Em
razão da verdadeira guerra política que vivemos neste período de eleições, é
necessário nos debruçarmos no que é tangível do ponto de vista histórico e
político no Brasil.
A
grande dúvida seria: até que ponto o regime militar não favoreceu a guinada
socialista em nosso país? Lembro-me de que, nos anos 70, época em que a
influência e o pensamento estatista permeavam o governo militar, centralizador
e afeito a construir grandes obras, como a Ferrovia do Aço, a Eletrobrás, a
Telebrás e muitas outras, havia uma euforia com o crescimento econômico que
contagiava a população e os empresários, pois 23% do PIB, em média, eram
destinados aos gastos públicos, e a imprensa mais conservadora alegava que o
Brasil era tão estatizante quanto os países comunistas.
É
claro que a argumentação de que só uma empresa estatal seria capaz de construir
uma usina como a Itaipu é verdadeira, mas, ao analisarmos o desfecho do regime
militar, podemos aferir que sem dúvida o legado estatista satisfez não só as
ideias socialistas, pois, se por um lado os gastos com as estatais engordavam,
o mesmo ocorria com os lucros das empresas multinacionais que se instalaram
aqui para fornecer bens de capital.
Toda
a dinâmica política do regime militar na época era tachada de “autoritária, de
direita”, e essa percepção com a saída dos militares permaneceu e foi
ardilosamente utilizada pela esquerda, que se dizia “social-democrata”, para
angariar os órfãos da direita liberal, que teve como um de seus gurus o
ministro Roberto Campos, ministro do Planejamento no governo Castelo Branco,
que, sem dúvida, juntamente com o colega Octávio Gouveia de Bulhões, do
Ministério da Fazenda, modernizou a economia e o estado brasileiro através de
diversas reformas, além de controlar a inflação.
Portanto,
ao fim do regime militar e com a abertura política, com a anistia e a vinda de
vários expoentes da esquerda, a tática era dizer que quem era de direita era
autoritário e antidemocrático, pois os esquerdistas alimentavam no povo a ideia
de que democracia era sinônimo de justiça social, de tal sorte que a direita
acabou sucumbindo no Brasil.
As
pessoas tinham vergonha de se dizer de direita, pois a imprensa, também já
orientada pela esquerda, impingia no inconsciente coletivo – como dizia Jung –
do povo brasileiro que a social-democracia era o caminho, e então todos os
partidos políticos passaram a ser de esquerda, não mais havendo ideias liberais
democratas e enterrando-se de vez os ideais do Conservadorismo Liberal neste
país. Foi aí que a dívida social entrou em pane com ideias social-democratas,
de um lado, e políticos oportunistas populistas embriagados de poder e de mãos
dadas com economistas ingênuos, de outro, o que culminou no Plano Collor, por exemplo.
Agora
vejo com entusiasmo certo amadurecimento político, que faz com que o
Conservadorismo Liberal não seja mais tido como um crime, até porque, enquanto
perdíamos tempo com todos os partidos de esquerda neste Brasil, outros, como a
China comunista, faziam o caminho do liberalismo econômico e do crescimento.
Vejo também uma esquerda social-democrata desmoralizada, envolvida em
corrupção, assim como todos os partidos, que disputam 40% do PIB numa festa em
que os convidados são sempre os mesmos.
Partidos
políticos no Brasil se assemelham a sindicatos, possuem donos e toda sua
corriola. Isto posto, diria até que ocorre hoje uma crise existencial da
esquerda não só no Brasil, mas em vários países. Seremos capazes de nos
reinventar? Eu pelo menos hoje digo: “sou um Conservador Liberal”, e isso –
como se dizia nos anos 70 – “é muito legal”. Perdemos a vergonha de ser felizes
e queremos esquecer o negro passado da bandeira vermelha.
Fernando Rizzolo - Advogado,
Jornalista, Mestre em Direitos Fundamentais, Professor de Direito.
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