Silenciosa, lenta, gradativa, a calvície androgenética tem sido cada vez mais diagnosticada nos consultórios
Durante as três primeiras décadas de vida, as
mulheres observam seus fios de cabelo pelo chão, grudado nas roupas e o famoso
“bolo de cabelo” no ralo do banheiro. Muitas acreditam que a queda pode ser em
decorrência de falta de hidratação, abuso de praia ou piscina, químicas, e
prometem para si mesmas que vão tirar um tempinho para um cuidado especial nos
cabelos.
Mas engana-se quem pensa que um dia de atenção
resolve a queda capilar. “Aquele monte de cabelo no ralo do chuveiro não pode
ser considerado normal a vida toda, muito pelo contrário. Ele deve ser
considerado um indício de uma possível alteração no couro cabeludo e precisa
ser investigado”, explica o médico e tricologista Dr. Ademir Carvalho Leite
Júnior.
Com o passar dos anos e os estilos mais ‘ousados’
nos looks femininos, não é raro encontrar mulheres completamente sem cabelos.
Mas elas escolheram ficar sem os fios, são ‘carecas’ por gosto e opção. Para
aquelas que não acham a ideia interessante e recebem um diagnóstico de alopecia
androgenética, é quase como encarar o fim.
Entendendo a alopecia
androgenética: do eflúvio à calvície
O nome estranho pode ser substituído por calvície feminina. E nenhuma mulher chega ao consultório achando que pode ser esse o diagnóstico. “Geralmente, o responsável por trazer a paciente até um tricologista é o eflúvio teológico, uma doença que deixa a pessoa desesperada, achando que vai perder todo o cabelo de um dia para o outro”, conta o tricologista.
O eflúvio é uma queda de cabelo muito maior do que
a comum em situações rotineiras, como escovar os cabelos, perdendo mais de 300
fios por dia (a quantidade normal é de até 100 por dia).
Segundo o profissional, o eflúvio é um indicador
para problemas futuros. “Por mais desesperador que possa ser passar por uma
fase de eflúvio, ele pode ser ressignificado e visto como um sinal positivo, um
agente que te levou até o consultório médico antes de uma calvície feminina
precoce. A mulher precisa ver esse algo negativo como transformador, motivo até
mesmo de agradecer, modo de dizer, por ter acontecido, para tomar as medidas
necessárias para evitar um incidente maior anos à frente”.
Ao chegar no consultório com um diagnóstico de
eflúvio, um tratamento é indicado para que a recuperação do cabelo aconteça de
forma quantitativa e qualitativamente. A perda capilar quantitativa acontece
quando há a perda do número de fios, e a qualitativa é a redução da espessura
progressiva do fio de cabelo, se tornando cada vez mais fino, mais ralo, até
sumir. Esses padrões podem ocorrer de forma conjunta ou separada. E aí, o sinal
de alerta para a calvície já pode ficar aceso.
A alopecia androgenética é uma manifestação com
evolução lenta, quase imperceptível. Acontece normalmente a queda “tradicional”
vista no ralo do chuveiro. Com incidência crescente, está associada ao novo
estilo de vida da mulher, que tem cada vez mais trabalho, estresse, muitas
responsabilidades e mudanças de hábitos alimentares ao longo dos anos. “Pode
acontecer também de não haver alterações laboratoriais (hormonais, como
alteração na tireoide, deficiência de vitamina ou menopausa), mas geralmente há
algum indício já nos resultados nesses exames, os primeiros que costumamos
solicitar nesses casos”, conta o profissional.
“Com a mudança de hábitos ao longo dos anos, é
possível ver essa alteração no couro cabeludo feminino pelas fichas do
consultório. Há duas décadas, atendia uma mulher para cada 20 homens. Hoje,
atendo três homens para cada 17 mulheres”.
Estágio com evolução progressiva
A alopecia androgenética avança de duas formas: uma
opção é encontrar um ponto de rarefação no meio do couro cabeludo, que vai
ampliando o espaço ao longo do tempo. “É mais comum acontecer no alto da
cabeça, mas as laterais e a região posterior também são comprometidas com a
perda capilar, como uma extensão da queda”, explica.
Há também a configuração chamada “árvore de Natal”,
que ocorre na área central, e é a mais vista nos últimos tempos. Nesse caso, há
uma sobreposição entre o padrão da queda na linha central da cabeça e um
triangulo, cuja ponta é no vértice da cabeça e, a base, na linha frontal.
