Depressão
e ansiedade estão entre as principais causas de adoecimento e afastamento do
trabalho
Por esse motivo, a Campanha
Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho do Abril Verde deste ano decidiu
dar ênfase ao problema, um dos principais motivos de afastamento do emprego
Depressão e ansiedade são a segunda maior causa de adoecimento
relacionado ao trabalho no Brasil – perdem apenas para os casos de LER/DORT
(Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbio Osteo Muscular Relacionado ao
Trabalho). Somadas, as duas doenças, representam 49% de todos os casos
classificados como transtornos mentais que surgiram ou se agravaram nos
ambientes de trabalho. Por esse
motivo, a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho do Abril
Verde deste ano decidiu dar ênfase ao problema, que é também um dos principais
motivos de afastamento do emprego.
Para se ter uma ideia da gravidade do quadro, em um ranking da Secretaria de Previdência
do Ministério da Fazenda reunindo todos os motivos que provocam o afastamento
do trabalhador da empresa, a depressão aparece na vigésima posição. Ou seja,
ela está entre os motivos que mais geram concessão de auxílio-doença
acidentário – quando a pessoa é afastada da atividade por mais de 15 dias. Em 2016,
3.393 benefícios foram concedidos por causa de depressão.
O número ainda é menor do que o das fraturas nos punhos, mãos,
pernas e tornozelos, que aparecem nas duas primeiras colocações, e também é
inferior ao das dores nas costas, a terceira principal causa de afastamento no
Brasil. Mas, nem por isso, menos grave, como alerta a diretora do Departamento
de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho, Eva Gonçalves
Pires. “O tempo de afastamento por depressão e ansiedade costumam ser muito
maior do nos casos de acidentes, porque o tratamento é mais prolongado e a
recuperação mais demorada”, lembra.
Além disso, o assistente técnico do Departamento de Segurança e
Saúde no Trabalho, Jeferson Seidler, lembra que ainda existe uma dificuldade em
diagnosticar corretamente a depressão e em fazer o nexo da doença com o
trabalho, o que faz com que haja uma subnotificação dos casos. “No acidente
típico, por exemplo, com máquinas, a lesão é evidente e compatível com o relato
da vítima, e dificilmente há dúvida quanto à caracterização da ocorrência como
acidente de trabalho. Nos transtornos mentais, inclusive as depressões, não.
Primeiro, porque o diagnóstico é mais subjetivo, e, segundo, porque, além de
fazer essa análise clínica, é preciso observar se o trabalho teve ou não
influência no desencadeamento ou agravamento dos sintomas”, explica.
Somado a isso, existe o fato de que as organizações o Brasil, no
geral, não se preocupam em promover ambientes de trabalho que levem em conta a
saúde mental dos seus trabalhadores, já que a legislação do país não trata
desse aspecto. A auditora fiscal do Trabalho, Luciana Veloso, que tem doutorado
em direito com foco na saúde mental do trabalhador, diz que o problema tem se
agravado, sobretudo, nos últimos 30 anos.
“As empresas, preocupadas em lucrar cada vez mais, foram
adotando modelos de gestão que colocam metas muitas vezes abusivas aos
trabalhadores, utilizam sistemas de avaliações individuais que estimulam a
competitividade entre eles e cobram resultados o tempo todo. As pessoas
trabalham muito, sob pressão e na cultura do “cada um por si”. Isso acabou com
a solidariedade entre os colegas nas empresas, e o trabalhador foi ficando
fragilizado e mais vulnerável a abusos psicológicos, como assédio moral, por
exemplo”, explica.
Luciana lembra que, ao contrário dos acidentes de trabalho, que
dependem apenas do conteúdo das tarefas do trabalhador, no adoecimento mental o
contexto do trabalho também conta. É mais comum ocorrerem problemas em empresas
onde a comunicação é ineficaz ou inexistente; a remuneração é baixa; as tarefas
são incompatíveis com a qualificação do trabalhador (normalmente trabalhadores
qualificados executando tarefas menos importantes); as ameaças de demissão são
constantes; e os casos de discriminação e assédio moral e sexual são mais
comuns.
“Em países mais desenvolvidos, já existe uma preocupação com a
saúde mental dos trabalhadores. No Brasil, infelizmente, o que vemos é um
atraso. E as pessoas estão ficando doentes e indo trabalhar doentes, a base de
remédios. Enquanto não nos preocuparmos como o problema, ele continuará ocorrendo”,
constata.