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De
8 a 14 de março é realizada a Semana Mundial do Glaucoma. A ação é uma iniciativa
da Associação Mundial de Glaucoma e tem como objetivo de alertar a população
sobre os riscos que a doença causa à visão. O glaucoma é uma doença
multifatorial que atinge o nervo óptico e, se não tratada, pode causar perda de
visão. A doença é assintomática, ou seja, ocorre sem a manifestação de sintomas
perceptíveis. “Por isso, é importante realizar exames oftalmológicos
periodicamente, já que o problema pode piorar com o passar do tempo”, alerta a
médica oftalmologista Dra. Heloisa Russ, especialista em glaucoma.
Dra.
Heloisa explica que a doença é causada principalmente pela elevação da pressão
intraocular, que ocorre quando há acúmulo de fluido no olho (que tem como
função carregar nutrientes para o cristalino e para a córnea e manter a tensão
ocular), seja pelo aumento da produção ou diminuição da drenagem. “Quando não
tratado adequadamente, o glaucoma pode levar à cegueira, enfatiza a
oftalmologista.
A
doença ocular é considerada a principal causa de cegueira irreversível no
mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que são registrados
2,4 milhões de novos casos de glaucoma anualmente, o que totaliza 60 milhões de
pessoas no mundo. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma, o
problema acomete 2% dos brasileiros com idade superior a 40 anos, resultando em
cerca de um milhão de pessoas. “O problema não atinge somente os adultos,
crianças também podem ser acometidas pela doença, porém os casos são mais
raros, frisa a médica.
Diagnóstico
A
oftalmologista explica que é feito por meio da medida de pressão intraocular
(tonometria) e da avaliação do nervo óptico. A documentação do nervo óptico
deve ser realizada pela retinografia e/ou estereofotografia de papila.
“Associa-se ainda exames para avaliação anatômico-estrutural como o OCT
(tomografia de coerência óptica) que avalia a camada de fibras nervosas e
funcionais, como a campimetria computadorizada”, complementa Dra. Heloisa.
Tratamento
Pode
ser realizado por meio de colírios, laser ou cirurgia. O objetivo do tratamento
consiste em reduzir a pressão intraocular. “Quando os colírios ou o laser não
são suficientes para alcançar o controle da pressão ocular, o médico pode
sugerir a realização de cirurgia”, ressalta a médica.
Dra.
Heloisa explica que o tratamento de glaucoma tem como objetivo reduzir a
pressão ocular por meio do uso de colírios, cirurgia ou com laser. Dentre os
procedimentos disponíveis, a médica destaca a trabeculoplastia seletiva a laser
(SLT) que hoje é citada como a primeira escolha no tratamento de glaucoma de ângulo
aberto em alguns países dado o baixo índice de complicações e eficácia do
procedimento em glaucoma de ângulo aberto.
Outra
opção é o micropulso (cyclo G6), trata-se de um mecanismo moderno, é uma nova
opção de tratamento ao arsenal terapêutico do glaucoma, agregando segurança,
baixa agressividade e possibilidade de repetição. O método é minimamente
invasivo e indolor. “O processo cirúrgico foi desenvolvido recentemente, é uma
inovação na forma de tratar o glaucoma que necessita de cirurgia”, enfatiza a
especialista.
Com
ele ocorre uma redução da produção do humor aquoso (líquido que é responsável
por dar a pressão ao olho) e supostamente associação de mecanismo de aumento de
sua drenagem e com isso, obtém-se a redução da pressão intraocular de maneira mais
natural. “O processo é mais seguro, já que dispensa cortes, é rápido (dura
cerca de 10 minutos) e ainda minimiza os riscos de inflamação pós-cirúrgica”,
ressalta a oftalmologista.
Além
disso, pode ser realizado em vários estágios da doença, preferencialmente em
ângulo aberto, mas também é possível em ângulo fechado e formas refratárias,
inclusive em crianças dada a segurança e possibilidade de repetição e ainda
proporciona ao paciente um retorno mais rápido às atividades cotidianas.
