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terça-feira, 3 de março de 2020

Dia Mundial da Obesidade




Além do peso: compulsão alimentar precisa ser identificada e tratada

·        Obsessão por dietas e restrição alimentar podem ocasionar compulsão e gerar o famoso ”efeito sanfona”.

A partir deste ano, o Dia Mundial da Obesidade acontecerá em 4 de março. Essa data é um alerta para essa doença que é também um grande fator de risco para outras doenças graves como diabetes e câncer¹. No Brasil, o Ministério da Saúde aponta que o número de obesos aumentou 67,8% entre 2006 e 2018².
Considerada uma doença crônica pela OMS, os pacientes obesos são alvo de estigmas e preconceitos por questões físicas, sem que sejam considerados possíveis portadores de várias comorbidades associadas ao excesso de peso. “Muitas pessoas se preocupam apenas em emagrecer, muitas vezes por uma questão puramente estética, sem dar importância às graves consequências de se estar acima do peso. É preciso analisar com cuidado quais os riscos que o quadro do sobrepeso realmente traz para a saúde como um todo”, afirma a médica Maria Teresa Zanella, professora Titular de Endocrinologia na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Alguns grupos de pessoas obesas podem ter padrões anormais de alimentação e apresentar alterações de comportamento com relação à comida, como o transtorno da compulsão alimentar, que acomete, em maior proporção, os indivíduos dessa população³.
A obesidade, por si só, traz sérios riscos para a saúde e a ocorrência de episódios de compulsão alimentar compromete os resultados do tratamento. Por outro lado, entre as pessoas que se submetem a dietas restritivas para controle de peso, a incidência de compulsão alimentar aumentou significativamente4.
Quando se fala em tratamento para a obesidade, a tendência é associar o emagrecimento a uma mudança radical na alimentação. Porém, a obsessão pela obtenção de uma rápida perda de peso e a adoção de uma drástica restrição alimentar podem ocasionar quadros de compulsão, culminando no famoso ‘efeito sanfona’, em que o paciente emagrece muito rapidamente e logo depois retoma o ganho de peso”, complementa Zanella.
Diante disso, o tratamento mais adequado é focar, a princípio, em mudar hábitos e melhorar o comportamento em relação a comida e, assim, o emagrecimento virá como consequência. “Ocorrem alterações no comportamento que indicam maior risco de desenvolver o transtorno da compulsão alimentar, sendo a falta de controle na ingestão de alguns alimentos uma das principais. Precisamos ficar atentos”, ensina Zanella.

Confira as dicas da endocrinologista para saber como identificar os episódios da compulsão alimentar5:
-  Ingerir grandes quantidades de comida, quando não está com fome física;
-  Comer muito em um período de duas horas, com uma sensação de falta de controle sobre a alimentação durante o episódio (um sentimento de que não se pode parar de comer ou controlar o que ou quanto se está comendo);
-  Comer muito mais rapidamente do que o normal;
-  Comer até sentir-se desconfortavelmente cheio;
- Comer sozinho por causa do constrangimento de quanto se está comendo, sentindo-se envergonhado, deprimido ou muito culpado depois.

A compulsão alimentar é acompanhada de sentimentos de desconforto físico, angústia, vergonha e, principalmente, culpa. Esse transtorno ocorre em maior proporção na população obesa, embora também esteja presente na população com peso normal. Os indivíduos obesos com esse transtorno, frequentemente apresentam imagem corporal negativa, sofrem de angústia psicológica, baixa autoestima, depressão, ansiedade, síndrome do pânico e transtornos de personalidade³.

“A nossa prática clínica mostra que o ideal no tratamento da obesidade é uma abordagem multidisciplinar, com o envolvimento de diversos profissionais da saúde, para que se consiga mudança de hábitos, sem focar isoladamente na restrição alimentar para a obtenção de perda de peso. O uso de medicamentos pode ser necessário para tratamento da ansiedade, da depressão, da compulsão alimentar, e mesmo para o menor consumo de alimentos, o que deve ser sempre orientado por médicos, de preferência endocrinologistas”, finaliza Zanella.

Para mais informações sobre obesidade, acesse o site da ABESO – associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica em abeso.org.br.



Referências

¹ Entenda por que obesidade e diabetes são fatores de risco para o câncer. Hospital Sírio Libanês. Disponível em https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/sua-saude/Paginas/entenda-obesidade-diabetes-fatores-risco-cancer.aspx. Acessado em 10 de fevereiro de 2020.



² Brasileiros atingem maior índice de obesidade nos últimos treze anos. Ministério da Saúde. Disponível em https://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45612-brasileiros-atingem-maior-indice-de-obesidade-nos-ultimos-treze-anos. Acessado em 10 de fevereiro de 2020.



³ Wanderley, Emanuela Nogueira, & Ferreira, Vanessa Alves. (2010). Obesidade: uma perspectiva plural. Ciência & Saúde Coletiva, 15(1), 185-194. https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000100024 



4 Bernardi, Fabiana, Cichelero, Cristiane, & Vitolo, Márcia Regina. (2005). Comportamento de restrição alimentar e obesidade. Revista de Nutrição, 18(1), 85-93. https://doi.org/10.1590/S1415-52732005000100008



5 Eating Disorder Types and Symptoms. ANAD (National Association of Anorexia Nervosa and Associated Disorders:). Disponível em https://anad.org/education-and-awareness/about-eating-disorders/eating-disorder-types-and-symptoms/. Acessado em 10 de fevereiro de 2020.


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