Especialista da FGV explica como a inteligência
artificial pode mapear e influenciar o comportamento dos eleitores e até
direcionar os resultados do processo eleitoral
Os algoritmos e a inteligência artificial estão
presentes em praticamente todo nosso dia, em ações que tomamos, em boa parte do
que assistimos e consumimos. É um mundo de informações que influenciam nossa
tomada de decisão, sem que, muitas vezes, tenhamos
conhecimento. E que podem ter impactos diretos em nossa vida e em toda a
sociedade.
Uma questão que começa a ser discutida são
os impactos da tecnologia nas eleições brasileiras, principalmente no
contexto de fake news e propaganda eleitoral e o mais importante, os riscos
de manipulação eleitoral e as consequências da utilização desses sistemas
de dados privados.
Um estudo da Diretoria de Análise de
Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV - DAPP) mostra que contas automatizadas
motivam até 20% de debates em apoio a políticos no Twitter. O levantamento
mostra como robôs ou bots (perfis falsos presentes em mídias sociais) são
capazes de distribuir, em escala industrial, mensagens
pré-programadas, impondo riscos à democracia e ao processo eleitoral de
2018.
Utilizando inteligência artificial para
monitorar as mídias sociais e analisar o que as pessoas estão falando e
pensando sobre o cenário político, esses recursos conseguem fazer uma gestão da imagem dos
candidatos e construir discursos seja para conquistar votos ou anular
votos em opositores.
"O grande risco disso é a manipulação
do próprio processo eleitoral. Sabendo quem é a pessoa e como ela pensa,
identifica-se quais são os argumentos mais eficientes no convencimento desse
indivíduo. Cria-se assim um filtro bolha, que leva a uma opinião empobrecida e
limitada, sem acesso a outros pontos de vista a partir das diferenças, em
um ambiente de indução e controle totalmente sem transparência,
verdadeiras ameaças à democracia", aponta Andre Miceli, coordenador de digital business da FGV
e especialista em sociedade digital.
Durante as recentes eleições americanas foram contratadas empresas para tratar dados
pessoais coletados por meio de inteligência artificial para definir
perfis, comportamentos e padrões e, assim, construir mensagens políticas.
Esses dados coletados e tratados conseguem identificar quase que individualmente a
tendência de voto das pessoas.
Baseado no direito à transparência no
tratamento de dados pessoais, entrará em vigor na Europa em maio a
nova GDPR (Regulação Europeia de Proteção de Dados, que determina que
um indivíduo tem o direito a obter informações suficientes sobre um algoritmo,
como o seu funcionamento e possíveis consequências, que o permitam tomar uma
decisão racional autorizando ou se opondo ao uso dos seus dados
pessoais. O Brasil ainda não tem nenhuma lei nesse sentido.
"Nesse momento o
governo brasileiro não pode fazer muita coisa, além de chamar alguns
executivos dessas redes sociais para tentar entender como estão esses processos
de publicação de conteúdo, coleta, uso, acesso e venda de dados. É importante deixa
claro que é muito mais uma questão ética do que legal, a menos que alguma lei
seja efetivamente regulamentada no Brasil", analisa Andre Miceli.
No fim, o questionamento
é: Quais os efeitos colaterais de todo esse processo
tecnológico que podemos esperar? Até que ponto a o uso da
tecnologia poderá impactar no direcionamento e na escolha dos candidatos por
parte dos eleitores e nos resultados das eleições no Brasil? Isso nós iremos
acompanhar nos próximos meses.
Andre Miceli - Mestre em Administração pelo Ibmec RJ, com MBA em Gestão de
Negócios e Marketing pela mesma instituição. Coordenador do MBA em Marketing
Digital da Fundação Getulio Vargas (FGV). Já ganhou mais de vinte prêmios de internet e
tecnologia, incluindo o melhor aplicativo móvel desenvolvido no Brasil.
Certificado no programa Advanced Executive Certificate in Management, Innovation & Technology do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Autor dos livros
“Planejamento de Marketing Digital”, “Estratégia Digital: vantagens
competitivas na internet” e “UML Aplicada: da teoria à implementação”. É ainda
fundador e Diretor Executivo da Infobase, uma das 50 maiores integradoras de TI
do Brasil, e da agência digital IInterativa, atuando com clientes de diversos segmentos
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