De acordo com análises conduzidas por pesquisadores da USP, manter o corpo fisicamente ativo favorece o controle da doença, mesmo entre pessoas com rotina sedentária. Por outro lado, inatividade física e sintomas de ansiedade e depressão estão associados ao efeito contrário
Caminhar pelo menos 7.500
passos diários, pode contribuir para o controle da asma moderada ou severa em adultos.
É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (FM-USP), publicado recentemente
em The Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice.
O trabalho, selecionado pelos
editores da revista científica como artigo que modifica a prática clínica,
sugere que as recomendações médicas e as políticas públicas concentrem esforços
no incentivo ao aumento da prática de atividade física, em vez de focar na
redução de períodos de sedentarismo.
Apesar de popularmente serem
considerados hábitos excludentes, a prática de atividade física e o
comportamento sedentário podem ocorrer de forma concomitante. Isso porque a
pessoa pode ser sedentária (ficar mais que 8 horas trabalhando sentada) e ser
fisicamente ativa (realizar atividades moderadas durante, pelo menos, 150
minutos semanais).
“Na maioria das vezes, as
pessoas mesclam as duas situações: realizam atividade física três vezes por
semana, por uma hora, mas trabalham o dia inteiro sentadas em um escritório”,
explica Celso Ricardo Fernandes de Carvalho,
professor de Fisioterapia Respiratória e Fisiologia do Exercício do curso de
fisioterapia da FM-USP e orientador do estudo. “Isso significa que elas são
ativas, mas também sedentárias, ou seja, exibem os dois comportamentos ao mesmo
tempo.”
A literatura científica já
indicava que tanto a atividade física quanto o sedentarismo podem modular os
sintomas da asma – entre eles dificuldade para respirar, respiração rápida e
curta e tosse seca –, mas ainda faltavam estudos aprofundados sobre seu impacto
real, de modo que o tratamento da doença, que afeta cerca de 6,4 milhões de
brasileiros, se mantém majoritariamente medicamentoso. O objetivo deste
trabalho, que teve apoio da FAPESP (projetos 18/17788-3, 21/04198-6 e 22/09628-1), foi
investigar mais a fundo essa relação, considerando a variedade de
comportamentos relacionados.
Durante o estudo, os
pesquisadores analisaram dados de 426 pessoas das cidades de São Paulo e
Londrina com asma moderada a grave. Foram incluídas avaliações de atividade
física e tempo de sedentarismo (actigrafia), de controle clínico da asma
(Asthma Control Questionnaire – ACQ) e de qualidade de vida (Asthma Quality of
Life Questionnaire). Também foram investigados sintomas de ansiedade e
depressão (Hospital Anxiety and Depression Scale) e dados antropométricos e de
função pulmonar. Os participantes foram divididos em quatro grupos:
ativo/sedentário, ativo/não sedentário, inativo/sedentário e inativo/não
sedentário.
“Observamos que, quanto mais
atividade física a pessoa com asma realiza, melhor é o controle de sua doença”,
conta Fabiano Francisco de Lima,
pesquisador da FM-USP e primeiro autor do trabalho.
Mais especificamente, quem
caminhava pelo menos 7.500 passos durante o dia apresentou melhores pontuações
na avaliação de controle clínico da doença, independentemente de também
apresentar comportamento sedentário – aliás, tempo sedentário e obesidade não
apresentaram correlação com a redução de sintomas. Verificou-se também que isso
independia de medicação e função pulmonar.
A porcentagem de pacientes com
asma controlada foi maior nos grupos ativo/sedentário (43,9%) e ativo/não
sedentário (43,8%) do que nos grupos inativo/sedentário (25,4%) e inativo/não
sedentário (23,9%).
Os resultados sugerem ainda que
fatores emocionais, como ansiedade e depressão, também dificultam o controle da
doença.
Novas
perspectivas
Embora a prática de atividade
física por pessoas com asma já seja recomendada por profissionais de saúde, o
tema ainda é visto com receio por parte da população. Isso porque as pessoas
com asma sofrem a contração dos músculos das vias aéreas durante as crises.
“O costume de evitar que crianças
e adultos pratiquem exercícios por conta da doença precisa começar a ser
quebrado”, diz Lima. “Esse estudo contribui para isso ao sugerir a caminhada,
atividade simples e sem custo agregado, e vai além, ao oferecer uma espécie de
‘nota de corte’, uma indicação da quantidade real de atividade física que o
paciente deveria fazer – 7.500 passos por dia.”
De acordo com o pesquisador,
outra recomendação importante seria que profissionais de saúde passassem a
adotar um olhar mais direcionado para sintomas de ansiedade como estratégia de
controlar a asma.
Também participaram do estudo
pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Fisioterapia Pulmonar da
Universidade Estadual de Londrina (UEL).
O artigo Physical
Activity and Sedentary Behavior as Treatable Traits for Clinical Control in
Moderate-to-Severe Asthma pode ser lido em: https://www.jaci-inpractice.org/article/S2213-2198(24)00274-5/abstract#%20.
Julia Moióli
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/andar-ao-menos-7500-passos-por-dia-ajuda-a-reduzir-sintomas-de-asma-mostra-estudo/52031
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