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sexta-feira, 27 de abril de 2018

A faca na História: nove curiosidades afiadas


Hoje indispensável em nosso cotidiano, a origem da faca remete à aurora da humanidade. Assim, uma série de curiosidades envolve esse importante item, que acompanha de perto nossa evolução. Conheça agora nove delas:


Facas de pedra
Os primeiros objetos utilizados como faca pouco lembravam o item cortante e pontiagudo que conhecemos hoje. Eles foram criados por nossos antepassados, que aprenderam a lascar as bordas de rochas para torná-las afiadas e propícias para cortar e raspar os alimentos. Isso no período pré-histórico Paleolítico (não à toa popularmente conhecido como Idade da Pedra Lascada), que teve início a aproximadamente 2,5 milhões de anos e se estendeu até por volta de 10.000 a.C.
Além de ajudar na hora de preparar a comida, essas lascas serviam como arma e instrumento de caça aos humanos, que ainda viviam como nômades caçadores e precisavam encarar feras assustadoras. Mais tarde, já na Idade dos Metais, por volta de 5.000 a.C, o homem pré-histórico desenvolveu a técnica da fundição, criando ferramentas e armas de metal – primeiro em cobre e depois em bronze, até chegar à metalurgia do ferro. Muito mais adiante, no século 16, o aço passou a ser o queridinho dos fabricantes.


Tesouro para outras vidas
Para se ter uma ideia do valor dessas ferramentas na Antiguidade, muita gente pedia para ser enterrada com elas. Entre eles, os escandinavos, habilidosos artesãos de facas luxuosamente decoradas, repletas de adornos e pedras preciosas. 

Até o lendário faraó egípcio Tutancâmon (1327-1336 a.C.) levou uma em sua última viagem: em 2016, pesquisadores do Museu Egípcio do Cairo e das universidades de Pisa e Politécnica de Milão, na Itália, encontraram em seu sarcófago uma suntuosa faca de dois gumes. E não para por aí: a adaga, dourada, é feita de um material de outro mundo...


 
A faca que veio do espaço sideral 

A adaga encontrada no túmulo do faraó veio literalmente do espaço sideral: ela foi forjada com o ferro de um meteorito (fragmento de um asteroide, cometa ou resto de planeta que chega à superfície da Terra). Daí, logo especialistas desvendaram um outro mistério: as referências encontradas em diversos textos egípcios e mesopotâmicos que remetiam a um certo “ferro caído do céu”.
Por mais assombrosa que pareça a história, esse material nos é razoavelmente familiar, principalmente para os gaúchos. Isso porque os pampas (a região de vastas planícies da América do Sul) têm um talento natural para atrair a queda de meteoritos. E adivinhe só: os gaúchos que vivem nesses campos também os transformam em facas há bastante tempo. Eles as apelidavam de “facas de raio guaxo”.


Fazendo as vezes de garfo

Além de instrumento de sobrevivência, as facas foram os primeiros talheres da humanidade, servindo tanto para cortar os alimentos quanto para levá-los à boca (o garfo de mesa só se tornaria popular depois do século 10). Essa importância foi registrada pelo filósofo estoico grego Posidónio, ao narrar um festim na Galia (região da Europa que abrange a França, Bélgica, oeste da Alemanha e norte da Itália), em 97 a.C. Como exercício, tente imaginar a cena de um bando de gente esfomeada devorando cada pedaço de comida com uma voracidade selvagem. Incidentes (alguns fatais) certamente ocorriam naquelas ocasiões.


Cada faca na sua bainha

 
Se você tivesse vivido durante a Idade Média e fosse convidado para um almoço na casa de um amigo, provavelmente teria de levar sua própria faca. Até a Renascença, os anfitriões ofereciam pratos e travessas, mas, como cada um andava com sua própria faca na cintura, o talher ficava por conta do convidado.
O grau de sofisticação dos objetos servia até mesmo como símbolo de status: os nobres possuíam peças de alto requinte, trabalhadas com esmero. Não era de espantar que seus donos gostassem de levá-las para o sono eterno.


Para além do sushi

Um dos povos mais talentosos no manuseio desses objetos são os japoneses. No século 17, os samurais andavam com uma bainha de espada que possuía uma espécie de bolso para carregar facas pequenas. Delicadamente elaboradas, elas eram chamadas de kozuka, e serviam para cortar alimentos. Além de técnica para produzi-las, era necessário o domínio da habilidade de afiá-las, tarefa dificílima e tida como arte em terras nipônicas. 


Nada de pontas na França!

Naturalmente pontiagudas, as facas passaram a ter ponta arredondada por ordem de um cardeal francês do século 17: Cardeal de Richelieu, primeiro-ministro de Luís XIII (o antecessor de Luís XIV, o “Rei Sol”) e um dos principais nomes do absolutismo europeu.
Tallemant des Réaux, poeta e escritor francês da época, conta que isso aconteceu quando o político viu seu chanceler palitando os dentes com uma faca. Horrorizado com a prática, ele ordenou que todos os instrumentos, a partir de então, tivessem suas pontas arredondadas. Outra versão, de autoria do sociólogo alemão Norbert Elias, conta algo semelhante, mas cuja origem teria sido a violência nos banquetes. Assim, qualquer tenha sido a razão, os cuteleiros franceses tiveram de obedecer e produzir apenas itens com ponta arredondada.


Fazer facas: uma arte?


Você sabia que o ofício de fazer facas é uma arte extremamente valorizada mundo afora? O nome dado a esse trabalho é Cutelaria, e há uma ramificação chamada cutelaria artesanal, que se dedica unicamente à produção não industrial de ferramentas cortantes e/ou pontiagudas. No Brasil esse universo tem ganhado muitos adeptos, sejam eles cuteleiros ou colecionadores. 

Inclusive, anualmente, São Paulo sedia um evento chamado Mostra Internacional de Cutelaria. Em 2018, a exposição acontece em 5 e 6 de maio, no Centro de Convenções Frei Caneca, sob organização de Roger Glasser.

 
A faca mais cara da história

Mais de 2 milhões de dólares. Sim, você leu bem. Esse foi o preço pago pela faca mais cara da história, batizada “The Gem of the Orient”. Ela foi produzida pelo estadunidense Buster Warenski e é feita de nada mais, nada menos que 153 esmeraldas e 9 diamantes.
O renomado cuteleiro teria levado cerca de 10 anos para concluir sua obra-prima, que foi vendida originalmente a US$ 1,2 milhões (mais tarde, o comprador, em uma jogada de mestre, vendeu-a por quase o dobro do valor: US$ 2,1 milhões). É de se imaginar que essa lâmina nunca tenha visto, sequer de perto, um alimento, não?







Roger Glasser- Desde 2007 no mercado de cutelaria, filiado a American Bladesmith Society, mestre pela Corporazione Italiana Coltellinai, diretor da Escola Brasileira de Cutelaria, consultor de cutelaria e organizador da Mostra Internacional de Cutelaria.




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