As
avenidas, ruas, praças, parques, travessas, largos e demais espaços que compõem
a estrutura de uma cidade dizem muito sobre a sua identidade. Na
contemporaneidade muitas cidades têm tomado novos rumos estruturais e começam a
observar suas consequências. Dentre os lugares diversos, existem os espaços de
vivência e os de transição, e assim, os espaços públicos e privados; mas a rua
deixa de ser um local, para ser apenas uma ligação. É sabido que todos os
elementos precisam ser muito bem pensados e planejados na estrutura de uma
cidade para que ela possa oferecer condições socioculturais necessárias à
população.
Em
um território que se forma pelo somatório de edifícios e grandes construções, o
espaço público é ou não concretizado fisicamente com tais construções, de
maneira alguma pode ser substituído ou mesmo abandonado. Infelizmente, não é o
que vem acontecendo; inclusive, os espaços de transição começam a tomar conta
do urbanismo das cidades que ampliam sua estrutura basicamente com lugares
apenas de passagem. Com isso os locais de vivência deixam de existir para dar
espaço a ambientes de circulação efêmera que não provocam o sentimento de
pertencimento na população. Pois, se o planejamento urbano não favorecer o
conteúdo simbólico da cidade, essa passa a ser apenas um grande emaranhado de
tecidos soltos sem muitos significados ou pregnância.
Mesmo
com a onda de especulação imobiliária com suas construções muitas vezes
equivocadas, algumas cidades ainda procuram manter seu padrão urbanístico em
harmonia entre os aspectos público e privado, antigo e moderno. Isso talvez
enquanto propostas mercenárias ainda não tenham sido aceitas; ou quem sabe,
realizadas. De qualquer forma, mediante às ameaças ao patrimônio, respaldadas
pela sociedade de consumo, o conhecimento deixa de ser um direito e passa a ser
praticamente um dever e conhecer a sua cidade é algo realmente importante para
todo cidadão. Assim, destacamos o lema adotado pelo Núcleo de Orientação e
Pesquisa Histórica (NOPH) de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, atualmente um
ecomuseu: “Um povo só preserva aquilo que ama. Um povo só ama aquilo que
conhece”.
Uma
cidade exige territórios articulados e lugares com capacidade de integração
entre a comunidade; sem isso, fica evidente a dissolução do urbanismo seguida
da urgência de uma nova trama urbana, considerando também a degradação física e
simbólica dos bens culturais, espaços públicos e centros históricos. É
necessário pensar os espaços com intenção de valorizar os aspectos urbanos e
humanos da cidade, valorizando o convívio entre as pessoas.
Não
obstante, é possível que os espaços públicos de vivência e interação tenham
sido substituídos não apenas e simplesmente por espaços privados de uso
coletivo, mas inclusive, por outros espaços, aqueles não físicos — os virtuais.
Além do mais, o uso frequente de mecanismos tecnológicos induz a população a
buscar ambientes com estruturas favoráveis ao manuseio de determinados
equipamentos, incluindo o interior de suas próprias casas.
Contudo,
o comportamento superficial aderido pela população impulsiona uma crise social,
porque sua conduta é deficiente na construção e manutenção de valores, surgidos
e mantidos por meio da interação afetiva entre os cidadãos. No bojo da
urbanidade contemporânea, contemplada pelo afã do capitalismo em detrimento da
cultura e preservação do patrimônio, é possível reconhecer uma crise vindoura,
influenciada pela troca da cidade pública e social pela cidade fragmentada do
lucro e da divisão. Diante disso, o que resta é buscarmos conhecer mais a fundo
a nossa história e vivermos a nossa cultura de uma forma mais ativa e efetiva,
para além das telas dos nossos computadores e gadgets e dos muros e grades de
nossas residências.
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