Fatores
de risco associados ao glaucoma:
-
miopia elevada;
-
pressão intraocular elevada;
-
idade acima de 40 anos;
-
negros são mais propensos a desenvolver glaucoma do que pessoas caucasianas,
asiáticas e latinas;
-
histórico familiar de glaucoma pode elevar as chances de um indivíduo
desenvolver a doença também;
-
doenças no olho, como alguns tumores, descolamento de retina e inflamações,
aumentam o risco de glaucoma;
-
fazer uso por muito tempo de medicamentos à base de corticosteroides;
-
espessura corneana fina.
Além
disso, entre os principais fatores de risco que podem levar à doença estão
diabetes, problemas cardíacos, distúrbios vasculares (hipertensão e hipotensão
arterial), hipertireoidismo e apneia do sono. “Estudos apontam que pessoas
portadoras de diabetes e hipertensão arterial estão mais propensas ao
glaucoma”, destaca Dra. Heloisa.
Se
ocorrer ainda dores nos olhos, visão distorcida, aureolas de arco-íris ao redor
das luzes, dor de cabeça, náusea e vômito, deve-se procurar um oftalmologista.
Tipos de glaucoma
Glaucoma primário de ângulo aberto: é responsável por quase 90% dos casos de glaucoma e é frequentemente assintomático, ou seja, não há sintomas até um estágio avançado, a menos que o paciente visite o oftalmologista com regularidade. A pressão intraocular sobe lentamente devido uma drenagem do líquido ocular menos eficiente que o normal.
Glaucoma
de pressão normal:
também conhecido como glaucoma de baixa pressão, é uma forma de glaucoma em que
ocorre dano ao nervo óptico, sem elevação da pressão intraocular a níveis
superiores do considerado normal. As causas deste tipo de glaucoma ainda são
desconhecidas, porém, entre os que apresentam maior risco para esta forma de
glaucoma, estão: pessoas com história familiar de glaucoma de pressão normal,
pessoas de descendência japonesa e pessoas com história de doença
cardiovascular.
Glaucoma
de ângulo fechado:
também conhecido como glaucoma de ângulo estreito. Neste tipo de glaucoma, o
ângulo entre a íris e a córnea é mais estreito do que o normal, o que dificulta
a drenagem do líquido intraocular, causando aumento súbito da pressão dentro do
olho. Os sintomas de glaucoma de ângulo fechado podem incluir dores de cabeça,
dor nos olhos, náuseas, arco-íris em torno de luzes à noite e visão muito turva,
de aparição intermitente.
Glaucoma
congênito:
acomete bebês e crianças pequenas e geralmente é diagnosticado dentro do
primeiro ano de vida. Esta é uma condição rara que pode ser herdada ou causada
pelo desenvolvimento incorreto do sistema de drenagem do olho antes do
nascimento. Isto conduz a uma pressão intraocular aumentada, que por sua vez
danifica o nervo óptico. Os sintomas do glaucoma congênito incluem olhos
aumentados (conhecido como buftalmo), lacrimejamento excessivo, opacidade da
córnea e fotossensibilidade (sensibilidade à luz).
Glaucoma
secundário:
é quando o glaucoma tem origem em outra doença que causa ou contribui para
aumento da pressão intraocular, resultando em dano do nervo óptico e perda de
visão. Pode ocorrer como resultado de trauma ocular, inflamação, tumor, uso de
medicamentos oculares ou sistêmicos, ou em casos avançados de catarata ou
diabetes.
Dra. Heloisa Russ - É graduada em Medicina pela UFPR,
fez Residência Médica em Oftalmologia pela Unicamp, onde também realizou
Mestrado e Sub-especialização em Glaucoma. Em seguida, se tornou Doutora pela
USP e Pós-Doutora pela Unifesp. A médica oftalmologista é membro de diversos
Conselhos e Associações, dentre os quais estão o Conselho Brasileiro de
Oftalmologia, a Sociedade Latino-Americana de Glaucoma, a ARVO (The Association
for Research in Vision and Ophthalmology) e a Sociedade Brasileira de Glaucoma.
Dra. Heloisa Russ é também autora de artigos científicos e capítulos de livros
na área de Glaucoma e Oftalmologia Social. Além disso, é professora associada
da pós-graduação da UFPR e da Unifesp.
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