A
psicóloga e fundadora da Comunidade Tribo Mãe, Marília Scabora, explica
como pais podem ajudar crianças e adolescentes a combater esse mal, além de
ensinar as diferenças entre a ansiedade situacional e o transtorno de ansiedade
Em 2022, um estudo
publicado na revista JAMA Pediatrics chamou a atenção para um dado alarmante:
houve um salto de 29% no número de crianças e adolescentes até 17 anos diagnosticadas
com ansiedade nos Estados Unidos; esse levantamento compreendeu 174 mil
crianças no período de 2016 a 2020. Já no Brasil, o advento da pandemia do novo
coronavírus teve um impacto na saúde mental dessa população: uma pesquisa do
Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP) mostrou que, em
2023, 35% dos jovens desenvolveram ansiedade ou depressão nesse período.
“Os sinais mais
comuns de ansiedade em crianças e adolescentes incluem mudanças de
comportamento, como irritabilidade, inquietação, dificuldade de concentração,
alterações no sono e na alimentação. Fisicamente, podem se queixar de dores de
cabeça, dores no estômago, ou sentir a respiração mais acelerada. Muitas vezes,
eles evitam situações sociais ou atividades que antes eram prazerosas. Em
adolescentes, a preocupação excessiva com o futuro ou o desempenho pode ser um
indicador importante”, explica Marília Scabora, psicóloga e fundadora da Tribo Mãe.
A psicóloga também
diz que há dois tipos de ansiedade aos quais os pais devem se atentar: a
situacional, ligada a provas ou eventos específicos, e o transtorno de
ansiedade, que tende a ser mais persistente e interfere nas atividades diárias
da criança ou adolescente. “Se a ansiedade é desproporcional ao evento, dura
por semanas ou meses, e afeta sua capacidade de funcionamento em casa, na
escola ou nas interações sociais, é importante buscar uma avaliação
profissional”, alerta.
Como
ajudar durante as crises de ansiedade
Para Marília, uma
rotina que equilibre momentos de estrutura e flexibilidade pode trazer
benefícios para crianças e adolescentes. “Uma rotina que equilibre momentos de
estrutura e flexibilidade pode ser benéfica. Horários definidos para dormir,
comer e estudar, intercalados com atividades livres, ajudam a criança a prever
o que vai acontecer, o que traz segurança. Além disso, incluir momentos de
conexão com os pais, como ler juntos, caminhar ou fazer algo criativo,
fortalece o vínculo e cria um ambiente acolhedor e estável”, diz.
Fora atividades
que coloquem o corpo em movimento, em especial ao ar livre, que ajudam a
descarregar a energia acumulada, e aquelas que trazem maior proximidade entre
pais e filhos, a especialista lista cinco dicas importantes que ajudam nos
momentos de crise de ansiedade. Confira-as:
1.
Validação emocional: “Escutar o
que a criança ou adolescente sente, sem minimizar suas preocupações, criando um
espaço seguro para que eles possam expressar seus medos”, começa.
2.
Criação de estratégias de respiração: “Ensinar
técnicas simples de respiração, como inspirar lentamente pelo nariz e expirar
pela boca, ajuda a criança a recuperar o controle quando se sentir ansiosa”,
ensina.
3.
Manutenção de uma rotina estruturada: “Crianças
e adolescentes se sentem mais seguros em um ambiente previsível. Estabelecer
horários regulares para atividades diárias, como refeições, estudos e sono,
pode reduzir a ansiedade”, conta.
4.
Estimular o contato com a natureza: “O
simples ato de caminhar ao ar livre, brincar em parques ou praticar jardinagem
pode ser muito eficaz para aliviar a ansiedade”, prossegue.
5.
Criar oportunidades de autocuidado e relaxamento: “Incentivar práticas como o mindfulness, a meditação
ou até mesmo o simples ato de brincar e se divertir, sem pressões, pode ajudar
a regular as emoções”, finaliza.
“É importante que
os pais estejam atentos ao próprio nível de estresse e ansiedade, pois as
crianças captam esses sinais. Cuidar da saúde mental da família como um todo
cria um ambiente mais equilibrado para todos. Além disso, respeitar o tempo e o
processo de cada criança é essencial. Nem todas as estratégias funcionarão de
imediato, mas a presença constante e o apoio emocional fazem uma grande
diferença no enfrentamento da ansiedade”, conclui Marília.
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