Até meados dos anos 1990 as organizações eram avaliadas quanto ao seu desempenho somente pelo viés financeiro (lucro ou prejuízo). Mas o inglês John Elkington, conhecido como o Pai da Sustentabilidade Corporativa, entendeu que além do aspecto financeiro era importante saber como as organizações chegavam ao resultado apresentado, considerando sua interação com as pessoas e também com o Meio Ambiente. Nascia ali o conceito do Tripé da Sustentabilidade.
Nos anos seguintes, essa discussão se concentrou
majoritariamente em mercados com foco mais comercial ou restrita às grandes
empresas. Contudo, o documentário “Uma Verdade Inconveniente” (2006), produzido
pelo ex-vice-presidente americano Al Gore, lançou luz à questão dos efeitos
devastadores do aquecimento global e os riscos ao planeta, ligando um sinal de
alerta em todas as cadeias produtivas mundo afora.
Tive a honra de ter sido um dos primeiros
profissionais no Brasil a discutir a Sustentabilidade na Saúde, por meio do
desenvolvimento e implantação do 1º departamento de Sustentabilidade
Corporativa em um hospital público no País e na América Latina, em 2010: o
Hospital Municipal de Cubatão, no Litoral de São Paulo.
À época, em meio a um quase total desconhecimento
sobre o projeto, sobre questionamentos em “investimento sem retorno” e outras
mazelas, conseguimos resultados formidáveis, como a redução em 7% do custo
operacional da unidade, apenas com a implantação de uma política de consumo
consciente, ao rever padrões de consumo, qualificando fornecedores e otimizando
processos. Tivemos diversos ganhos, como exposição espontânea positiva na mídia
nacional e internacional, redução do absenteísmo e rotatividade, dentre outros.
Nos últimos anos, a discussão sobre
Sustentabilidade avançou, mas não de forma igualitária e qualificada. É
extremamente comum conversar com diretores de hospitais, laboratórios e outros
serviços de Saúde e descobrir que a Política de Sustentabilidade da instituição
consiste em disponibilizar lixeiras para a coleta seletiva de resíduos, que na
maioria das vezes servem para tudo, menos para o descarte de recicláveis. E
quando questiono o motivo de não existir uma estratégia clara para o tema,
conectada ao Planejamento Estratégico, a resposta padrão é: “não é o momento de
falarmos disso”; ou “não temos recursos”; ou ainda: “a Comissão de Resíduos e a
Comissão de Humanização já cuidam bem disso”.
Esses erros crassos acontecem por falta de
conhecimento qualificado sobre Sustentabilidade, mesmo entre os gestores nos
níveis mais elevados da hierarquia. Isso faz com que o tomador de decisões não
tenha sensibilidade para saber, por exemplo, que Sustentabilidade não é só
Meio-Ambiente, como é amplamente difundido, mas a capacidade que aquela
organização ou ecossistema de Saúde tem de se manter operando por longas
décadas.
Além disso, é muito comum o gestor imaginar altos
custos com reformas nas instalações físicas, colocação de painéis solares ou
softwares de última geração. Mas antes mesmo de falarmos em recursos é preciso
preparar os atores envolvidos no processo e construir uma cultura de Sustentabilidade,
baseada em sensibilização, capacitação e melhoria contínua. Muitas vezes isso
requer investimento zero, a não ser tempo e resiliência.
Tudo aquilo que é cultural leva tempo para ser
construído de forma sólida, e Sustentabilidade não é diferente. Isso esbarra na
visão imediatista que busca por resultados a curto prazo, além da dificuldade
em tangibilizar resultados como melhoria na percepção de valor da sua marca e
outros resultados que são mais “abstratos” que a redução na conta de luz ou
água, de um mês a outro.
Para ser realmente “Sustentável” uma organização
precisa buscar aprendizagem constante e ter a inovação e adaptabilidade no core
do negócio, tendo finalidade lucrativa ou não, público, privado, de grande ou
pequeno porte. Em suma, trabalhar a Sustentabilidade é gerar maior eficiência
operacional e competitividade, para não correr o risco de desaparecer, caso as
políticas públicas não acompanhem a mesma filosofia.
Alexandre Hashimoto -
especialista em Gestão e Negócios e doutor em Sustentabilidade e
Empreendedorismo. Atua como consultor, palestrante, treinador e autor do livro Gestão de Sustentabilidade em Organizações de Saúde.
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