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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Reality Show: um espelho das dinâmicas sociais e os desafios da saúde mental no confinamento


O impacto psicossocial do confinamento social forçado foi sentido por muitos de nós durante a pandemia da Covid-19, como medo, alteração de sono, ansiedade, depressão e frustração. Mesmo conhecendo e vivenciando os efeitos do isolamento, muitos, ano após ano, enviam inscrições para participação em reality shows promovidos pelas emissoras de TV brasileiras. 

Muitos destes programas têm sido marcados pela reverberação de pautas sociais, como o racismo e o assédio. Uma edição atual ganhou destaque ao mostrar o impacto do confinamento na saúde mental dos participantes, como abertura de debates sobre ansiedade e TDAH, levantadas por um participante após crise sofrida no mês passado. 

A psicanalista Flávia Anjos, vice-presidente do Sow Saúde Integral acredita que isso acontece devido ao fato desses programas serem verdadeiros laboratórios sociais, onde as complexidades do comportamento humano em situações de convivência forçada são observadas de perto. “Ao longo das edições, estes programas têm se mostrado um campo fértil para estudar fenômenos como o efeito manada nas dinâmicas de grupo. Uma forma de entender como nós, seres humanos, moldamos as nossas opiniões e certezas dependendo do grupo em que estamos ou ao que queremos pertencer, mesmo quando suas opiniões ou convicções pessoais são contrárias à massa”, esclareceu. 

No ambiente de confinamento, essa dinâmica ganha força devido à convivência intensiva e constante pressão, o que leva os participantes a buscarem formas de evitar o isolamento, garantindo, assim, sua aceitação dentro do grupo. Um exemplo clássico disso acontece nas votações para eliminação, onde muitos participantes preferem seguir o que é popular, temendo represálias ou simplesmente desejando ser parte de uma aliança. 

Para Flávia, o efeito manada é uma resposta natural ao medo de exclusão. No confinamento, esse medo se amplifica, pois os participantes sentem que sua "sobrevivência" no jogo depende da aceitação do grupo. Esse fenômeno não apenas revela a busca por pertencimento, que é um aspecto intrínseco ao ser humano, mas também destaca as dificuldades de manter a individualidade em um ambiente coletivo. “A pressão para se inserir em um grupo reflete as questões sociais que enfrentamos em nossa rotina, seja no trabalho, na escola ou nas redes sociais”, explica. 

Outro desafio psicológico presente é a Síndrome do FOMO (Fear of Missing Out), ou o medo de estar perdendo algo. Em um ambiente onde a interação social é constante e as oportunidades de se destacar são limitadas, a ansiedade de ser excluído ou de não estar inserido nas principais alianças pode ser avassaladora. 

A especialista afirma que os reality shows de confinamento tornam o FOMO ainda mais intenso, pois os participantes estão o tempo todo cientes das interações que acontecem ao seu redor. “Eles sabem que, se não se envolverem ativamente, podem ser deixados de fora das grandes movimentações do jogo, prejudicando sua posição ou imagem diante dos outros”, disse. A especialista completa que, “no contexto de um programa como este, ele se torna ainda mais dramático, pois os confinados não têm a possibilidade de desconectar ou encontrar alívio. Estão imersos 24 horas nas dinâmicas, e a exclusão imediata é uma ameaça constante.” 

A ansiedade gerada por esse medo é um dos maiores desafios emocionais enfrentados pelos participantes. A necessidade de se sentir parte de um grupo ou de uma estratégia pode fazer com que os indivíduos se sintam pressionados a tomar decisões apressadas, a comprometer seus próprios valores ou até a se envolver em disputas desnecessárias. 

Flávia explica que esse tipo de programa de entretenimento se configura como uma lição valiosa sobre a psiquê humana, as tensões da convivência social e os desafios da saúde mental no confinamento. “Em um ambiente de tensão e pressão, os participantes não apenas competem por um prêmio, mas também lidam com dilemas emocionais profundos que, muitas vezes, podem ser um reflexo do que acontece em nossas próprias vidas”, concluí.




Sow Saúde Integral

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