A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença autoimune que acomete principalmente mulheres entre 30-50 anos, ocasionando dor e inflamação nas articulações das mãos, punhos, joelhos e tornozelos. Se não diagnosticada e tratada adequadamente, leva à incapacidade e comprometimento da qualidade de vida.
Não se sabe ao certo porque a AR ocorre.
Habitualmente, o sistema imune tem a capacidade de distinguir o próprio do
não-próprio, ou seja, de tolerar os antígenos do hospedeiro (tolerância ao
próprio) e responder a antígenos estranhos. No entanto, na AR, há perda da
tolerância ao próprio, de forma que o sistema imune começa a reconhecer
estruturas do organismo como estranhas e passa a atacar a si mesmo, levando a
um processo de inflamação das articulações. Acredita-se que fatores ambientais
possam ser gatilhos para o desenvolvimento da doença em pessoas
predispostas geneticamente.
Pacientes com AR apresentam vários estágios da
doença, desde a fase pré-clínica (em que é detectada apenas a presença de
auto-anticorpos no sangue, sem nenhum sintoma), fase precoce (sintomas iniciais
e inespecíficos) até a doença já estabelecida. O primeiro ano da doença é considerado
decisivo, por ser a janela de oportunidade terapêutica, ou seja, o momento
ideal em que a intervenção farmacológica pode frear a cascata de inflamação,
evitando dano às articulações e, consequentemente, dores crônicas, sequelas e
incapacidade.
A partir do conhecimento de várias interleucinas e
citocinas (substâncias produzidas pelas nossas células de defesa) envolvidas no
processo inflamatório da artrite reumatoide e, do avanço de tecnologias
aplicadas à medicina, foi possível desenvolver medicamentos alvo específicos,
os imunobiológicos. Os imunobiológicos são capazes de frear, com bons
resultados, a progressão da artrite reumatoide, incluindo os casos em que não
houve resposta com o tratamento convencional.
Recentemente, AR ganhou destaque, quando alguns dos
seus medicamentos foram estudados em pacientes com COVID-19. Na infecção por
coronavírus SARS-CoV-2, pode ocorrer uma reação inflamatória sistêmica (em todo
o organismo) e na membrana do alveolo pulmonar, com a presença de moléculas que
também participam da inflamação das articulações na AR. Partindo desse
conhecimento, alguns imunobiológicos utilizados na AR, como o tocilizumabe,
foram incluidos nos estudos de pacientes com COVID-19.
O diagnóstico precoce ainda é um grande desafio na
AR, por vários motivos, entre eles o acesso ao reumatologista. Infelizmente,
muitos pacientes chegam aos consultórios com anos de doença e perdendo a tal
janela de oportunidade já comentada acima.
De todo modo, as pesquisas avançam a cada dia e, no
futuro, há a expectativa de que seja possível bloquear o desenvolvimento da
doença ainda na fase pré-clínica, isto é, evitar a perda da tolerância
imunológica e a produção de auto-anticorpos, na tentativa de reiniciar o
sistema imune e reprogramá-lo. Para isso, necessitaremos de inovações nas áreas
de genômica e terapia gênica, exames cada vez mais acurados e, é claro, o
principal, ampliação do conhecimento, com treinamento de reumatologistas
qualificados.
Mariana Ortega Perez - faz parte do corpo médico e
especialista da Reumatologia Cobra. Formada em Medicina pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Mariana Ortega Perez tem residência
em Clínica Médica (PUCSP) e em Reumatologia (Hospital das Clínicas, FMUSP).
Atuou como preceptora e professora na PUCSP e tem ampla experiência no
tratamento de pacientes com doenças reumáticas, assim como na área de ensino e
pesquisa. Atualmente, desenvolve seu doutorado na Faculdade de Medicina da USP,
com foco em artrite reumatoide, osteoporose e metabolismo ósseo.
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