Os efeitos negativos
Essa é uma doença sofrida, que dói no psicológico da mulher, como uma angústia. “Quando uma mulher recebe um diagnóstico de alopecia androgenética, às vezes ela lembra do pai, avô ou tio que é careca, e automaticamente já sente medo de ficar como eles. Ela sofre com o medo da doença, a dor é emocional. Entristece as pacientes, principalmente as que demoram para aceitar e negam a doença. Muitas delas enxergam essa doença como uma companheira indesejada quando se olham no espelho. É muito dolorido para elas”.
Normalmente, ao receber o diagnóstico, a mulher
tenta negar a todo custo. E, em outro estágio, se sente condenada a ficar
careca. “Temos que deixar claro que essa condição não é uma condenação. Se a
doença é a companheira indesejada, o tratamento é o companheiro desejado, o
melhor amigo para que ela sofra menos. Ela precisa ressignificar o tratamento
no psicológico dela, para não encará-lo como um fardo, mas como uma salvação do
seu problema. Quem tem a alopecia androgenética precisa encarar o tratamento
como uma benção, para evitar justamente a perda capilar em sua totalidade”,
pondera o especialista.
As fases da calvície
O impacto no psicológico da mulher é tão grande ao
receber o diagnóstico de alopecia androgenética, que o tricologista chega a apontar
as seguintes fases ao lidar com a doença:
- Negação: ela acredita que não vai ter que lidar com esse problema para sempre;
- Barganha: a paciente começa a se
questionar “Será que se eu fizer isso eu melhoro?”. Essa costuma ser a
fase mais demorada. Nesse período, ela vai em busca de soluções, como um
shampoo milagroso, comprar um produto que viu em um comercial, a amiga
indicou ou viu nas redes sociais, comer algum alimento ou ingerir
vitaminas específicas em excesso. Nessa fase, a paciente acaba tomando medidas
desesperadas, tentando buscar alternativas para não sofrer o processo
(tratamento) que ela precisa sofrer;
- Depressão: quando “cai a ficha” da situação em que ela se encontra e ela não consegue mais se ver no espelho sem aquela companheira indesejada;
- Aceitação: acontece quando a mulher
aceita que tem que fazer tudo o que precisa ser feito para alcançar um
resultado satisfatório.
Sintomas e tratamentos
Além da visível perda capilar, alguns desconfortos
extras ainda podem aparecer, como coceira, dor, seborreia, desconforto, maior
sensibilidade no couro cabeludo e dermatite associada. Mas, segundo o
profissional, quando o tratamento começa, ele trata de dentro para fora, com
recuperação de massa capilar dentro dos limites do que o organismo feminino
permitir, de acordo com a idade e condição de saúde da paciente.
Segundo o profissional, embora seja desesperador
para uma mulher receber um diagnóstico como esse, é preciso lembrar que existem
diversas opções de tratamentos e recursos para melhorar a condição.
“Entretanto, vale lembrar que mesmo seguindo o tratamento à risca, a mulher não
vai voltar a ter o mesmo cabelo viçoso que tinha aos 30 anos, por exemplo. Mas há
uma melhora significativa no volume capilar e, principalmente, na autoestima”,
frisa.
“Não há um único tratamento específico para
alopecia androgenética, e cada caso vêm acompanhado de um transtorno emocional.
Por isso, as opções de tratamentos precisam ser apoiadas por mudanças de
hábitos, com novos estabelecimentos de rotinas de higiene (como dias e horários
para lavagem dos cabelos e temperatura da água), estratégias de procedimentos
(com cosméticos, óleos essenciais, argilas, lasers, entre outros) e escolha da
melhor opção de terapia capilar (intradermo, microagulhamento, etc). Cada caso
é um caso, e o paciente precisa ser estudado para definir qual a melhor opção
de tratamento”. Na opinião do médico, o tratamento mais versátil, que engloba
mais mecanismos de soluções é a terapia capilar.
Do ponto de vista clínico, quando não ocorre a solução esperada após o tratamento, medicamento e suplementações, mudanças de hábitos e de higiene, o quadro pode evoluir para uma resposta insuficiente, aí ocorre a busca por intervenções cirúrgicas ou cosméticas, como pós e sprays que ‘maqueiam’ o couro cabeludo, dando a aparência de não haver falhas capilares, e as próteses, indicadas para pacientes que não alcançarem a recuperação e que não lidam bem com essa nova aparência. “Hoje em dia as próteses estão cada vez mais naturais e bem-feitas, então essa hipótese não pode ser descartada. Há ainda o transplante de cabelo, opção que pode ser avaliada como solução para a paciente”, finaliza o profissional.
Dr. Ademir C. Leite Jr. – CRM 92.693
https://www.instagram.com/drademircleitejr/
http://www.otricologista.com/
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