Segunda edição de estudo sobre o perfil do turista mostra raio X
do consumidor de viagens no Brasil, México, Colômbia, Peru, Chile e Argentina,
com importantes alertas para agências de viagens, destinos, meios de transporte
e de hospedagem.
A Interamerican Network e o Conselho
de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de
São Paulo (FecomercioSP) realizaram, de 26 de outubro a 9 de novembro de 2020,
a segunda edição da pesquisa O Novo Viajante, a fim de entender
como a pandemia de covid-19 afetou e mudou os perfis e os hábitos dos viajantes
latino-americanos, além de captar informações sobre o novo cenário dos
consumidores de viagens. A sondagem foi realizada com 833 respondentes no
Brasil, no México, na Colômbia, no Chile, na Argentina, no Peru e outros.
Tenha acesso completo aos resultados
e gráficos neste link.
Na primeira
edição da pesquisa, realizada em junho de 2020, 46% dos respondentes dos países
pesquisados declararam que planejam fazer uma viagem ainda neste ano. Como
estamos próximos ao fim do ano e a pandemia se estende, o índice caiu, agora,
para 23%. A opção mais escolhida (26%) foi a de viajar somente quando houver
uma vacina amplamente disponível. No entanto, há um bom equilíbrio ainda entre
pessoas que se sentirão seguras em viajar somente no primeiro (21%) ou no
segundo (22%) semestre de 2021.
“A maior preocupação dos viajantes
continua sendo com lugares que tenham políticas de segurança sanitária, saúde e
higienização. Lugares que não sejam muito cheios foi uma nova opção que
incluímos no questionário, que acabou recebendo a segunda melhor colocação, à
frente de flexibilidade caso os planos necessitem ser mudados, que aparecia em
segundo lugar, em junho”, comenta Danielle Roman, presidente e CEO da
Interamerican, que aplicou a pesquisa nos seis países. Preço continua sendo uma
equação importante no processo de escolha do destino, ao contrário de lugares
que ofereçam bom atendimento hospitalar, que figurou, novamente, em último
lugar. Tal fato é confirmado quando se pergunta quais cuidados extras as
pessoas passarão a ter para viajar sob as novas circunstâncias: as opções que
privilegiam efetivos protocolos de segurança e higiene foram as duas mais
escolhidas.
Um hábito famoso parece ter sido
duramente atingido pela pandemia: resolver tudo na última hora – 27% dos
entrevistados disseram pretender resolver a viagem com, pelo menos, seis meses
de antecedência. No cômputo geral, três meses de antecedência foi a segunda
opção mais votada (21%). “Um e dois meses de antecedência apareceram logo atrás
e é importante que estes números sejam considerados, dada a característica
instável da pandemia”, alerta Danielle.
Organizar a viagem sozinho,
diretamente com hotéis, companhias aéreas, entre outros, segue sendo a opção
mais escolhida na América Latina (58%) – aumento de 13 pontos porcentuais em
relação a junho. Na média do continente, agentes de viagens foram a segunda
opção mais votada (28%), muito à frente das OTAs (Operadoras de Turismo
Online), com 7%, margem que foi alargada ainda mais em comparação à primeira
pesquisa. Quando perguntados em quais circunstâncias comprariam com agentes de
viagens, 45% disseram que para adquirir pacotes completos, com hotel,
passagens, passeios e atrações; resposta que cai para 19% quando o caso for
comprar em uma OTA.
Pode-se confirmar este hábito
solitário de se organizar sozinho na pergunta sobre quem mais inspira o
viajante na hora de escolher um destino. Ainda que a recomendação dos amigos
continue sendo a principal inspiração (24%), a diferença é pequena para a opção
“Eu procuro na internet” (23%), porcentagens quase idênticas à da pesquisa de
junho. Dicas dos agentes de viagens perderam terreno em comparação a junho: a
opção passou de terceiro para quinto lugar. Ganharam relevância, desta vez, o
Instagram e as dicas de influenciadores ou blogueiros de viagem. Em seguida,
estão publicidade, quase empatada com dicas de jornalistas especializados, com
Facebook e YouTube na sequência.
