Os hábitos financeiros dos trabalhadores
brasileiros podem influenciar diretamente na sua produtividade. Pesquisa recente
indica que 80% dos trabalhadores possuem problemas na hora de fechar o
orçamento. O levantamento foi realizado pela Associação Brasileira de
Educadores Financeiros (Abefin). Os departamentos de recursos humanos já estão
enfrentando dificuldades por conta do acúmulo de dívidas de funcionários.
Os problemas financeiros se tornaram um problema
comum e não podem ser ignorados pelas organizações empresariais. Eles consomem
tempo e energia das pessoas e, sem dúvidas, são responsáveis pela queda de
produção dos empregados. O desequilíbrio financeiro acarreta também um
desequilíbrio psicológico.
Um levantamento nacional realizado apenas com
consumidores que têm contas em atraso há mais de 90 dias pelo Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes
Lojistas (CNDL) mostra que em muitos casos a inadimplência altera negativamente
o estado emocional dos consumidores, atingindo até mesmo a vida profissional e
a saúde dos entrevistados. A pesquisa mostra também que as dívidas afetam o
ambiente profissional e o relacionamento social e familiar: 15,9% das pessoas
que têm contas em atraso afirmaram ter ficado desatentas e pouco produtivas no
trabalho ou nos estudos, enquanto 12,6% têm estado mais nervosos, cometendo
agressões verbais a familiares e amigos e 7,6% já partiram até mesmo para
agressões físicas
A tomada de empréstimo sem planejamento é um dos
problemas mais relatados pelas empresas. E o trabalho de educação financeira
junto aos profissionais é de suma importância para que os colaboradores saibam
trabalhar com esses recursos.
Vale ressaltar que, caso a empresa ofereça algum
benefício de crédito consignado, este não deve consumir mais que 30% do salário
líquido do profissional. Mesmo em contratos diferentes e com autorização
expressa do colaborador para desconto em folha, nenhuma instituição financeira
pode ceder mais que essa porcentagem de crédito, sob o risco de ser penalizada.
Ou seja, desconto máximo da folha de pagamento é de 70%, entre descontos
obrigatórios (Imposto de Renda, INSS, adiantamento salarial, etc.) e
voluntários (despesas sindicais, assistência médica, previdência privada,
etc.). Pela Lei 10.820/2003, o colaborador precisa receber, no mínimo, 30% dos
proventos em espécie.
Entretanto, esse valor sequer é suficiente para
atender às necessidades mais básicas. Por esse motivo, é preciso haver um
programa de conscientização para que as pessoas entendam a melhor forma de
conduzir as finanças pessoais e o uso do crédito consciente.
Nessa esteira, a empresa pode tomar atitudes
diretas. A realização de treinamentos, palestras ou workshops, com
orientações de planejamento financeiro é o primeiro passo. Muitas vezes as
pessoas se endividam porque não sabem organizar o próprio orçamento ou tendem a
ignorar alguns elementos básicos como um fluxo de caixa. Muitos não se dão
conta de que crédito não é dinheiro disponível e que será necessário pagar
depois. Nos treinamentos, é possível conscientizar os colaboradores, fazendo
com que eles aprendem na prática como organizar a vida financeira.
Vale citar um exemplo de uma indústria do setor
alimentício que realizou um trabalho de conscientização financeira. Durante o
treinamento, tinham aproximadamente 600 empregados tomadores do crédito
consignado. E esse número caiu, após a implementação de ferramentas de educação
e planejamento para 147 empregados que possuíam desconto na folha de pagamento
referente a credito consignado. Eles se conscientizaram que o crédito servia
para uma emergência e não para somar ao seus vencimentos
O trabalhador deve fugir das facilidades do crédito
consignado e do cheque especial, por exemplo, que podem criar uma espécie de
“dependência”, por dar impressão que fazem parte do salário ou remuneração
mensal. Tratam-se na verdade de recursos emergenciais. Nos treinamentos de
finanças pessoais, os funcionários aprendem a importância de criarem suas
próprias reservas de emergência.
Na prática, 80% do planejamento financeiro é
a mudança no comportamento. Assim, é essencial que as empresas comecem a
enxergar que a educação financeira dos seus funcionários é fundamental para o
meio ambiente de trabalho. A educação financeira passa por uma mudança de
comportamento de médio a longo prazo. Ela deve ser constante. Trabalhador com a
saúde financeira em dia é trabalhador que produz e irradia positividade no
ambiente.
Sheila David Oliveira - planejadora financeira,
diretora da GFAI - Empresa Especializada em Planejamento Financeiro,
responsável pelos treinamentos In Company e pós-graduada em Gestão de Pessoas
pela FGV e em Psicologia Positiva pela PUC-RS
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