O Dia Nacional da Pessoa com Hemofilia, comemorado em janeiro, tem como objetivo aumentar a conscientização da população sobre a doença e os desafios enfrentados pelos portadores dessa condição hereditária em que há deficiência de um dos fatores necessários para a coagulação do sangue. De acordo com a Federação Mundial de Hemofilia, o Brasil possui a quarta maior população de pacientes com hemofilia registrada no mundo, o que representa aproximadamente 13 mil pessoas.
Aproveito a oportunidade para
falar sobre uma série de mitos sobre a doença, que atrapalham a disseminação de
informações relevantes e que podem ajudar no diagnóstico. Ainda hoje, muita
gente acredita que os hemofílicos não podem, em hipótese nenhuma, praticar
atividade física. A prática de esportes que envolvam riscos e embates não é
segura, mas as com baixo impacto físico, como natação, hidroginástica e
caminhada, podem ser praticadas desde que sejam feitas com a liberação do
médico. O mais importante é que a atividade seja iniciada e sempre realizada
com acompanhamento e progressão gradual, de acordo com as necessidades e
habilidades individuais.
Outra ideia errônea é a de
que a causa da hemofilia é 100% hereditária. Na verdade, em 70% dos
casos a mutação genética é transmitida pelas mães portadoras aos filhos, ou
seja, as crianças já nascem com a alteração que causa a doença. Nos outros 30%
a hemofilia é resultado de uma mutação nova no organismo, sem histórico
familiar da doença, logo, pode ser desenvolvida em uma pessoa sem parentes
portadores - por isso, informações a respeito da doença são de interesse de
toda a população.
Considero importante que os pais
e responsáveis sem histórico familiar de hemofilia fiquem atentos aos sinais no
corpo das crianças, tais como sangramentos em fezes e na urina, manchinhas
roxas na pele aos mínimos traumas, aumento do volume, calor, dores articulares,
diferenças de tamanho entre os membros e dificuldade de movimentação ou
locomoção. As crianças já nascem com a doença e a sua manifestação pode ser
precoce, dependendo da gravidade da deficiência de fator. Esses sintomas podem
estar relacionados à doença, por isso é fundamental procurar um especialista
médico e não fazer uso de medicações sem orientação médica, visto que alguns
remédios podem interferir na coagulação. O tratamento das hemofilias é feito
integralmente e de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao contrário do que se
acredita, não são apenas os meninos que são atingidos pela doença,
embora representem a grande maioria. A hemofilia é uma coagulopatia hereditária
ligada ao cromossomo X que também pode atingir as mulheres, mesmo que esses
casos sejam mais raros. As mulheres acometidas pela doença podem menstruar, mas
a recomendação médica é o bloqueio dos ciclos menstruais pela possibilidade de
um sangramento maior, como uma hemorragia de difícil controle. É muito
importante a orientação médica a respeito dos riscos para o planejamento
familiar já que as mulheres hemofílicas podem ter filhos, mas nascidos no sexo
masculino certamente serão hemofílicos.
Os pacientes com hemofilia
enfrentam muitos desafios, entre eles a necessidade de acompanhamento e
tratamento de forma contínua e eventuais perdas de habilidades físicas em decorrência
de lesões osteoarticulares crônicas. Felizmente, com tratamento e cuidados
adequados, os pacientes podem levar uma vida praticamente normal.
Dra. Perla Vicari -
médica hematologista do Hospital do Servidor Público Estadual, principal
unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual
(Iamspe).
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