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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Gravidez na adolescência e prematuridade são desafios duplos para a saúde da mãe e do bebê

A gravidez na adolescência, ausência de pré-natal,
doenças gestacionais e desinformação são os principais
 motivos para os altos índices de partos prematuros no Brasil.
 Freepik

Últimos dados divulgados pelo DataSUS, de 2023, mostram quase 40 mil partos prematuros em adolescentes; ONG Prematuridade.com destaca as principais consequências da gestação precoce e apoia a campanha do Ministério da Saúde 

 

A primeira semana do mês de fevereiro (entre os dias 1 e 8) é marcada pela campanha nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Instituída pelo Ministério da Saúde, a data tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre os desafios e impactos da gravidez precoce, entre eles, a prematuridade. 

Dados coletados pelo Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC)¹, divulgados no mês de dezembro, e referentes à 2023, revelam que, de um total de 2.537.012 nascimentos registrados no país naquele ano, a taxa média de prematuridade foi de 11,95%*. As informações, analisadas por região e unidade da federação, mostram variações significativas tanto no percentual de prematuros quanto no número absoluto de nascidos vivos. 

Os dados trazem outro dado alarmante: meninas que se tornaram mães entre 10 e 14 anos somaram 2.608 partos de bebês prematuros, enquanto, na faixa etária de 15 a 19 anos, o número aumenta significativamente: 37.237 partos de bebês prematuros (abaixo de 37 semanas de gestação) em todo o território brasileiro. A amostra por regiões aponta que o total de bebês prematuros nascidos de mães entre 10 e 14 anos, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, é de 1.613 — quase o dobro do número registrado nas outras três regiões brasileiras juntas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), que somam 995 partos prematuros. 

A relação entre a gravidez na adolescência, questões financeiras e desenvolvimento acadêmico é destacada pela diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani. “Essa adolescente acaba, muitas vezes, abandonando os estudos, o que prejudica seus projetos de vida como um todo. A gravidez precoce é uma grande bola de neve e requer a implementação de políticas públicas efetivas direcionadas a essa população, para um combate eficaz”, ressalta. 

Outra questão são desafios que podem ser enfrentados a longo prazo por esses bebês, como sequelas motoras e cognitivas. A prematuridade impacta, ainda, os custos no sistema de saúde, já que a internação em unidades de terapia intensiva neonatal envolve uma série de tratamentos especializados, como ventilação mecânica, monitoramento constante e administração de medicamentos. 

De acordo com um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, 2021), fatores como gravidez na adolescência, ausência de pré-natal, doenças gestacionais e desinformação são os principais motivos para os altos índices de partos prematuros no Brasil. A diretora ressalta que as disparidades regionais evidenciam o quanto é relevante olhar com mais atenção para a influência de determinantes sociais, como fatores econômicos, culturais e étnico-raciais, no acesso e na qualidade dos cuidados de saúde. 

“Precisamos estudar o que os dados nos dizem e atuar com mais efetividade, especialmente nos locais que padecem com assistência pré-natal e neonatal precárias, como Roraima, que tem mais de 18% de nascimentos prematuros, taxa que supera a de países da África Subsaariana, uma das regiões mais pobres do mundo. A prematuridade é uma emergência social. Todos somos afetados, e precisamos unir esforços para garantir melhorias para a população”, salienta Denise. 

Comparativo Histórico - Um levantamento da ONG Prematuridade.com, com base em dados do DataSUS, analisou os índices de prematuridade entre 2017 e 2021, em estados e idades das mães. A média nacional passou de 10,95% em 2017 para 11,57% em 2021. O Acre liderou o período analisado com a maior taxa de prematuridade (14,02%), seguido por Roraima (13,98%) e Amapá (13,82%); Rio Grande do Norte (12,79%) e, por fim, o Rio Grande do Sul (12,04%). 

A análise dos dados também revelou uma tendência de aumento na taxa nacional de prematuridade. Em 2017, o Brasil registrou uma média de 10,95% de nascimentos prematuros. No ano seguinte, o percentual subiu para 11,05%. Em 2019, a média evoluiu para 11,42%; em 2020, atingiu 11,45%; e, em 2021, chegou a 11,57%. 

A prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil antes dos cinco anos de idade. O Brasil está no ranking global entre os dez países com partos prematuros, que resultam em uma taxa de mortalidade infantil 10 vezes maior do que a causada pelo câncer. Quando se trata de gravidez precoce, os riscos aumentam.

Dados do Ministério da Saúde revelam que durante o primeiro ano de vida, filhos de mães adolescentes apresentam uma taxa de mortalidade infantil de duas a três vezes maior do que a de filhos de mães adultas, além de um aumento de seis vezes na incidência da síndrome da morte súbita. 

Diante desse cenário, a diretora da entidade ressalta que muitas meninas em situação de vulnerabilidade, que enfrentam uma gravidez na adolescência, não recebem o acompanhamento médico adequado durante a gestação. Outro fator relevante para a saúde dessas jovens mães é o alto risco da gravidez para a gestante. “Isso implica uma maior probabilidade de mortalidade materna, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, hipertensão, anemia, infecções urinárias, entre outros problemas”, explica Denise.
 

Notas¹: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) é gerenciado pelo Ministério da Saúde do Brasil, criado para monitorar e registrar os nascimentos no país. Dados finais disponíveis até 2022 e preliminares referentes a 2023. Data da atualização dos dados 08/2024.


  *Dados sobre nascidos vivos no Brasil em 2023

 

Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com


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