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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

11 de setembro: 23 anos depois, os impactos que ainda reverberam no mundo

Foto: Spencer Platt/Getty Images via AFP/Arquivo


Doutora em Relações Internacionais e docente do Cento Universitário UniBH, Andrea Resende avalia os resultados advindos de uma das maiores tragédia do mundo
 

Há exatos 23 anos, os ataques de 11 de setembro de 2001 mudaram o curso da história mundial. O trágico evento, que vitimou quase 3 mil pessoas em Nova York, Washington D.C. e Pensilvânia, teve consequências profundas, não apenas para os Estados Unidos, mas para o cenário global. A destruição das Torres Gêmeas e o ataque ao Pentágono representaram um marco no combate ao terrorismo internacional e provocaram mudanças econômicas e sociais que ainda reverberam nos dias de hoje. 

O impacto econômico imediato foi sentido de forma significativa. A economia americana, já fragilizada por uma desaceleração no início de 2001, viu os mercados financeiros entrarem em colapso. A Bolsa de Valores de Nova York, por exemplo, ficou fechada por quatro dias, e quando reabriu, as ações sofreram uma queda drástica. Desde então, os custos associados à guerra contra o terrorismo, como as invasões do Afeganistão e do Iraque, somam trilhões de dólares. Esses gastos influenciaram o aumento da dívida pública americana, afetando, inclusive, a política econômica mundial. 

No cenário geopolítico, os atentados de 11 de setembro inauguraram uma era de intensificação das medidas de segurança e vigilância em diversos países. As políticas antiterrorismo, muitas vezes criticadas por violarem direitos humanos, transformaram as relações diplomáticas e a forma como governos lidam com questões de segurança interna. Os aeroportos ao redor do mundo implementaram controles mais rigorosos, que impactam diretamente o cotidiano das viagens internacionais até hoje. 

Um outro ponto relevante que configura-se como um produto dessa tragédia tem a ver com medidas tomadas pelos Estados Unidos na contramão do que propunham as diretrizes diplomáticas da ONU, como explica a doutora em Relações Internacionais e docente do Centro Universitário UniBH, Andrea Resende: 

“A partir do caos que os atentados promovidos pela Al-Qaeda causaram no país, os Estados Unidos iniciaram uma campanha global contra o terrorismo, com suporte dos países membros da OTAN. Tal campanha focou em combater o financiamento e suporte de grupos terroristas que, supostamente, aconteciam sob os governos do Afeganistão, sob regime do Talibã, e no Iraque, que era governado por Saddam Hussein. E isso significou promover a invasão destes países”, explica. 

“O problema é que, na ótica dos princípios e normas internacionais da Organização das Nações Unidas, nenhum desses Estados poderia conduzir uma intervenção militar sem infringir o ordenamento internacional do qual concordaram em seguir, a partir do momento em que se tornaram membros da ONU. A princípio, esses países deveriam buscar recursos diplomáticos e pacíficos antes de assumir o uso das forças de combate, o que não ocorreu”, destaca. 

Socialmente, o 11 de setembro também desencadeou mudanças culturais importantes. O crescimento da islamofobia, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, é uma triste consequência dos ataques. Muitos cidadãos muçulmanos passaram a ser vítimas de discriminação e violência, enquanto grupos de extrema direita cresceram alimentando narrativas de ódio. Esse clima de polarização e desconfiança teve um efeito duradouro nas sociedades ocidentais, tornando o diálogo intercultural mais difícil e aumentando tensões sociais. 

”As consequências dos atos da Al-Qaeda ainda são expressas no surgimento de outras organizações terroristas como o Estado Islâmico e sistemáticas violações de Direitos Humanos em várias partes do mundo, como na prisão estadunidense de Guantánamo, em Cuba”, aponta a docente. 

A guerra ao terror também trouxe um legado psicológico devastador. A ansiedade e o medo em relação a possíveis novos ataques geraram um aumento significativo de distúrbios mentais, como transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), tanto entre civis quanto entre militares. Além disso, o trauma das famílias das vítimas e dos sobreviventes continua sendo um fardo emocional que persiste mais de duas décadas depois da tragédia. 

Por fim, o impacto ambiental decorrente da destruição das Torres Gêmeas ainda é uma preocupação para muitos. O pó tóxico liberado pelos escombros continha produtos químicos perigosos, como amianto, que se espalharam por grandes áreas de Nova York. Estima-se que centenas de milhares de pessoas foram expostas a esse material, o que desencadeou uma série de doenças respiratórias e outros problemas de saúde a longo prazo, com efeitos que ainda se manifestam.
 

O custo humano para os socorristas 

Entre as vítimas do 11 de setembro, estão também aqueles que atuaram na linha de frente do resgate e limpeza nos dias seguintes ao ataque. Mais de 11 mil socorristas desenvolveram doenças graves, como cânceres e problemas respiratórios, devido à exposição aos tóxicos presentes nos escombros. Apesar dos esforços para mitigar os danos, a realidade é que as consequências continuam a repercutir. Desde o ataque, mais de 300 pessoas que participaram das operações de resgate e limpeza morreram em decorrência de complicações de saúde originadas naquele fatídico dia. 

As doenças relacionadas ao 11 de setembro continuam a crescer, com novos casos sendo registrados anualmente. Em 2021, o Programa de Saúde do World Trade Center informou que mais de 60 tipos diferentes de doenças foram diagnosticados entre socorristas e sobreviventes, o que demonstra a gravidade e a amplitude dos efeitos a longo prazo da exposição aos poluentes gerados pelo colapso das torres. A luta dessas pessoas por reconhecimento e compensação financeira continua sendo um capítulo doloroso na história das consequências do ataque.



UniBH

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