Ler torna o homem capaz de se relacionar consigo mesmo, consequentemente, com o mundo. É um processo essencial e atemporal, que transcende a decodificação; um ato de reconhecimento, compreensão, tradução, aceitação ou recusa. É como se apaixonar - quanto mais se aproxima da leitura, mais se encanta pelo conhecimento. Para mim, ler é alongar-se para abraçar o mundo. Obviamente, um ato necessário para democratizar o acesso ao conhecimento, enriquecer-se de literatura e promover um senso de identidade.
Nada melhor que essas figuras de linguagem para
defender a leitura como estratégia básica de desenvolvimento pessoal, social,
cultural e econômico do país, visto que é recurso de entendimento de todas as
áreas do conhecimento.
Como garantir que um indivíduo se desenvolva
enquanto cidadão crítico, como agente muito mais que protagonista, sem a
prática de uma leitura ativa e consciente, onde questões sociais e políticas
são muitas vezes complexas?
Pessoas mais letradas tendem a ser mais produtivas
e inovadoras, a ter mais controle de suas emoções, a ter mais engajamento com
questões sociais e pessoais. São muitos os benefícios socioemocionais
proporcionados pela leitura. Segundo Ziraldo (escritor e dramaturgo
brasileiro), a gente tem que ler como quem respira. Ou seja, precisa ser um
exercício diário e inesgotável.
Se alguém me pedir uma definição precisa do que é a
leitura, farei como Clarice Lispector fez ao entrevistar Chico Buarque em 1968,
perguntando-lhe “o que é o amor”, ambos disseram não saber. E nós, certamente,
diríamos o mesmo, diante das possibilidades e complexidade de respostas, frente
a um assunto/substantivo tão particular, completo e abstrato, quanto a leitura
(cada um possui e defende o seu individual, a sua realidade, seus gostos e
interesses). É preciso vivê-la, experimentá-la e tomar consciência de sua
importância.
E agora? Como incentivar cada vez mais estudantes a
gostarem de ler, diante de tanta ferramenta digital que lhes rouba o tempo e o
interesse? Qual o papel da escola diante de um cenário disruptivo na educação?
A 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no
Brasil” (2024), do IPL (Instituto Pró-Livro), aponta que mais da metade dos
brasileiros não lê livros; e ainda, que a escola tem deixado, cada vez mais, de
ser o lugar onde mais se pratica leitura. (Considera-se leitor a pessoa que
leu, ao menos, um livro nos últimos três meses, físico ou virtual). A pesquisa
apresenta dados preocupantes e, ao mesmo tempo, reveladores do quanto a
internet vem roubando o tempo e os hábitos dos estudantes; o que reforça a
necessidade de reorganização de políticas de incentivo à leitura e valorização
da mesma, como a predileção de espaços de leitura nas escolas, a exemplo das
bibliotecas.
Em primeiro lugar, incentivar a leitura desde a
infância é um investimento para um futuro com alunos leitores. E isso não é
tarefa só da escola, mas de toda a sociedade, sobretudo, da família. Mas, é na
escola que os estudantes são direcionados a diversas atividades de
desenvolvimento cognitivo, muitas vezes sendo o único lugar para isso.
Em segundo, todo indivíduo carece de repertório
para caber no mundo, e mais uma vez a escola se apresenta como primeiro palco
para isso, tendo em vista o quão importante é interagir com colegas e professores
para a troca, organização e construção de conhecimento.
Muitas escolas adotam livros como complementação
pedagógica (paradidáticos), que oferecem abordagem mais prática, dinâmica e
contextualizada dos temas pertencentes à grade curricular. Isso é uma excelente
maneira de enriquecer a experiência educacional, visto que são projetos
literários que fomentam o debate e a reflexão, permitindo aos alunos explorarem
interesses pessoais, resolução de problemas, criticidade e respeito às
diferenças, além de aprimorarem o vocabulário, a atuação, a criatividade, a
escuta e o envolvimento com tecnologias (construção de e-book, uso de
aplicativos, etc.).
Como professora da área de linguagens, defendo os
projetos literários como ferramenta completa de fomento à leitura, de
letramento e letramento literário que, quando sob a supervisão dos professores,
com planejamentos organizados e cumpridos, proporcionam aos alunos, além de
objetivos pedagógicos, liberdade de expressão, da arte e da cultura, e ainda,
expansão e gosto pela leitura, levando-os a escolher e indicar novas leituras,
o que penso ser essencial para a construção de repertório além dos muros da
escola.
É claro que, diante o exposto, defendo a linguagem literária para a organização, construção e entendimento da vida, do mundo de cada um, tendo em vista as inúmeras possibilidades de construção da linguagem que a mesma permite.
14 motivos para ler
Ler educa e traz conhecimento.
Ler amplia e melhora o vocabulário.
Ler prepara para o futuro.
Ler estimula a criatividade.
Ler impulsiona a formação crítica.
Ler estimula o interesse cada vez mais por leitura.
Ler é um exercício de alma, íntimo, particular.
Ler ensina a pensar e a ouvir (ouvir-se).
Ler favorece a construção de repertório cultural.
Ler dá poder de concentração e reflexão.
Ler oferece ferramentas para discernir.
Ler ensina a restringir, explicar e rechaçar.
Ler capacita para ser e estar no mundo.
Ler forma leitores.
Márcia Maria Santos Neves - Professora do Colégio Progresso Bilíngue de Santos há mais de 10 anos com formação em Letras (Português e Espanhol) pela Universidade Católica de Santos, pós-graduada em Alfabetização e Letramento e autora dos livros “Grades de liberdade”, “Poesia o lugar encantado das crianças” e “Haicais Bucólicos”, além de participações em muitas antologias e revistas literárias. Colabora para a Revista Internacional The Bard, desde 2024, escrevendo a Coluna Nossa Literatura – virtudes poéticas.
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