Digitalização avança, mas setor ainda enfrenta fragilidades que podem comprometer a proteção de dados e a continuidade do atendimento
O setor de saúde se tornou o principal alvo de ataques cibernéticos no mundo, ultrapassando empresas do setor financeiro e de consumo, segundo a pesquisa Digital Trust Insights 2025, da PwC. O estudo, que ouviu mais de 4 mil executivos de negócios e tecnologia em 77 países, incluindo o Brasil, revela que hospitais, clínicas e operadoras de planos de saúde estão no centro da mira dos criminosos digitais devido ao vasto volume de dados sensíveis que armazenam.
No Brasil, o cenário é ainda mais crítico. O país está entre os mais vulneráveis a ataques cibernéticos na área da saúde, com 12% dos incidentes globais registrados no setor apenas no primeiro semestre de 2023, de acordo com dados globais. Paralelamente, o segmento representa cerca de 10% do PIB brasileiro e deve movimentar R$ 980,3 bilhões até o final de 2024, conforme o relatório Panorama e Perspectivas da Cadeia de Saúde do Brasil 2024.
Esse crescimento exponencial é impulsionado por investimentos globais no setor de cibersegurança, que movimentaram US$ 12,2 bilhões em 2023, com expectativa de atingir US$ 34,7 bilhões até 2029, segundo a National Library of Medicine. No Brasil, essa transformação é facilmente identificada pelo aumento da oferta de serviços online aos pacientes: entre 2022 e 2023, o agendamento de consultas pela internet subiu de 13% para 34%, e a visualização de prontuários eletrônicos dobrou no mesmo período, conforme levantamento do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Além disso, a telemedicina se consolidou como uma ferramenta essencial para ampliar o acesso à saúde, com um salto de 172% nas consultas remotas entre 2020 e 2023, atingindo a marca de 30 milhões de atendimentos virtuais, segundo a Fenasaúde.
Para Eduardo Lopes, CEO da Redbelt Security, consultoria especializada em cibersegurança, essa revolução digital na saúde traz um paradoxo preocupante: ao mesmo tempo em que melhora a eficiência dos serviços médicos, amplia a superfície de ataque para cibercriminosos. “Nunca antes tivemos tantos dados sensíveis circulando de forma digital. Informações médicas não são apenas confidenciais; elas podem ser usadas para extorsão, fraudes e até manipulação de diagnósticos. Um vazamento dessa magnitude não afeta apenas a reputação de uma instituição, mas coloca em risco a vida de pacientes”, alerta Lopes.
Além dos ataques,
as fragilidades internas do setor agravam o problema. Lopes explica que muitas
instituições ainda enfrentam desafios estruturais, como a falta de
profissionais especializados em cibersegurança, dificuldades para acompanhar a
evolução das ameaças e o alto custo das soluções de proteção digital. “Muitas
vezes, a cibersegurança é tratada como um problema secundário, quando, na
verdade, deveria estar no centro das decisões estratégicas. A falta de
investimento e de cultura em segurança abre brechas que tornam os sistemas
vulneráveis”, afirma.
O executivo
destaca que o impacto dos ataques vai além da privacidade dos dados. A interrupção
de sistemas pode significar cancelamento de cirurgias, perda de acesso a
históricos médicos e falhas críticas no atendimento. “O que estamos discutindo
aqui não é apenas um problema de compliance com a Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD), que estabelece diretrizes para a segurança de informações
pessoais no Brasil, mas uma questão de infraestrutura essencial para a
sociedade. Se um hospital tem seu sistema paralisado por um ataque, por
exemplo, isso pode comprometer o atendimento a centenas de pessoas em questão
de minutos e por tempo indeterminado”, reforça.
Diante dessa
realidade, ele alerta que a segurança cibernética precisa ser encarada como
prioridade estratégica na área de saúde. “A tecnologia avança, mas a segurança
não pode ficar para trás. Sem um planejamento robusto e investimentos contínuos
em proteção digital, o setor de saúde pode se tornar um dos mais impactados por
ataques cibernéticos nos próximos anos”, conclui Lopes.
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