher ao volante, perigo constante’ e, por trás dele, existe uma cultura de
gênero que precisa ser cessada. Levantar este debate é essencial para um
trânsito mais humano e justo”, sugere Torres.
Tecnologia em prol das mulheres
Para Claudia de Moraes, em
tempos de inovação, as empresas e poder público
deveriam investir mais em tecnologia, comunicação e treinamentos. “Criar canais
de denúncias sobre assédio, que podem inclusive, fazer parte dos
aplicativos tão comuns para a solicitação dos serviços que usamos diariamente,
implementar sistemas de Inteligência artificial no transporte público, nas
ruas, em locais públicos para identificar assediadores, desenvolver campanhas
de conscientização, como também treinar os funcionários e prestadores de
serviços sobre o tema, explicando o que é, como evitar e agir em situações de
assédio às mulheres e às minorias”, finaliza. Recentemente, a
Younder desenvolveu um pacote de cursos on-line e presencial para a 99, com
enfoque em tolerância e cidadania, para seus motoristas cadastrados. Ao todo,
foram criados cinco módulos educacionais: assédio, racismo, diversidade sexual,
respeito e boas práticas de atendimento.
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