Desde 2010, a população feminina brasileira é maior do que a população masculina. Estima-se que, atualmente, exista cerca de quatro milhões a mais de mulheres em relação à quantidade de homens no país. De acordo com o censo do IBGE, em 2010, o percentual de mulheres era 51%, enquanto o de homens era de 49%, do total da população brasileira. Essa desigualdade quantitativa entre os gêneros ocorre principalmente em virtude da maior expectativa de vida feminina e da maior mortalidade de jovens do sexo masculino.
No
dia 08 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher. Muitos artigos já
foram escritos sobre mulheres de destaque e que contribuíram para os direitos
das mulheres no Brasil e no mundo.
Este
ano, resolvi escrever sobre quem são as mulheres que representam a sociedade e
economia brasileira. São mulheres batalhadoras, em sua grande maioria sem
estudo completo, muitas afrodescendentes ou mestiças, grande parte atuando como
mãe solo e que criam seus filhos apesar de todas as dificuldades estruturais
que o Brasil, tristemente, oferece.
Há
alguns anos a expressão “chefe de família” deixou de ter uma conotação
masculina. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a quantidade de mulheres responsáveis por bancar os
domicílios brasileiros cresce a cada ano, e atualmente, quase metade dos lares
brasileiros é sustentada por mulheres, são mais de 34 milhões de domicílios
onde a única, ou maior parte, da renda vem das mulheres.
São
estas “chefes de família” que criam seus filhos através do suor do seu
trabalho, na maioria das vezes mal remunerado, sofrendo todo o tido de assédio
e discriminação, que dependem dos precários transportes públicos para se
locomoverem ao trabalho, necessitam da assistência de saúde pública, onde a
fila de espera é desumana.
Além
disso, a grande maioria vive em áreas periféricas, comunidades, ou áreas de
risco, dependendo do apoio que a comunidade oferece para ajudar na criação dos
filhos, principalmente, quando as creches públicas estão fechadas nas férias.
Afinal, elas não podem arcar com uma creche privada. Então, grupos se organizam
para cuidar das crianças enquanto as mães trabalham, com as creches
improvisadas, a comunidade se ajuda quando o Estado não faz nada. Afinal,
acredito que o Estado ainda não compreendeu seu verdadeiro papel para realmente
ajudar e estimular as mulheres brasileiras.
Elas
até aceitam os benefícios sociais providos pelo Estado, mas, lá no fundo,
gostariam de ter a dignidade de poderem sobreviver sem o assistencialismo. Se
as estruturas de escolas, saúde e habitação funcionassem como definido na
legislação de fato, creio que elas já se dariam por satisfeitas. Não querem
esmola. Querem oportunidade de trabalho e desenvolvimento educacional, seja
através de escolas técnicas grátis, que poderia gerar uma profissão mais digna,
ou por um ensino público completo. Hoje, muitas destas mulheres atuam no trabalho
doméstico, comércio e outras atividades precárias, onde muitas vezes não tem
carteira de trabalho assinada e sem direitos trabalhistas e previdenciários que
deveriam ser garantidos.
Existe
a vontade, existe o sonho de conseguir uma oportunidade melhor, mas a
conjunturas estrutural não permite que se realize. Historicamente, as tarefas
domésticas são destinadas majoritariamente às figuras femininas da casa. Esse
cenário faz com que a maioria das mulheres enfrente uma dupla jornada de
trabalho: a profissional e a doméstica. Essa sobrecarga de atividades, além de
prejudicar o bem-estar e a saúde mental, também pode interferir na
sobrevivência. Ademais, a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher
ainda estão presentes no país.
Para
se ter uma ideia, estima-se que atualmente o salário médio da população
feminina no Brasil corresponda a apenas 85% do salário médio da população
masculina. Com relação à violência contra a mulher, de acordo com uma notícia
veiculada no Estadão, o Brasil ocupa o 7º lugar em um ranking de 84
países sobre a quantidade de homicídios de mulheres, apresentando cerca de 4,4
assassinatos a cada grupo de 100 mil mulheres.
Outro
ponto relevante para ser comentado é que o feminicídio no Brasil é uma
realidade triste. No primeiro semestre de 2022, o Brasil bateu recorde de
feminicídios, registrando cerca de 700 casos no período. Em 2021, mais de 66
mil mulheres foram vítimas de estupro; mais de 230 mil brasileiras sofreram
agressões físicas por violência doméstica. Ou seja, quando resolvem ter um
companheiro para poder dividir os ônus do trabalho e das atividades domésticas,
ainda correm o risco de serem mortas por seus companheiros e, majoritariamente,
de forma brutal.
São
estas as mulheres brasileiras que devem ser lembradas e celebradas no dia 08 de
março. Temos que enfrentar a dura e triste realidade do que tem acontecido no
Brasil nos últimos anos, e buscar políticas que realmente façam sentidos para
acolher a população feminina brasileira, que merece toda nossa admiração e
homenagem.
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