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Foto: Spencer Platt/Getty Images via AFP/Arquivo |
Doutora em Relações Internacionais e docente do
Cento Universitário UniBH, Andrea Resende avalia os resultados advindos de uma
das maiores tragédia do mundo
Há
exatos 23 anos, os ataques de 11 de setembro de 2001 mudaram o curso da
história mundial. O trágico evento, que vitimou quase 3 mil pessoas em Nova
York, Washington D.C. e Pensilvânia, teve consequências profundas, não apenas
para os Estados Unidos, mas para o cenário global. A destruição das Torres
Gêmeas e o ataque ao Pentágono representaram um marco no combate ao terrorismo
internacional e provocaram mudanças econômicas e sociais que ainda reverberam
nos dias de hoje.
O
impacto econômico imediato foi sentido de forma significativa. A economia
americana, já fragilizada por uma desaceleração no início de 2001, viu os
mercados financeiros entrarem em colapso. A Bolsa de Valores de Nova York, por
exemplo, ficou fechada por quatro dias, e quando reabriu, as ações sofreram uma
queda drástica. Desde então, os custos associados à guerra contra o terrorismo,
como as invasões do Afeganistão e do Iraque, somam trilhões de dólares. Esses
gastos influenciaram o aumento da dívida pública americana, afetando,
inclusive, a política econômica mundial.
No
cenário geopolítico, os atentados de 11 de setembro inauguraram uma era de
intensificação das medidas de segurança e vigilância em diversos países. As
políticas antiterrorismo, muitas vezes criticadas por violarem direitos
humanos, transformaram as relações diplomáticas e a forma como governos lidam
com questões de segurança interna. Os aeroportos ao redor do mundo
implementaram controles mais rigorosos, que impactam diretamente o cotidiano
das viagens internacionais até hoje.
Um
outro ponto relevante que configura-se como um produto dessa tragédia tem a ver
com medidas tomadas pelos Estados Unidos na contramão do que propunham as
diretrizes diplomáticas da ONU, como explica a doutora em Relações
Internacionais e docente do Centro Universitário UniBH, Andrea Resende:
“A
partir do caos que os atentados promovidos pela Al-Qaeda causaram no país, os
Estados Unidos iniciaram uma campanha global contra o terrorismo, com suporte
dos países membros da OTAN. Tal campanha focou em combater o financiamento e
suporte de grupos terroristas que, supostamente, aconteciam sob os governos do
Afeganistão, sob regime do Talibã, e no Iraque, que era governado por Saddam
Hussein. E isso significou promover a invasão destes países”, explica.
“O
problema é que, na ótica dos princípios e normas internacionais da Organização
das Nações Unidas, nenhum desses Estados poderia conduzir uma intervenção
militar sem infringir o ordenamento internacional do qual concordaram em
seguir, a partir do momento em que se tornaram membros da ONU. A princípio,
esses países deveriam buscar recursos diplomáticos e pacíficos antes de assumir
o uso das forças de combate, o que não ocorreu”, destaca.
Socialmente,
o 11 de setembro também desencadeou mudanças culturais importantes. O crescimento
da islamofobia, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, é uma triste
consequência dos ataques. Muitos cidadãos muçulmanos passaram a ser vítimas de
discriminação e violência, enquanto grupos de extrema direita cresceram
alimentando narrativas de ódio. Esse clima de polarização e desconfiança teve
um efeito duradouro nas sociedades ocidentais, tornando o diálogo intercultural
mais difícil e aumentando tensões sociais.
”As
consequências dos atos da Al-Qaeda ainda são expressas no surgimento de outras
organizações terroristas como o Estado Islâmico e sistemáticas violações de
Direitos Humanos em várias partes do mundo, como na prisão estadunidense de
Guantánamo, em Cuba”, aponta a docente.
A
guerra ao terror também trouxe um legado psicológico devastador. A ansiedade e
o medo em relação a possíveis novos ataques geraram um aumento significativo de
distúrbios mentais, como transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), tanto
entre civis quanto entre militares. Além disso, o trauma das famílias das
vítimas e dos sobreviventes continua sendo um fardo emocional que persiste mais
de duas décadas depois da tragédia.
Por
fim, o impacto ambiental decorrente da destruição das Torres Gêmeas ainda é uma
preocupação para muitos. O pó tóxico liberado pelos escombros continha produtos
químicos perigosos, como amianto, que se espalharam por grandes áreas de Nova
York. Estima-se que centenas de milhares de pessoas foram expostas a esse
material, o que desencadeou uma série de doenças respiratórias e outros problemas
de saúde a longo prazo, com efeitos que ainda se manifestam.
O custo humano para os socorristas
Entre
as vítimas do 11 de setembro, estão também aqueles que atuaram na linha de
frente do resgate e limpeza nos dias seguintes ao ataque. Mais de 11 mil
socorristas desenvolveram doenças graves, como cânceres e problemas
respiratórios, devido à exposição aos tóxicos presentes nos escombros. Apesar
dos esforços para mitigar os danos, a realidade é que as consequências
continuam a repercutir. Desde o ataque, mais de 300 pessoas que participaram
das operações de resgate e limpeza morreram em decorrência de complicações de
saúde originadas naquele fatídico dia.
As doenças relacionadas ao 11
de setembro continuam a crescer, com novos casos sendo registrados anualmente.
Em 2021, o Programa de Saúde do World Trade Center informou que mais de 60
tipos diferentes de doenças foram diagnosticados entre socorristas e
sobreviventes, o que demonstra a gravidade e a amplitude dos efeitos a longo
prazo da exposição aos poluentes gerados pelo colapso das torres. A luta dessas
pessoas por reconhecimento e compensação financeira continua sendo um capítulo
doloroso na história das consequências do ataque.
UniBH