Procedimento é a cura para
endometriose? O Dr. Patrick Bellelis tira as principais dúvidas sobre a
cirurgia de remoção do útero
Apesar de ser uma intervenção comum — são cerca de 300 mil cirurgias do tipo anualmente no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, a histerectomia ainda é um procedimento cercado de dúvidas, especialmente sobre seu efeito no tratamento da endometriose.
A operação envolve a remoção total ou parcial do útero, visando tratar diversas condições ginecológicas, incluindo cânceres, fibromas uterinos, endometriose grave e outras patologias.
Para esclarecer as incertezas sobre o procedimento e como ele pode
ajudar no controle da endometriose, o Dr. Patrick Bellelis, médico
ginecologista colaborador do Hospital das Clínicas da Universidade de São
Paulo, aborda os principais mitos e verdades relacionados ao tema. Confira, a
seguir:
A histerectomia é a solução para a endometriose — Mito!
Este é um dos erros mais comuns em torno da histerectomia. Segundo o Dr. Patrick, a ideia de que este procedimento cirúrgico seja a única alternativa para endometriose, ou até mesmo a cura para a doença, é equivocada. A endometriose, por definição, se situa fora do útero; então, a cirurgia isolada, sem remoção dos demais focos e lesões, geralmente não é eficaz no tratamento da dor pélvica causada pela condição.
“Existem diversos outros tratamentos, como terapias hormonais, medicamentos e intervenções minimamente invasivas que podem ser eficazes dependendo do quadro clínico da paciente,” comenta o especialista.
A histerectomia é considerada apenas em casos específicos e após
avaliação cuidadosa das necessidades de cada mulher por seu médico
especialista. “Existem, porém, sintomas e outras condições decorrentes do
quadro de endometriose que podem se desenvolver, culminando na necessidade da
intervenção cirúrgica de retirada do útero. Mas a histerectomia por si só não é
cura para endometriose”, complementa.
A recuperação da histerectomia leva tempo — Verdade!
A recuperação da cirurgia não costuma ser rápida, e sua duração varia de pessoa para pessoa, exigindo muita atenção e cuidado. O processo deve ser acompanhado de perto por um profissional para garantir que evolua de forma segura e para ajudar a paciente a lidar com todas as mudanças físicas e emocionais que podem ocorrer no pós-operatório.
“Existem casos de recuperação rápida, mas geralmente ela costuma
ser mais demorada do que se imagina. É preciso respeitar os limites do corpo,
seguir as orientações médicas, evitar atividades físicas intensas e dar tempo
para a cicatrização ocorrer adequadamente. O retorno às atividades normais pode
levar de semanas a meses, dependendo de fatores como a extensão da cirurgia, o
estado de saúde geral da paciente e os cuidados pós-operatórios”, explica.
Após a retirada do útero, é obrigatório fazer reposição
hormonal — Mito!
Muitas mulheres acreditam que a histerectomia implica automaticamente na reposição hormonal. No entanto, de acordo com o ginecologista, essa ideia é falsa em princípio, mas deve-se observar cada caso individualmente.
“A necessidade de reposição hormonal após a retirada do útero depende da idade da paciente, do motivo da cirurgia e, principalmente, se os ovários foram preservados ou não”, explica. “Quando os ovários são mantidos, a produção de hormônios continua normalmente, e a reposição hormonal pode não ser necessária.”
Por fim, é importante enfatizar sempre que cada caso é único, e que um diagnóstico preciso e acompanhamento adequado são essenciais para a escolha do melhor tratamento. “A mulher deve buscar a orientação de um especialista que possa avaliar sua situação clínica e discutir as alternativas terapêuticas. Não se deve partir da ideia de que a histerectomia é a única solução ou a cura para condições ginecológicas como a endometriose. Deve-se sempre avaliar junto ao médico a existência de tratamentos menos invasivos sempre que possível, visando o bem-estar e a qualidade de vida”, reforça o médico.
Clínica Bellelis – Ginecologia
Patrick Bellelis - Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP); graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC; especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Laparoscopia e Histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); além de ser especialista em Endoscopia Ginecológica e Endometriose pelo Hospital das Clínicas da USP. Possui ampla experiência na área de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade. Fez parte da diretoria da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) de 2007 a 2022, além de ter integrado a Comissão Especializada de Endometriose da FEBRASGO até 2021. Em 2010, tornou-se médico assistente do setor de Endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da USP; em 2011, tornou-se professor do curso de especialização em Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva — pós-graduação lato sensu, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês; e, desde 2012, é professor do Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário