Entra ano e sai ano a violência fica cada vez mais
exposta nos noticiários. E uma parcela importante para o futuro do nosso país é
a que mais sofre com esta situação: os jovens. Mais uma vez alarmante, o novo
Atlas da Violência - divulgado esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública – mostra que o Brasil
alcançou a marca histórica de 62.517 homicídios no ano de 2016. Deste número,
53,7% são jovens entre 15 a 19 anos.
No país, 33.590 adolescentes saíram de casa e não
voltaram em 2016, sendo que 94,6% eram do sexo masculino. Entre os homens, o
crime mata mais do que qualquer doença, batendo 56,5% das causas de óbito.
Os dados também mostram como as políticas de
segurança e públicas (que criam oportunidades para este público) são falhas e
ineficientes. Os números aumentaram 7,4% em relação ao ano anterior.
Considerando a década de 2006-2016 o país sofreu um aumento de 23,3%.
Nada efetivo foi feito para trazer segurança para
as nossas crianças e isso é um problema complexo que começa na falta de
investimento em educação. Sem ensino, sem oportunidade. Com isso, o crime
aparece como única solução, principalmente para a parcela mais pobre da
população. Isso sem contar a falta de investimento em infraestruturas básicas
como saúde, moradia e transporte. Essa conta chega a um resultado muito triste.
Jogamos mais uma geração na mão do crime organizado que a usa como bem entende.
Que a usa como soldados.
O estudo aponta outra questão que deve ser
debatida: em alguns estados o problema é ainda maior que em outros. Enquanto
houve redução nestas taxas em São Paulo, por exemplo, no Rio Grande do Norte
cresceu 382,2% entre 2006 e 2016. Isto é reflexo da falta de uma visão geral da
situação pelos governantes.
Mostra como nossos políticos federais (deputados,
senadores e presidente) não conseguem coordenar políticas integradas. O crime
se espalha pelas periferias, seja em uma favela ou em estados mais pobres. As
facções são as mesmas do Oiapoque ao Chui e, na maioria das vezes, passam
dessas fronteiras para outros países. Em contraponto, as ações de nossas
polícias são cada vez mais locais. Um contraste mortal. Qualquer ação, como uma
intervenção em um estado, não fará cócegas aos problemas. A questão deve ser
tratada nacionalmente.
A situação é claramente preocupante, mas enquanto
postergarmos as medidas de longo prazo, mais estes números baterão marcas
históricas. É necessário investir nos nossos jovens hoje, para que se tornem
adultos mais conscientes e ajudem a mudar o Brasil. Atualmente, a luta é ainda
mais atrás. Não conseguimos deixá-los chegarem a fase adulta. O nosso futuro
está morrendo na nossa frente. Como pensar em novos políticos, se não deixarmos
nossos jovens crescerem?
Marco Antônio Barbosa - especialista em
segurança e diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em administração de
empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e
negócios.