Intensificar a fiscalização e investir na educação
dos motoristas são alternativas apontadas por especialistas para tornar o
trânsito mais seguro
Crença na impunidade contribui para que desrespeito às leis se perpetue
Um levantamento realizado no primeiro semestre
de 2015 pela Companhia de Engenharia de Tráfico (CET) aponta que o órgão
aplicou um total de 2.806.493 de multas em São Paulo. As dez infrações mais
cometidas no período mostram que, basicamente, falta cuidado, atenção e
educação no trânsito por parte dos motoristas. Foram elas: dirigir acima
da velocidade permitida; burlar o rodízio; circular pela faixa exclusiva de
ônibus à direita; trafegar em corredor exclusivo de ônibus; circular em Zona
Máxima de Restrições a Caminhões; avançar o sinal vermelho; realizar conversão
à direita em local proibido e devidamente sinalizado; parar sob faixas de pedestres;
circular em faixas destinadas a outros veículos; e trafegar em zonas de
circulação proibida. Infelizmente, essa má conduta não deve ser exclusiva aos
motoristas da maior cidade brasileira, se repetindo também nos demais
municípios do País. A Perkons ouviu especialistas no assunto na tentativa de
entender o comportamento dos condutores brasileiros.
Na opinião de Celso Mariano, especialista em
Educação no Trânsito e Diretor do Portal do Trânsito, a fiscalização precisa
ser intensificada no Brasil - com a devida aplicação das penalidades e sem
condescendências - na tentativa de transformar esse comportamento “cultural”
dos brasileiros, que ainda não acreditam que serão flagrados pelas autoridades
competentes. “Não há fiscalização suficiente e, por outro lado, muitas das
penalidades previstas se esvaem pelo caminho. Somos tão tolerantes que damos
descontos para quem não contesta multa e a paga em dia. Há projetos de lei para
parcelamento de multas, empresas que reservam recursos para pagar as multas que
seus motoristas irão cometer e, o pior, no âmbito judicial o recado que a
sociedade recebe é que dificilmente as penas previstas são aplicadas”, afirma
Mariano.
Exemplos cotidianos de
desrespeito às leis
Manusear o celular na hora de dirigir é mais uma infração
que tem aumentado na capital paulista, onde são aplicadas 320 por dia apenas
por esse motivo. Segundo a Prefeitura de São Paulo, esses condutores somam-se
aos 350 motoristas, em média, que também são
multados diariamente ao falarem no celular segurando o aparelho com uma das
mãos enquanto estão dirigindo. Após as mudanças no Código de Trânsito Brasileiro
(CTB) em novembro de 2016, mexer ou falar no aparelho são infrações
gravíssimas, punidas com sete pontos na carteira e multa no valor de R$293,47,
conforme artigo 252.
Harmut Gunther, professor do Departamento de
Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em comportamento do
trânsito, explica o risco de utilizar o celular na direção. “Durante uma
desatenção de um segundo, o motorista avança 16,7 metros e qualquer fenômeno
imprevisto neste intervalo já provoca um sinistro”. Entretanto, o número
crescente de motoristas infringindo a lei deixa evidente o desconhecimento
desses riscos, ou, a falta de preocupação com eles. E, mais uma vez, a sensação
de impunidade e a pouca fiscalização acabam colaborando com atitudes
imprudentes como essas.
Celso Mariano argumenta que educar o motorista para
a construção de um trânsito mais seguro é um caminho longo, que vai além de
ações convencionais. Para ele, a educação com seus acessórios, como campanhas
pontuais, distribuição de panfletos, publicidade e ações efêmeras são
ineficientes. “Não há verdadeira educação para o trânsito, verdadeira mudança
de paradigma, sem educação para a cidadania. Assim, ela precisa acontecer de forma
contínua, nas famílias, nas escolas, nas autoescolas, nas empresas, nas
organizações da sociedade civil. Segurança no trânsito tem que virar assunto do
café, do almoço e do jantar. Não é uma tarefa fácil, mas é preciso enxergar
isso de uma vez por todas e promover a educação para o trânsito de maneira
global”, argumenta.
Giovana Chiquim