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sexta-feira, 15 de maio de 2020

O desafio do ensino superior frente as restrições de atividades presenciais



O setor de educação será um dos que precisarão se reinventar para conseguir superar os desafios impostos pela pandemia mundial

Richard Vasconcelos: “É preciso assumir um olhar diferente para o novo ensinar.O ideal é desenvolver tarefas e desafios que estimulem o senso crítico do estudante, pois o maior desafio do ensino online não é criar conteúdo, mas gerar raciocínio”



Com os casos confirmados do coronavírus ainda crescentes no Brasil e a severa restrição do funcionamento de negócios que provocam a aglomeração de pessoas, o setor da educação será um dos que precisarão se reinventar como modelo de negócios. A incerteza de como e quando se dará o desfecho desta pandemia coloca em xeque o ensino presencial e, cada vez mais, as instituições precisarão agregar valor ao ensino a distância para justificar, e conseguir manter, o valor das mensalidades.
 
Enquanto os cursos EAD conseguem manter uma mensalidade mais baixa, devido a ausência de custos fixos relacionados a uma estrutura presencial - como aluguel, manutenção, limpeza e contas de luz, água e gás - os negócios presenciais enfrentam um grande desafio para agregar valor ao aluno que optou por esta modalidade e paga a mais por isso. Sem a possibilidade de oferecer a relação olho no olho com o professor e os colegas, a saída para evitar as solicitações de descontos na mensalidade, a transferência para um curso originalmente online ou até mesmo o interrompimento temporário da matrícula vai muito além do que digitalizar o presencial e investir em recursos tecnológicos. Agora é hora de inovar para conseguir agregar valor ao conteúdo. Mas como fazer isso? A resposta está na mudança na metodologia de ensino e no investimento no sucesso do aluno.  
 
Uma pesquisa realizada pela UCLA com 800 mil calouros indicou que 88% deles estavam na universidade para conseguir um emprego melhor. Isso indica que é  hora das instituições desenvolverem cursos que vão além de apenas entregar diploma, mas que entreguem, principalmente, o desenvolvimento profissional e a empregabilidade. 
 
Se a instituição de ensino não tiver uma visão clara de seu valor e não oferecer extras aos alunos em tempos de pandemia, ela vai perder a sua renda do presencial para as opções online. Também é preciso assumir um olhar diferente para o novo ensinar. Muitas vezes o aluno assiste a uma aula feita em estúdio, com duração entre duas e três horas, e depois responde a uma pergunta no fórum só para dizer que teve uma aprendizagem colaborativa. Este EAD como vemos hoje ainda é muito passivo. O ideal é desenvolver tarefas que estimulem o senso crítico do estudante, pois o maior desafio do ensino moderno é gerar raciocínio. 
 
É hora de pensar não só na utilização de ferramentas que criem uma aproximação e colaboração entre alunos e professor, mas também incluir na grade curricular o desenvolvimento de soft skills, como a criatividade, o raciocínio crítico e a inteligência emocional, além de trazer conteúdos práticos que o mercado está demandando a partir do desenvolvimento de seminários voltados para o desenvolvimento de carreira, lives com profissionais de peso mostrando o seu conhecimento prático do mercado, conexão com empresas para a oferta de estágios e empregos bem como orientações sobre técnicas de entrevista e busca de oportunidades.   
O fato é que a guinada nos formatos é fundamental para o aquecimento da economia e do fortalecimento do Brasil como player no cenário global. O momento atual é propício para repensar o formato de ensino e oferecer diferenciais que vão além do diploma. Apesar do grande trabalho que esta mudança repentina provoca, os frutos podem ser permanentes, pois se continuarmos ensinando das mesmas formas do passado, teremos uma grande dificuldade em nos manter competitivos como país e os brasileiros terão mais dificuldades em conseguir emprego no futuro. É hora de mudar, não só para reinventar os negócios em tempos de pandemia, mas para fazê-los crescer quando a crise passar.



Richard Vasconcelos - CEO da LEO Learning Brasil, uma das principais empresas de educação corporativa digital, mestre em Tecnologias Educacionais pela University of Oxford e atua há 15 anos no mercado de educação. Neto do fundador da universidade privada Estácio, atuou na implantação do ensino à distância na instituição até 2009. Fundador e investidor de outras startups de tecnologia educacional, foi CEO e sócio da rede de escolas de inglês Britannia, vendida para a Cultura Inglesa em 2018. 
  

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