Sobre o tipo de viagem mais desejada,
destinos dentro do próprio país continuam em primeiro lugar, ainda que tenham
passado de 60%, em junho, para 47%, em outubro. Europa continua em segundo
lugar, mas crescendo de 14% para 21%, talvez por uma certa aceitação desta nova
maneira de viajar. Destinos que foram riscados do mapa em decorrência da
pandemia, segundo as respostas, são, na sua maioria, na Europa e nos Estados
Unidos.
A praia segue sendo o destino
preferido, ainda que tenha caído três pontos porcentuais. Viagens culturais e
de ecoturismo ou contemplação vêm logo em seguida, como na pesquisa de junho.
Um novo dado agregado a esta segunda edição da pesquisa foi a companhia
preferida para a viagem: a família está bem à frente (48,38%), seguida por par
romântico (29,05%), amigos (14,77%) e sozinho (7,8%).
“Os hábitos de consumo dos turistas
também foram medidos, e outro lugar-comum parece ter caído por terra: além de
transporte, hospedagem e alimentação, o que as pessoas menos dizem consumir nos
destinos, inclusive no Brasil, são compras (18,85%) e vida noturna (9,37%)”,
revela Danielle. “Atrações turísticas e culturais (30,46%), atrações na
natureza (22,72%) e serviços do setor, como traslados e guias turísticos
(18,85%) ocupam os primeiros lugares”, diz.
Olhando para o futuro, quando
perguntados sobre o impacto da pandemia nas viagens, apenas os brasileiros
acreditam que as mudanças serão poucas e não muito significativas (53,94%). No
total, a maioria dos turistas da América Latina acredita que as viagens serão
totalmente diferentes (53,78%).
Análise dos resultados no Brasil
No Brasil, o índice de pessoas que
diz querer viajar, ainda em 2020, foi o mais alto em toda a América Latina, com
34%. Entretanto, 53% ficam preocupados se os destinos escolhidos têm políticas
de segurança sanitária e se não são lugares que atraiam aglomerações. Além
disso, 21% disseram se preocupar com flexibilidade, caso haja necessidade de
alteração de planos de viagem.
“Esses números
iniciais já indicam claramente as estratégias que os empresários do turismo
devem traçar na retomada das viagens. A comunicação precisa ser clara, com
informações em sites oficiais e parceiros, além das mídias sociais, de como
está a situação da região em relação à covid-19 e às medidas que a cidade e a empresa
estão tomando de proteção, bem como as condições de cancelamento e remarcação”,
afirma Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP.
“Não é o momento de deixar estes pontos nas “letras miúdas”, escondidas nos
sites, pois estas variáveis estão sendo fundamentais na decisão de reservar
viagem completa, transportes (aéreo, rodoviário, locação de veículos) e meios
de hospedagem”, complementa a especialista.
Para endossar essa estratégia, 35%
dos entrevistados disseram ter cuidados extras, como reservar em meios de
hospedagem com efetivos protocolos de segurança sanitária, ao passo que 25%
afirmaram o mesmo para meios de transporte. E 17% priorizarão viagens com carro
próprio, na linha do que tem se configurado como tendência: o turismo de
proximidade.
As viagens estão
sendo programadas, em sua maior parte (28%), com seis meses ou mais de
antecedência. Para uma parcela menor (22%), a programação é iniciada três meses
antes de viajar. Entre um e dois meses, o porcentual foi de 37%. “Esses números
merecem uma ponderação, pois os que decidem por viagens na véspera, diante de
um cenário de pandemia, são os que vão para destinos mais próximos – por
exemplo, famílias paulistanas que decidem ir ao litoral ou ao interior para
passar um feriado. Quem programa com mais antecedência são aqueles que fazem
buscas de passagens aéreas com preços mais baixos, que reservam hospedagem após
longas pesquisas na internet etc”, comenta Mariana.
Dada a restrição
da entrada de brasileiros nos Estados Unidos e na Europa, 51% dos entrevistados
responderam que desejam viajar pelo Brasil. Muitos turistas estão aproveitando
para conhecer lugares que não tinham em mente antes da pandemia. “É um gancho
que os empresários podem utilizar na comunicação, com incentivos a conhecer
locais novos, dentro do próprio país, ajudando na recuperação do turismo
nacional”, disse Mariana. Para 23%, há um desejo de viajar para a Europa,
seguido de 9% para destinos na América do Sul, onde gradativamente as
fronteiras estão reabrindo.
