Empresários e
empreendedores devem buscar equilíbrio entre a vida financeira pessoal e da
pessoa jurídica
No Brasil, 69,43 milhões de pessoas físicas estão
com nomes restritos por conta de dívidas, segundo levantamento realizado pela
Serasa. Pelo lado das pessoas jurídicas, o total chega a 6,5 milhões de
empresas negativadas. Além do nome sujo e das restrições às linhas de crédito,
o alto nível de endividamento desencadeia outros problemas graves aos
devedores, especialmente na questão da saúde emocional e queda no nível de
rendimento do trabalho, entre outras causas.
O problema tende a se agravar ainda mais quando existe o cruzamento de situações de dificuldades entre pessoa física e a jurídica. Além dos sintomas na saúde, os problemas podem desencadear em demissões e até levar à falência da empresa. Para que isso não aconteça, empresários e empreendedores precisam dar a importância devida ao equilíbrio na saúde financeira pessoal (Pessoa Física) e empresarial (Pessoa Jurídica) para o bem estar dos negócios, já que manter uma empresa viva não é uma tarefa fácil.
O diretor da AG Antecipa, Leonardo Guimarães, pontua que uma parcela grande de empresas já vive um cenário muito difícil pós-pandêmico, especialmente no tocante à saúde financeira com restrição de crédito por parte das instituições bancárias e limites baixos de financiamento. “Isso tem provocado um alto grau de estresse, com clientes e fornecedores negociando prazos de faturas e pagamentos”.
Ele destaca, ainda, que este cenário causa instabilidade, deixando muitas empresas com dificuldades no fluxo de caixa e sem capital de giro para investimento nos negócios. “Esse quadro pode vir a ser um problema grande a longo prazo, uma vez que as companhias não conseguirão cobrir os seus custos fixos e eventualmente, as variáveis, o que pode levar à incapacidade de produção e gerar ainda mais estresse, tanto para a empresa como para a pessoa física por de traz do negócio”.
Para o professor José Renato Salles, coach e psicoterapeuta, o CNPJ de uma empresa está diretamente ligado ao CPF, ou seja, ao seu dono. Assim, as dificuldades pessoais acabam refletindo diretamente no resultado de negócios da companhia. Além do endividamento alto, cobranças por resultados também estão levando ao aumento de casos de empresários com depressão e outros transtornos psiquiátricos
“Antes de falarmos de ansiedade e depressão como transtornos psiquiátricos, é preciso lembrar que a ansiedade e a tristeza (essa última mais associada à depressão) são emoções com funções essenciais para a nossa adaptação e bem-estar nas situações mais diversas da vida.”, afirma.
Salles lembra que o estresse é uma resposta de nosso organismo a uma situação interpretada como de ameaça, e a ansiedade é a reação do organismo ao estresse, com o objetivo de nos preparar para enfrentar a ameaça percebida. “A ameaça surge geralmente em situações de incerteza sobre nosso futuro, dúvidas sobre nossa capacidade de dar conta da ameaça futura ou iminente. Portanto, todos os sintomas típicos de um episódio de ansiedade (aperto no peito, taquicardia, sudorese, boca seca, dentre outros) são como que avisos de nosso organismo para que a gente planeje e execute ações que diminuam as incertezas e nos tragam mais controle sobre a situação”
Ele ressalta que essa ansiedade se torna um
transtorno quando é tão intensa que, ao invés de nos colocar em ação, nos paralisa,
podendo nos levar ao pânico e à fuga dos problemas da vida.
“A tristeza, por sua vez, é a emoção que nos informa sobre alguma perda significativa que experimentamos, é a constatação de que algo de valor que tínhamos ou desejávamos alcançar não está mais ao nosso alcance. A tristeza, portanto, nos ensina muito sobre nossa escala de valores, nos pede que reflitamos sobre a real importância daquilo que perdemos, nos sugere que aprendamos sobre os fatores que nos levaram à perda e nos encoraja a promover mudanças em nossas atitudes de modo a evitarmos novas perdas, alimentando nossa esperança.”, Ele acrescenta: “a tristeza só se transforma em patologia quando é tão intensa que nos impede de raciocinar e nos joga na desesperança. São alguns os transtornos depressivos reconhecidos pela psiquiatria, mas o mais clássico é o Transtorno Depressivo Maior, cuja principal característica é a perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades da vida.”
Salles ressalta, ainda, que a ansiedade excessiva no gestor pode induzi-lo a decisões mais impulsivas e a deixar suas equipes “pilhadas”, estressadas com excesso de pressão por resultados, sem a devida e racional coordenação das ações de todos. O gestor ansioso, tende também a não escolher o que não vai fazer, passando uma mensagem clara de que tudo é importante e urgente. Como, entretanto, os recursos são sempre escassos, o efeito nas equipes é o de sensação de falta de controle, originando um círculo vicioso de pressão por resultados inatingíveis e de não entregas que gera mais ansiedade e, depois, desesperança e apatia pela impotência.
“Não vejo uma cisão entre a pessoa e o empresário.
Podemos dizer que o João é pai, esposo, colega, amigo, filho e empresário, mas
em todos esses papéis sociais que ele exerce é sempre o João, e em todos eles o
João exerce sua influência. Por exemplo, a cultura da organização fundada e/ou
gerida pelo João herdará dele muitos de seus valores e crenças pessoais. E se o
João não estiver satisfeito em seu papel de cônjuge, por exemplo, tenderá a
levar, ainda que de modo indireto, essa insatisfação para seu papel de
empresário. É o que conhecemos por contaminação de papéis sociais. Portanto,
entendo ser de suma importância a busca pelo equilíbrio e satisfação em todos
os papéis sociais que consideramos importantes, pois o desequilíbrio em apenas
um deles pode travar em alguma medida a roda da vida”, complementa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário