Pesquisadores da
UFSCar e da University College London analisaram dados de 1.747 idosos
acompanhados ao longo de 12 anos e mapearam os diferentes percursos que podem
levar a um desfecho negativo. Resultados poderão subsidiar a formulação de
políticas públicasAs mulheres têm maior expectativa de vida e
são mais afetadas pela síndrome da
fragilidade do que os homens
(foto: Sabine van Erp/Pixabay)
Pessoas idosas com
a chamada síndrome da fragilidade devem ser priorizadas na atenção primária à
saúde por serem mais suscetíveis a quedas, hospitalizações, incapacidade e
morte precoce. A condição é caracterizada pela presença de três ou mais dos
seguintes fatores: perda de peso involuntária, fadiga, fraqueza muscular,
diminuição da velocidade de caminhada e baixa atividade física.
Estudo divulgado
por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da
University College London (Reino Unido) identificou que os fatores que aumentam
o risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres.
De acordo com
resultados publicados na
revista Archives of Gerontology and Geriatrics, há maior risco de
desenvolver a síndrome da fragilidade em homens com osteoporose, baixo peso,
doenças cardíacas e com percepção da audição avaliada como ruim. Já entre as
mulheres, o risco está associado a alta concentração sanguínea de fibrinogênio
(um marcador de doença cardiovascular), diabetes e acidente vascular cerebral
(AVC).
As conclusões se
baseiam na análise de dados de 1.747 pessoas idosas que integram o English
Longitudinal Study of Ageing (Estudo Elsa), pesquisa populacional realizada no
Reino Unido. Os indivíduos foram avaliados de quatro em quatro anos entre 2004
e 2016. Para este trabalho, os pesquisadores selecionaram pessoas com 60 anos
ou mais e que inicialmente não tinham a síndrome da fragilidade e nem
pré-fragilidade, ou seja, quando estão presentes um ou dois fatores mencionados
anteriormente.
“A síndrome da
fragilidade serve como um sinal amarelo para desfechos negativos em pessoas
idosas. Chegou-se a acreditar que ela se dava por uma via única, mas nosso
estudo reforça que diferentes percursos podem levar à fragilidade em pessoas
idosas. Identificar diferenças nesse processo entre homens e mulheres é
importante para a formulação de políticas públicas. Isso pode ter reflexos na
atenção básica de saúde e resultar em planos de ação e intervenção em pessoas
idosas mais focados no gênero”, explica Tiago da Silva Alexandre,
professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e autor do estudo, que
foi financiado pela
FAPESP.
Alexandre explica
que a síndrome da fragilidade tem um fenótipo (ou conjunto de sinais e sintomas
facilmente identificáveis) criado para detectar previamente pessoas em maior
risco de sofrer uma queda, hospitalizações, incapacidade e morte precoce.
“O que fizemos
nesse estudo foi retornar alguns passos antes desse processo se iniciar e
identificar quais características ao longo da vida dessas pessoas idosas podem
acarretar a fragilidade. Isso porque sabemos que, quando se pensa em envelhecimento
e qualidade de vida no envelhecimento, é muito importante saber os principais
fatores de risco para se antecipar aos problemas, pois desse modo podemos
direcionar as políticas públicas para homens e mulheres”, diz.
O trabalho é fruto
da tese de doutorado de Dayane Capra de Oliveira, conduzida sob orientação de
Alexandre. Oliveira explica que, embora a fragilidade seja uma ferramenta
baseada nas questões biológicas do indivíduo, a diferença encontrada entre os
fatores de risco que levam homens e mulheres a desenvolver a síndrome está
ancorada nos distintos papéis sociais e acesso a recursos ao longo da vida.
“O interessante do
estudo também está em perceber essas questões multifatoriais relacionadas à
fragilidade. Enquanto os fatores socioeconômicos, distúrbios
musculoesqueléticos, doenças cardíacas e baixo peso parecem sustentar o
processo de fragilidade nos homens, nas mulheres o processo parece estar
ancorado em distúrbios cardiovasculares e neuroendócrinos”, diz Oliveira.
Vale destacar que a
síndrome da fragilidade é mais comum em mulheres do que em homens, até porque a
expectativa de vida das mulheres é maior. “Essa é uma questão complexa, que
está ancorada nas diferenças da expectativa de vida entre os dois gêneros e nos
tipos de doenças mais prevalentes entre homens e mulheres. Basicamente, as
mulheres são mais afetadas por doenças crônicas que não matam, mas geram
incapacidade. Então, como uma consequência dessa realidade, elas vivem mais
tempo e podem desenvolver mais a síndrome de fragilidade do que os homens”,
explica Alexandre.
Diferenças
e semelhanças
Os pesquisadores
explicam que, apesar de homens e mulheres apresentarem alguns fatores de risco
semelhantes para a fragilidade – como idade avançada, baixa escolaridade,
sedentarismo e sintomas depressivos, por exemplo –, diferenças na composição
corporal e localização de deposição de gordura entre os dois sexos ao longo da
vida e na velhice podem desencadear aparecimento de componentes de fragilidade
de forma direta ou indireta, mediando alterações metabólicas que culminam no
surgimento de doenças que aumentam o risco de fragilidade.
“É claro que o
nosso estudo é uma análise que leva em consideração a realidade de gênero de
pessoas que hoje têm mais de 60 anos e vivem na Inglaterra. Não sabemos como
isso se daria nas próximas gerações. Mas o fato é que, para as pessoas dessa
geração que estudamos, os homens eram mais expostos a várias questões laborais
consideradas fatores de risco para doenças. A alimentação deles era menos
saudável, eles não consultavam médicos tanto quanto as mulheres [portanto,
havia menos diagnóstico precoce] e tinham maior consumo de álcool e exposição a
agentes nocivos, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como o
infarto”, explica Alexandre.
Já as mulheres daquela
mesma geração, afirma o pesquisador, são mais afetadas por doenças crônicas:
que matam menos, mas incapacitam. “Portanto, essa realidade diferente entre os
gêneros surge como um pano de fundo ao longo de toda uma vida e que culmina em
um processo de envelhecimento e causas de morte, incapacidade e fragilidade
diferentes entre homens e mulheres”, complementa.
O estudo Does
the incidence of frailty differ between men and women over time? pode
ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0167494322002679?via%3Dihub.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/fatores-que-aumentam-o-risco-de-fragilidade-na-velhice-sao-diferentes-entre-homens-e-mulheres/50730
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