O destino
preferido dos brasileiros é a praia, conforme responderam 35% – mais que o
dobro da segunda e da terceira opções mais escolhidas, tecnicamente empatadas:
o turismo cultural, com 16,62%, e o ecoturismo, com 16,03%. “Várias pesquisas
divulgadas ao longo da pandemia, pelos sites de buscas de passagens e de
agências de viagens, mostraram que o Nordeste é o destino mais procurado. São
inúmeras as opções de praias, desde as mais isoladas no litoral sul baiano até
as que ficam em capitais (como Maceió), para que o turista decida conforme o
gosto e, sobretudo, o bolso”, diz Danielle Roman.
Outro ponto
interessante da sondagem foi que 70% disseram pretender organizar os detalhes
da viagem sozinhos, diretamente com hotéis e empresas aéreas. Apenas 19% optam
por agentes de viagens tradicionais e 6% se orientam pelas OTAs, as agências
online. No entanto, é importante ponderar que muitos acreditam estarem
comprando pela internet de maneira isolada, sem saber que, na verdade, estão
utilizando uma agência online.
Tanto que 43%
dizem que farão compras pela internet apenas para acomodação e 31% para o
pacote de meios de hospedagem e avião. Os que utilizarão esses sites apenas
para compra das passagens aéreas são 13%. Os casos nos quais o consumidor
realizaria a compra por meio de uma agência de viagem seria na compra de
pacotes completos (hotel, avião, passeios, atrações etc.) para 36%, e para 30%,
o combo de hospedagem e aéreo.
“Assim, é
importante, neste momento de pandemia, as agências se comunicarem com os
consumidores e mostrarem a importância dos seus serviços, uma vez que podem
oferecer hotéis, transportes e seguros, reduzindo a chance de surgirem
problemas exatamente no momento mais esperado do ano: a hora de viajar”, diz
Mariana. “Até mesmo porque a maioria dos entrevistados (44%) disse preferir
viajar com a família. E quanto mais pessoas viajando juntas, principalmente com
crianças, maior o desejo de evitar erros numa viagem”, finaliza. Para 30%, a
preferência é fazer com o par romântico, e 15%, com amigos.
Logo, a
comunicação clara e a digitalização dos negócios são essenciais para continuar
no mercado de turismo. Isso porque, para 27%, a busca na internet é o que mais
inspira na escolha do próximo destino. Na sequência, 21% preferem recomendação
de amigos, 15% seguem o Instagram e 13% optam pelas dicas de influenciadores ou
blogs de viagem.
Haverá muita
mudança no perfil do viajante no pós-pandemia. Embora 53% disseram acreditar
que teremos apenas algumas mudanças, mas não muito significativas, 43%
responderam que as viagens serão totalmente diferentes depois da pandemia. “E
aqui cabe a atenção do empresário ao fato de que essas mudanças não serão
necessariamente no perfil de compra do turista (de hotel para pousada, de campo
para praia etc.), até porque os números mostram que, no geral, não deverá ter
muitas alterações do gênero. O diferente será na preocupação com protocolos
sanitários do destino (cidade, hospedagem, transporte etc.) e nas condições de
compra (remarcação e cancelamento). Por isso, a palavra ‘comunicação’ é o
grande destaque neste momento”, finaliza Mariana.
Por fim, não se
pode esquecer que o Brasil é um país com 8 mil quilômetros de praias. Os
milhares de negócios, de todos os portes, dependentes deste grande atrativo
turístico, podem usar a experiência, nos próximos meses, para fidelizar
clientes e abrir novos mercados, garantindo demanda com promoções para os
períodos de baixa ocupação. É o momento ideal para fazer uma boa gestão de
preços – atraindo um público mais propenso a escolher períodos de baixa
temporada – e já ampliar a previsão de receita para o próximo ano.
Sobre a pesquisa
O questionário foi aplicado de 26 de
outubro a 9 de novembro de 2020, gerando 833 respostas completas, na maioria,
de mulheres (65,43%). A origem dos respondentes foi do Brasil (40,58%), México
(29,65%), Colômbia (17,05%), Chile (5,40%), Argentina (5,04%), Peru (0,72%) e
outros (1,56%). Faixas etárias: 45 a 54 anos (28,57%), 35 a 44 anos (26,05%), 25
a 34 anos (23,17%), 55 a 64 anos (12,12%), 65 anos ou mais (5,16%) e 18 a 24
anos (4,92%).