Ao realizar o procedimento, pacientes reduzem os riscos de desenvolver a forma grave da Covid-19
Com novos protocolos durante o pré, intra e
pós-operatório, as cirurgias bariátricas se tornaram importantes aliadas no
combate à forma grave da Covid-19. Como a obesidade é um dos principais fatores
de risco para a doença, a perda de peso gerada pelo procedimento diminui
significativamente as chances de o paciente precisar de uma UTI (Unidade de
Terapia Intensiva). Essa relação entre obesidade e Covid-19 fez, inclusive, que
as cirurgias bariátricas fossem classificadas como eletivas essenciais, ou
seja, que podem ser realizadas durante toda a pandemia.
“É muito comum as pessoas chegarem ao consultório
com medo de realizar a cirurgia bariátrica nesse período. A maior preocupação é
com a contaminação durante o processo, principalmente, no período de
internação”, explica o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho, membro titular
da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) e
presidente do Hospital e Maternidade Galileo. “Mas nós fizemos muitas
alterações nos protocolos, com o objetivo de prevenir a Covid-19. Portanto, os
riscos de uma pessoa ficar obesa são muito maiores que os de fazer a cirurgia
bariátrica durante a pandemia”, explica.
O cirurgião destaca que já há estudos que apontam
que a obesidade, mesmo sem doenças associadas, eleva significativamente os
riscos de o paciente desenvolver a forma grave da Covid-19. “O organismo do
obeso é um organismo comprometido, um organismo que tem uma resposta
imunológica menor. Além disso, o vírus acaba ficando mais tempo no tecido
adiposo, que serve como um reservatório para ele”, observa. “Outro ponto que
precisa ser considerado é a função respiratória, que já tende a ser prejudicada
no paciente obeso, e sofre ainda mais com a ação do coronavírus”, destaca o
cirurgião.
De forma geral, quando o paciente realiza uma
cirurgia bariátrica, ele costuma perder cerca de 10% do peso inicial logo no
primeiro mês. Depois, mais 10% até o terceiro mês e mais 10% até o 6º mês. Por
volta de um ano de pós-operatório, ele terá perdido cerca de 30% do seu peso
inicial. “Isso é uma estimativa. Depende muito da técnica utilizada e do
comprometimento do paciente, mas é uma redução de peso muito importante, que
reflete diretamente na saúde geral da pessoa, inclusive com o controle e até
cura de algumas comorbidades, que também são fatores de risco para Covid-19,
como hipertensão arterial e diabetes”, comenta Concon.
Sobre as mudanças nos protocolos, ele ressalta que
elas já começam no pré-operatório, quando o paciente precisa se consultar com
vários especialistas e ser submetido a diversos exames. “A maioria das clínicas
e consultórios criaram protocolos próprios. Nós, por exemplo, estamos agendando
consultas com intervalos maiores para evitar um número grande de pacientes na
recepção. Todos devem estar com máscaras e higienizar as mãos com álcool em
gel. Eles também passam por uma triagem por telefone, em que respondem a várias
perguntas para descartar qualquer sintoma e, no dia da consulta, passam por
outra triagem presencial. Mesmo que não apresentem nenhum sintoma, são
submetidos a um teste de Covid-19 uma semana antes da cirurgia e, sendo
negativo, são orientados a ficarem de quarentena para evitar uma possível contaminação
até o dia do procedimento. Se positivo, a cirurgia é adiada”, explica. Na fase
pré-operatória, os pacientes também precisam participar de uma reunião para
tirar dúvidas sobre a cirurgia. “Essa parte do processo também foi adaptada e,
agora, nós temos essas reuniões gravadas para que possam ser assistidas de
casa”, diz.
Na fase intra-hospitalar, é importante que o
hospital tenha uma área “Free Covid”. Além disso, toda a equipe precisa estar
paramentada com EPI´s (Equipamentos de Proteção Individual) como se fosse
operar um paciente contaminado. “É uma garantia para os profissionais e para o
próprio paciente”, reforça o médico. No pós-operatório, são tomados os mesmos
cuidados da fase pré-operatória, com rígidos protocolos de segurança durante as
consultas de retorno.
A SBCBM também emitiu um comunicado a respeito e
orienta que pacientes com mais de 60 anos, contaminados ou que já tenham
indicação pré-cirúrgica de utilização de UTI não sejam operados neste momento.
“Pacientes com mais de 60 anos são do principal grupo de risco. Portanto, não é
recomendável que sejam submetidos a um procedimento cirúrgico nessas
circunstâncias. Já os pacientes contaminados não podem ser operados porque,
além dos riscos de contaminação de toda a equipe e de demais pacientes, não
conseguimos prever como será sua evolução. Portanto, eles precisam, primeiro,
tratar a doença. Em casos normais, esperamos 28 dias para fazer o procedimento
após a confirmação da COVID-19. Mas, se tratando de paciente obeso, a cirurgia
só pode ser realizada após dois ou três meses, dependendo da gravidade da
Covid”, reforça o cirurgião.
Dr. Admar Concon Filho - cirurgião bariátrico,
cirurgião do aparelho digestivo e médico endoscopista. Palestrante
internacional, presidente do Hospital e Maternidade Galileo e fundador e
coordenador do Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos. Também é membro
titular e especialista pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Colégio
Brasileiro de Cirurgiões e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, além
de membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e
membro da International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic
Disorders. CRM – 53.577.
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