Durante o mês de conscientização com a saúde mental, é preciso olhar com carinho para familiares ou amigos que vivem a rotina do cuidado ao paciente oncológico. Especialistas falam sobre importância da rede de apoio no consultório e fora dele
Descobrir o diagnóstico de câncer é um momento bastante sensível
e cheio de desafios. Apesar da situação exigir muita empatia com o paciente,
também é preciso olhar com carinho para a pessoa que assume o papel de
cuidador, ou seja, aquela que irá se responsabilizar na maior parte do tempo em
oferecer bem-estar tanto físico, como emocional.
Em muitos casos, o cuidador tende a deixar suas
vontades e necessidades de lado para se dedicar ao máximo ao paciente com
câncer. Mas, quando existe a ausência de uma rede de apoio neste momento tão
delicado, o desgaste físico e emocional podem tornar o período ainda mais
complexo para o cuidador.
O cuidador tem uma maneira única de lidar com a doença, afinal, cada pessoa tem o seu jeito de encarar a nova etapa. Porém, uma coisa é fato: ele se torna responsável por ser mais presente e tem uma grande influência no cenário (e na vida!) do paciente com câncer.
Toda a responsabilidade faz com que o cuidador passe por diversos papéis, provando que ele também precisa (e deve!) pedir ajuda. Uma das maneiras de se cuidar é buscando o apoio emocional, que pode vir de um psicólogo, oncologista ou até mesmo da família, dependendo de cada caso.
Segundo Jacqueline Pereira, psicóloga na Oncoclínicas São Paulo,
o diagnóstico de câncer irá impactar tanto o paciente, quanto a família,
desorganizando assim um sistema que já é anterior à doença. "A gente sabe
que todos os membros desse núcleo familiar vão se sentir afetados e vão se
mobilizar para cuidar do paciente. Mas, geralmente se concentra em uma única
pessoa, a qual chamamos de cuidador principal", explica.
Os desafios
A oncologista Andrea Borges, também da Oncoclínicas São Paulo, reforça que é muito importante entender quais são as dificuldades do cuidador para ajudar o paciente. "Esse é um papel do médico na hora da consulta. Nós não podemos olhar apenas para o paciente, é importante compreender o contexto e focar também no cuidador. Muitas vezes, ele é uma pessoa frágil e pode ser que não dê conta sozinho se nós não conseguirmos ajudá-lo”, comenta.
Além do desgaste, o cuidador também lida com a impotência, mais um motivo para que a equipe médica esteja alinhada com o contexto daquela família. “Precisamos dar a base para o cuidador na parte psicológica. A impotência do cuidador é querer passar pela situação que o próprio paciente está vivendo. Então, ele se frustra o tempo inteiro. Por isso, precisamos estar de olho a todo momento na consulta. É nessa hora que devemos falar: 'Você precisa de ajuda? Nós temos uma equipe de psicólogos que pode auxiliar’”, diz a oncologista.
Toda a sobrecarga pode ter ainda um impacto direto no cuidador, fazendo com que ele tenha dificuldades no sono e alimentação, além de episódios de ansiedade que podem mobilizar a depressão.
"A gente sabe que o estresse pode mobilizar repercussões
muito intensas na parte física. Então, o adoecimento físico do cuidador é muito
comum por conta dessa sobrecarga e porque ele mesmo deixa de se cuidar, de
fazer suas rotinas de acompanhamento médico, ficando em segundo plano. O
agravamento do estresse pode trazer um quadro mais grave, como depressão e
outras questões de saúde mental", comenta Jacqueline.
Rede de apoio é tudo
Assim como o paciente com câncer, o cuidador também precisa de uma rede de apoio, afinal, nada se faz sozinho. O oncologista tem um papel importante em entender e ajudar no que for necessário para colaborar no tratamento como um todo - isso inclui estar ali (de verdade!) para compreender o contexto.
“Existem diversos tipos de cuidadores, alguns mais técnicos, outros nem tanto, mas a base de tudo é o carinho e a disponibilidade da ajuda que ele tem com o paciente. As vezes, oferecemos suporte encaminhando este cuidador ao psicólogo quando necessário. É completamente diferente quando se tem esse apoio sólido em casa. O paciente tem uma melhor evolução”, explica Andrea Borges.
Quando algo não vai bem, é muito importante que o cuidador e as pessoas ao redor dele fiquem atentas aos sinais. “Na Oncoclínicas, por exemplo, existe o suporte psicológico ao cuidador. É fundamental que tanto o paciente quanto o cuidador estejam em parceria com a equipe para tomar ações, ou seja, planejamentos que facilitem esse processo”, complementa Jacqueline.
E esse apoio não para por aí! Algumas ações simples também podem auxiliar nos cuidados com a saúde mental do cuidador. “Organizar uma rotina, pensar o que ele pode fazer, o que está no alcance, o que é possível no momento, não vir com o espírito de super-herói querendo dar conta de tudo e todos e dividir tarefas com outros membros da família para não sobrecarregar”, diz a psicóloga.
Além disso, o cuidador não deve deixar de ir ao médico e realizar seus exames de acompanhamento, priorizar a alimentação, ter uma boa qualidade de sono, praticar exercícios físicos e encaixar o lazer dentre suas atividades. “Sobretudo, o cuidador deve ter em mente que é superimportante a presença e disponibilidade de cuidado, mas não tomar como o centro da vida. É necessário dividir o processo para que o cuidador não adoeça e ofereça uma atenção de maior qualidade para aquele paciente oncológico que está precisando tanto nesse momento”, finaliza Jacqueline Pereira.
Oncoclínicas&Co
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