Advogado Fabricio Posocco revela os direitos do paciente com
prescrição para home careImagem ilustrativa: Freepik
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) entende que o
plano de saúde é obrigado a cobrir o tratamento prescrito pelo médico em
ambiente domiciliar, também chamado de home care. Em julgamento recente, a
ministra Nancy Andrighi explicou que o home care pode ocorrer em duas
modalidades: assistência e internação.
Na jurisprudência do STJ, isto é, no conjunto de
decisões sobre o tratamento em casa, ficou definido que a assistência é
composta por atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas,
desenvolvidas em domicílio. Já a internação é constituída por atividades
prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao
paciente com quadro clínico mais complexo e com necessidade de tecnologia
especializada.
De acordo com o professor universitário e advogado
Fabricio Posocco, do escritório Posocco & Advogados Associados, as pessoas
que mais precisam de home care são idosos, portadores de doenças crônicas,
pacientes pós-cirúrgicos e em cuidados paliativos.
“Para conseguir o tratamento multiprofissional, em
regime domiciliar, é preciso que o médico justifique a necessidade e os
benefícios que o home care vai trazer para o paciente, através de um relatório
detalhado, com laudos e exames”, orienta Posocco.
Havendo a negativa do plano ou do seguro de saúde, o
advogado explica que o paciente pode procurar o Poder Judiciário. “Para
ingressar com ação judicial é preciso ter documentos que comprovem a recusa do
convênio, como protocolos de ligações, troca de e-mails, cartas, entre outros.
Deve, ainda, apresentar os três últimos comprovantes de pagamento da
mensalidade, a cópia do contrato e da carteirinha do plano de saúde, bem como
dos documentos pessoais, como RG e CPF.”
Cláusula que veda home care é abusiva
O advogado Fabricio Posocco alerta que existem planos
de saúde que colocam, em contrato, cláusulas que vedam a assistência e
internação na residência do beneficiário.
O STJ já julgou que essa condição é abusiva e pode ser
considerada nula, conforme aponta o artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa
do Consumidor (Lei 8.078/1990). “Qualquer cláusula contratual ou ato da
operadora de plano de saúde que importe em absoluta vedação da internação
domiciliar como alternativa de substituição à internação hospitalar será
abusivo, visto que se revela incompatível com a equidade e a boa-fé, colocando
o usuário (consumidor) em situação de desvantagem exagerada”, argumentou o
ministro Villas Bôas Cueva, ao garantir o tratamento domiciliar para uma
paciente com Alzheimer, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e doença
pulmonar obstrutiva crônica.
Posocco conta que nos tribunais estaduais esse assunto
também está pacificado. “A Súmula 90, do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP), resume que havendo expressa indicação médica para a utilização dos
serviços de home care, revela-se abusiva a cláusula de exclusão.”
Plano é responsável por medicação em home care
Quando determinado pelo médico, o tratamento
domiciliar deve ser custeado pelo plano de saúde, mesmo que não haja previsão
contratual. O STJ informa que isso inclui a medicação e os produtos listados
como de fornecimento obrigatório pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS).
Segundo o advogado Fabricio Posocco, o home care é um
regime análogo ao da internação hospitalar. Por isso, deve ser acompanhado dos
cuidados de enfermagem, medicação, alimentação e demais materiais necessários
ao tratamento específico de cada caso.
“Cabe à operadora do seguro de saúde ou do plano de
saúde fornecer todos os insumos e os equipamentos necessários, que, em regra,
são ministrados pelos hospitais, para o restabelecimento ou a manutenção da
saúde do paciente”, reforça o especialista.
SUS tem o Melhor em Casa
No Sistema Único de Saúde (SUS), o home care é
identificado como Serviço de Atenção Domiciliar (SAD). O serviço foi
regulamentado pela Portaria 825/2016, do Ministério da Saúde. Ele é solicitado
pelo médico através do programa Melhor em Casa.
Podem participar do programa de atendimento domiciliar
pacientes que possuem problemas de saúde que necessitam de maior frequência de
cuidado e acompanhamento contínuo. Também é indicado para pacientes com
dificuldade ou impossibilidade física de se locomoverem até uma Unidade Básica
de Saúde e para os que precisam de equipamentos e outros recursos de
assistência médica.
Durante a V Jornada de Direito da Saúde, promovida
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2022, o Ministério da Saúde revelou
que o Melhor em Casa atende 42% da população brasileira, em 827 municípios.
“O acesso para o Melhor em Casa é a prescrição médica.
O profissional da saúde é que vai avaliar a situação do paciente. Uma vez
solicitado, deve ser cumprido pelo Poder Público, sob risco de judicialização
para garantir esse direito”, finaliza o advogado Fabricio Posocco, do
escritório Posocco & Advogados Associados.
Emanuelle Oliveira (Mtb 59.151/SP)
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