Além do
peso: compulsão alimentar precisa ser identificada e tratada
·
Obsessão por dietas e restrição alimentar podem ocasionar
compulsão e gerar o famoso ”efeito sanfona”.
A
partir deste ano, o Dia Mundial da Obesidade acontecerá em 4 de março.
Essa data é um alerta para essa doença que é também
um grande fator de risco para outras doenças graves como diabetes e câncer¹.
No Brasil, o Ministério da Saúde aponta que o número de obesos aumentou 67,8%
entre 2006 e 2018².
Considerada uma doença
crônica pela OMS, os pacientes obesos são alvo de estigmas e preconceitos por
questões físicas, sem que sejam considerados possíveis portadores de várias
comorbidades associadas ao excesso de peso. “Muitas pessoas se preocupam apenas
em emagrecer, muitas vezes por uma questão puramente estética, sem dar
importância às graves consequências de se estar acima do peso. É
preciso analisar com cuidado quais os riscos que o quadro do sobrepeso
realmente traz para a saúde como um todo”, afirma a médica Maria Teresa
Zanella, professora Titular de Endocrinologia na Universidade Federal de São
Paulo – UNIFESP.
Alguns grupos de pessoas obesas podem ter
padrões anormais de alimentação e apresentar alterações de comportamento com
relação à comida, como o transtorno da compulsão alimentar, que acomete, em
maior proporção, os indivíduos dessa população³.
A obesidade, por si só, traz sérios riscos
para a saúde e a ocorrência de episódios de compulsão alimentar compromete os
resultados do tratamento. Por outro lado, entre as pessoas que se submetem
a dietas restritivas para controle de peso, a incidência de compulsão
alimentar aumentou significativamente4.
“Quando se fala em tratamento para a obesidade, a tendência
é associar o emagrecimento a uma mudança radical na alimentação. Porém, a
obsessão pela obtenção de uma rápida perda de peso e a adoção de uma drástica
restrição alimentar podem ocasionar quadros de compulsão, culminando no famoso
‘efeito sanfona’, em que o paciente emagrece muito rapidamente e logo depois
retoma o ganho de peso”, complementa Zanella.
Diante
disso, o tratamento mais adequado é focar, a princípio, em mudar
hábitos e melhorar o comportamento em relação a comida e, assim, o
emagrecimento virá como consequência. “Ocorrem alterações
no comportamento que indicam maior risco de desenvolver o transtorno da
compulsão alimentar, sendo a falta de controle na ingestão de alguns alimentos
uma das principais. Precisamos ficar atentos”, ensina Zanella.
Confira as dicas da
endocrinologista para saber como identificar os episódios da compulsão
alimentar5:
-
Ingerir grandes
quantidades de comida, quando não está com fome física;
-
Comer muito em um período
de duas horas, com uma sensação de falta de controle sobre a alimentação
durante o episódio (um sentimento de que não se pode parar de comer ou
controlar o que ou quanto se está comendo);
-
Comer muito mais
rapidamente do que o normal;
-
Comer até sentir-se
desconfortavelmente cheio;
- Comer sozinho por causa do
constrangimento de quanto se está comendo, sentindo-se envergonhado, deprimido
ou muito culpado depois.
A compulsão alimentar é acompanhada de
sentimentos de desconforto físico, angústia, vergonha e, principalmente, culpa.
Esse transtorno ocorre em maior proporção na população obesa, embora também
esteja presente na população com peso normal. Os indivíduos obesos com esse
transtorno, frequentemente apresentam imagem corporal negativa, sofrem de
angústia psicológica, baixa autoestima, depressão, ansiedade, síndrome do
pânico e transtornos de personalidade³.
“A nossa prática clínica mostra que o ideal no
tratamento da obesidade é uma abordagem multidisciplinar, com o envolvimento de
diversos profissionais da saúde, para que se consiga mudança de hábitos, sem focar
isoladamente na restrição alimentar para a obtenção de perda de peso. O uso de
medicamentos pode ser necessário para tratamento da ansiedade, da depressão, da
compulsão alimentar, e mesmo para o menor consumo de alimentos, o que deve ser
sempre orientado por médicos, de preferência endocrinologistas”, finaliza
Zanella.
Para mais informações sobre obesidade, acesse o
site da ABESO – associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica em abeso.org.br.
Referências
¹ Entenda por que
obesidade e diabetes são fatores de risco para o câncer. Hospital Sírio
Libanês. Disponível em https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/sua-saude/Paginas/entenda-obesidade-diabetes-fatores-risco-cancer.aspx.
Acessado em 10 de fevereiro de 2020.
² Brasileiros atingem
maior índice de obesidade nos últimos treze anos. Ministério da Saúde.
Disponível em
https://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45612-brasileiros-atingem-maior-indice-de-obesidade-nos-ultimos-treze-anos. Acessado em 10 de
fevereiro de 2020.
³
Wanderley, Emanuela Nogueira, & Ferreira, Vanessa Alves. (2010). Obesidade:
uma perspectiva plural. Ciência & Saúde Coletiva, 15(1),
185-194. https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000100024
4
Bernardi, Fabiana, Cichelero, Cristiane, & Vitolo, Márcia Regina. (2005).
Comportamento de restrição alimentar e obesidade. Revista de Nutrição, 18(1),
85-93. https://doi.org/10.1590/S1415-52732005000100008
5 Eating Disorder Types
and Symptoms. ANAD (National Association of Anorexia Nervosa and Associated
Disorders:). Disponível em https://anad.org/education-and-awareness/about-eating-disorders/eating-disorder-types-and-symptoms/.
Acessado em 10 de fevereiro de 2020.
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