Quando estudamos a história do mundo e da sociedade, entendemos que a evolução humana é dividida em ciclos. E, ao encerrar cada um desses ciclos, a humanidade avança para um novo nível, com novos aprendizados e, consequentemente, novos desafios. Durante nossa história, fomos divididos em três grandes revoluções, ou seja, momentos que marcaram cada mudança de ciclo. São elas: a cognitiva, a agrícola e a científica. Em teoria, a humanidade ainda vive na era científica. Mas será que já não estamos passando por uma quarta revolução?
Quando o homem passou a desenvolver a ciência e
buscar novos conhecimentos, ele aprendeu a acumular alimentos e pôde utilizar o
tempo, antes gasto com a sobrevivência, com o desenvolvimento de novas tecnologias,
habilidades e estudos. Foi nesse momento que a sociedade viveu os maiores
avanços de todos os tempos. Foram estudados desde os menores insetos até as
maiores galáxias. Descobriu-se tudo e mais um pouco. A cada nova lição, o mundo
parava novamente e via como era possível crescer e melhorar a partir do
conhecimento. E, a cada nova descoberta, o ser humano percebia sua capacidade
de controlar o mundo, a natureza, o tempo…
Na Idade Média, a peste negra se mostrou um grave
problema pois, naquele tempo, não existiam remédios. A gripe espanhola também
teve um impacto enorme pela falta de conhecimento e de tecnologias que pudessem
combater a doença. Mas e agora? Com remédios, estudos, evolução e muito
conhecimento, quem pode parar a covid-19 e controlar os males causados pelos
transtornos mentais?
Nessa nova revolução da humanidade estamos
aprendendo a lidar com toda essa informação. Ter mais acesso ao conteúdo foi um
avanço, mas o excesso dele começa a trazer problemas como ansiedade, depressão,
briga de egos e outros males. E não apenas para os adultos, experientes neste
jogo chamado “viver em sociedade”, mas também para as crianças, que já nasceram
inseridas em uma realidade na qual a informação está ao alcance de um clique.
O excesso de dados e regras pode impactar
profundamente a saúde mental dos pequenos, que são ainda mais frágeis e
suscetíveis a erros. Então, como prepará-los para filtrar o que “pipoca”
freneticamente nas telas de computadores, smartphones e televisões, que já
fazem parte da rotina da grande maioria das crianças?
O tema é debatido há vários anos pelo autor e
professor israelense Yuval Harari. "Em um mundo inundado de informações,
clareza é poder", afirma o educador, que deixa clara a necessidade de
aprendermos a controlar todo o conteúdo que é produzido nos tempos atuais. De
nada adianta sabermos muito se raciocinamos pouco. E, claro, ao tomar a decisão
de filtrar conhecimentos e apresentar uma abordagem mais concisa e direta,
poderemos focar nossas atenções em novas descobertas, como nossos antepassados
fizeram, sem deixar as pessoas perdidas em um “mar de inutilidade”.
Para navegar nesse universo infindável, Harari nos
mostra que a pandemia foi um divisor de águas para que a sociedade separasse o
“joio do trigo” no âmbito das informações. Para ele, a pandemia é mais do que
um teste para o conhecimento científico. É uma prova de cidadania global. As
decisões tomadas no combate à covid-19 estão moldando o mundo das próximas
décadas. Caso as pessoas não acreditem nas informações que recebem e não
confiem naquilo que é passado, poderão seguir vivendo nas chamadas
"bolhas", ou, até mesmo, serem obrigadas a viver em um regime de
monitoramento. Assim, chegamos à quarta revolução da humanidade, quando
aprendemos a controlar os monstros que criamos.
Mas tudo isso pode (e deve) ser evitado. E a escola
tem papel fundamental nesse processo. A tal reforma nas salas de aula
brasileiras, tão debatida por pais e professores, pode dar uma prévia de como
vencer a batalha pela informação verdadeira e confiável. Quem sabe, difundir
novas disciplinas e conhecimentos que abordem temas como checagem de dados,
visão analítica e saúde mental, por exemplo?
A guerra da informação e os problemas sociais estão
aí nos rondando, mas a educação é o único caminho para construirmos uma
sociedade cada vez mais harmoniosa e alinhada às demandas do mundo moderno -
sem deixar de lado a nossa essência, de amor e compaixão. Esses sim grandes
diferenciais frente às inteligências artificiais das máquinas que insistem em
nos controlar.
Antonio Rios - Superintendente
do Grupo Marista