Pesquisa revela o que mais preocupa os jovens de 18 a 27 anos. Entre as aspirações, vontade de empreender supera o interesse em emprego com carteira assinada.
Uma
pesquisa ampla realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência em parceria com o
Instituto IDEIA trouxe à tona os desafios e as aspirações dos jovens
brasileiros entre 18 e 27 anos. Em setembro foram ouvidos 1.034 jovens,
revelando um panorama que contempla temas relacionados a aspectos da vida
pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro,
posições ideológicas e percepções sobre o país.
Os principais destaques do levantamento foram divulgados
nesta sexta-feira, 20/12.
Na avaliação de Pedro Arantes, professor da Unifesp
e pesquisador do SoU_Ciência, a pesquisa coordenada por ele revela dados “que
devem ser interpretados como alertas à sociedade e aos poderes públicos”,
afirma. “Nossas autoridades e gestores públicos e privados não podem ignorar,
por exemplo, que o fato de quase 40% de nossos jovens apontarem a ansiedade e a
depressão como seu principal problema, configura uma questão de saúde pública”.
Saúde mental no topo das
preocupações – Ansiedade e depressão foram apontadas como os
maiores desafios pessoais por 38% dos entrevistados. O dado representa um
aumento em relação a 2021, quando o tema ocupava o terceiro lugar com 32%.
Mulheres mencionaram essas questões com maior frequência do que homens (43%
contra 32%). Entre os universitários, 51% indicaram ansiedade e depressão como
principais problemas, em comparação a 32% entre aqueles que não frequentam o
ensino superior.
Outros problemas relacionados à saúde mental também
foram destacados. O vício em celular e redes sociais teve um aumento de 41%
entre 2021 e 2024, sendo mais citado por mulheres (27%) e jovens de classe AB
(27%). O consumo de drogas foi mencionado por 22%, com destaque entre jovens de
classe C (30%) e aqueles com ensino superior completo (34%).
Corrupção: o maior problema do
país – A corrupção foi mencionada por 34% dos jovens como
o principal problema do Brasil. Esse percentual representa um aumento em
relação aos 26% registrados em 2021. A preocupação com o tema foi mais comum
entre homens (40%) e jovens da classe AB (37%). Entre os jovens de direita ou
centro-direita, 52% consideraram a corrupção como o maior desafio nacional. Já
entre aqueles que se identificam como de centro, o índice foi de apenas 21%.
A violência e a falta de segurança foram o segundo
maior problema apontado, com 30% das respostas, uma queda em relação aos 35%
registrados em 2021. Mulheres (33%) e jovens da classe DE (30%) destacaram essa
questão com maior frequência. O Nordeste foi a região onde o tema apresentou
maior relevância, sendo citado por 33% dos jovens.
Por outro lado, fome e pobreza, que eram a
principal preocupação em 2021 com 66%, caíram para 18%, ocupando a oitava
posição no levantamento atual.
Empreendedorismo versus
carteira assinada – Ter o próprio negócio é a maior aspiração
profissional de 30% dos jovens entrevistados. O interesse é mais comum entre
mulheres (34%) e jovens pretos (31%) e pardos (32%), superando brancos (27%).
Regionalmente, o Centro-Oeste registrou o maior percentual (37%), enquanto o
Nordeste apresentou o menor índice (27%).
Quanto ao emprego com carteira assinada, apenas 11%
dos jovens manifestaram interesse, embora este modelo seja a fonte de renda
atual para 41% deles. Entre aqueles com ensino superior completo, o interesse
no empreendedorismo atinge 31%, enquanto o desejo por um trabalho com registro
em carteira é de apenas 8%.
A carreira no funcionalismo público foi mencionada
por 18% dos jovens, com destaque entre os que se identificam como de esquerda
(28%). A possibilidade de viver de investimentos também aparece como aspiração
para 18% dos entrevistados, apesar de atualmente representar fonte de renda
para apenas 1%.
Polarização ideológica e
distanciamento político – A maioria dos jovens (67%) afirmou não se
identificar nem com a esquerda nem com a direita. Eles se dividem entre os que
afirmaram nunca ter tido posição política (31%), os que “não sabem ou preferem
não responder” (20%) e os que já tiveram posição política, mas não a têm mais
(7%) e os de centro (9%). Entre os 33% que possuem um posicionamento
ideológico, 16% se declaram de esquerda ou centro-esquerda, e 17% de direita ou
centro-direita.
A polarização esquerda-direita é mais evidente em
temas de costumes, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apoiado por
79% dos jovens de esquerda e apenas 27% dos de direita. Da mesma forma, as
escolas cívico-militares são apoiadas por 69% dos jovens de direita, mas apenas
26% dos de esquerda. As opiniões também divergem sobre cotas universitárias,
apoiadas por 66% dos jovens de esquerda e 33% dos de direita.
Meio ambiente: a nova
fronteira de preocupação – A crise ambiental foi citada como um dos principais
problemas do país por 24% dos jovens, representando um aumento de 243% em
relação a 2021, quando o índice era de apenas 7%. A preocupação é mais comum
entre mulheres (27%) e jovens de esquerda (32%).
Regionalmente, a pauta ambiental aparece com maior
força no Centro-Oeste, onde 29% dos jovens consideram o tema uma prioridade, à
frente da violência e segurança. No Sul, 27% também destacaram a questão,
enquanto no Sudeste o índice é de 21%.
Sobre o levantamento – A pesquisa
“O que pensam os jovens brasileiros” foi realizada pelo Centro Estudos
Sociedade, Universidade e Ciência (Sou_Ciência), da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA.
Entre 16 e 23 de setembro de 2024 foram
entrevistados 1.034 jovens de 18 a 27 anos, de todas as regiões do país, via
telefone celular. Os dados foram ajustados com base no censo mais recente do
IBGE para refletir o perfil real da juventude brasileira.
A margem de erro é de 3 pontos percentuais, com
intervalo de confiança de 95%. Para garantir resultados precisos, os
questionários passaram por uma rigorosa checagem de qualidade.
As
55 perguntas do questionário abordaram temas relacionados a aspectos da vida
pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro,
posições ideológicas e percepções sobre o país.
GRÁFICO –
Principais problemas dos jovens segundo eles mesmos (setembro 2024)
(Pergunta permite até três respostas).
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, set/24. |
GRÁFICO – Principais problemas do Brasil, segundo jovens, em 2021 e
2024.
(A pergunta permite até três respostas. Em 2021,
respostas de jovens de 16 a 29 anos. Em 2024, de 18 a 27 anos).
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, out/21 e set/24. |
GRÁFICO – Orientação político-ideológica autodeclarada dos jovens de 18
a 27 anos
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, set/24.
TABELA – Variação entre 2021 e 2024 na indicação dos principais
problemas do Brasil segundo os jovens.
(Em 2021, respostas de jovens de 16 a 29 anos. Em
2024, de 18 a 27 anos).
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, out/21 e set/24. |
GRÁFICO – Tipos de trabalho desejados pelos jovens brasileiros
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, set/24. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário