Com as provas do Enem e da Fuvest sendo realizadas
nessa época, fiquei pensando na desafiadora tarefa de escolher uma profissão
pelos jovens. Esse momento, que pode parecer uma mera etapa acadêmica,
representa um dos marcos mais significativos na vida de um adolescente,
carregando consigo não apenas expectativas pessoais, mas também influências
familiares e sociais.
Historicamente, a trajetória profissional dos jovens
era frequentemente delineada pela continuidade de ofícios familiares, onde
filhos seguiam os passos de pais e avós, perpetuando tradições e valores.
Alguns encontravam satisfação e realização em seus papéis, enquanto outros se
viam presos em caminhos que não desejavam trilhar. Ao refletirmos sobre o
presente, é pertinente questionar até que ponto essas dinâmicas se
transformaram.
De fato, ainda observamos muitos jovens herdando
profissões de seus pais, como médicos, engenheiros, advogados e professores.
Essa continuidade sugere que, embora o contexto social tenha mudado, as
pressões e expectativas familiares ainda desempenham um papel crucial na
escolha profissional.
De acordo com uma pesquisa do LinkedIn realizada em
2019, os pais ainda estão entre as maiores influências na vida de uma pessoa na
hora de escolher a carreira. Cerca de 26% dos respondentes confirmaram o peso
da família sobre essa decisão.
A complexidade desse processo se torna ainda mais
evidente quando consideramos a maturidade emocional e cognitiva dos
adolescentes. Eles se veem diante de uma decisão vital em um momento em que
estão ainda em fase de autodescoberta, frequentemente enfrentando crises de
identidade.
Adicionalmente, fatores econômicos, culturais e
sociais influenciam diretamente as possibilidades que cada jovem possui,
criando uma rede de desigualdades que perdura ao longo das gerações. Aqueles
que crescem em contextos de carência enfrentam barreiras significativas na
construção de suas carreiras, enquanto jovens de famílias abastadas desfrutam
de oportunidades que lhes proporcionam uma visão de mundo mais ampla e
globalizada.
O contraste entre as gerações também é evidente.
Enquanto os jovens de hoje têm acesso a uma educação bilíngue e oportunidades
internacionais, as gerações passadas eram limitadas às realidades locais,
muitas vezes buscando formação fora do país apenas para retornar com um status social
elevado. Atualmente, as fronteiras parecem ter desaparecido; a comunicação
global é parte do cotidiano, mas isso também traz novos desafios e
expectativas.
Outra pesquisa sobre escolha de profissão foi
realizada pela Universidade Anhembi Morumbi, entre os meses de fevereiro e
abril deste ano, com 18.477 alunos do 3º ano do ensino médio na cidade de São
Paulo que revelou que 59% desses estudantes já escolheram a carreira que querem
seguir – nas escolas públicas, o índice chega a 63%. Entre aqueles que já estão
decididos, contudo, menos da metade (46%) revelou ter mantido algum contato com
a profissão escolhida. O estudo aponta ainda que 27% de todos os estudantes têm
dúvidas sobre o mercado de trabalho.
O sistema educacional brasileiro, ao forçar decisões
profissionais em uma fase tão prematura, pode agravar essa crise de identidade.
Os adolescentes precisam não apenas escolher uma carreira, mas também
compreender as expectativas que suas famílias têm sobre eles. Essa pressão pode
resultar em escolhas que não refletem suas verdadeiras paixões e interesses.
Por isso, o autoconhecimento torna-se essencial.
É fundamental que os jovens explorem suas
habilidades, interesses e valores antes de se comprometerem com uma trajetória
profissional.
Fato este, que é comprovado por um levantamento feito
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), do Ministério
da Educação, de 2019, que apontou que 59% dos alunos desistem de seus cursos ao
ingressarem na faculdade.
A influência familiar, embora inegável, pode ser um
fator de dupla face. Pais que projetam suas frustrações em seus filhos podem
criar um ambiente de pressão que dificulta a escolha autêntica da profissão. A
história é repleta de exemplos de filhos que seguem carreiras que não desejam,
motivados por sonhos alheios. Portanto, criar um espaço onde os jovens possam
separar suas aspirações pessoais das expectativas familiares é crucial para uma
escolha mais consciente e gratificante.
Em um mundo onde as opções profissionais se
multiplicaram, a pesquisa e a busca de informações sobre diversas carreiras são
imprescindíveis. Conversar com profissionais da área e vivenciar experiências
práticas podem oferecer uma visão realista e valiosa, ajudando na formação de
decisões mais fundamentadas e alinhadas ao que realmente desejam.
Se, mesmo com todo esse suporte, a escolha ainda
parecer opressiva, buscar a orientação de profissionais especializados em
desenvolvimento de carreira pode ser uma alternativa eficaz. Esses serviços não
apenas oferecem clareza, mas também proporcionam um espaço seguro para que os
jovens possam refletir sobre suas escolhas, um presente valioso que os pais
podem oferecer.
Por fim, em uma sociedade que valoriza cada vez mais
o trabalho como um aspecto central da vida, é fundamental que as escolhas
profissionais sejam feitas com um olhar atento ao propósito e à satisfação
pessoal. Afinal, as decisões que tomamos nessa fase moldarão não apenas a
carreira, mas também a qualidade de vida que levarão por muitos anos. A escolha
da profissão deve ser, portanto, um passo consciente rumo a uma vida
significativa e plena.
Viviane Gago - advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site
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