Está em curso uma mudança de comportamento que tem revolucionado a forma como as pessoas consomem bens e serviços e afeta o modus operandi das empresas. A tendência “everything as a service” destaca uma nova forma de se relacionar com a prestação de serviços, na qual paga-se pelo o que foi consumido, sem a necessidade de adquirir algo físico. Em outras palavras, é um modelo de negócio no qual o uso ou acesso às soluções norteia as relações comerciais e a posse não mais é desejável.
O acúmulo de bens materiais que
demandam infraestrutura, despesas contínuas e cuidados de manutenção e
preservação não representam mais o status de outrora e não são mais
sinônimos de sucesso pessoal e profissional. Os serviços sob demanda são uma
tendência mundial consolidada e vão muito além dos streamings de
entretenimento nas smart TVs e smartphones, ou na
locação temporária de imóveis. Hoje, tudo pode ser convertido em serviço.
A tendência “tudo como serviço”, também
conhecida de “everything as a service (XaaS)", tem por essência a oferta
sob demanda que, por sua vez, está alinhada às tendências socioeconômicas de
economia compartilhada e circular, preservação do meio ambiente e
sustentabilidade, mobilidade urbana, otimização de processos produtivos,
redução de despesas, menos acúmulo e, consequentemente, desperdício.
Resumidamente, uma situação “ganha-ganha-ganha” para todos: consumidores,
empresas e planeta.
O consumo as a service ganha
espaço e preenche interesses deixados por um estilo de vida, hoje considerado
ultrapassado. Vivemos um momento no qual as experiências de vida valem mais do
que a posse. Os serviços sob demanda representam considerável economia, já que
dispensam a necessidade de aquisição de produtos e cuidados de manutenção. Em
termos emocionais, o “as a service” pode proporcionar maior satisfação e
agilidade, já que disponibiliza o produto no momento em que a demanda é criada,
além de menor frustração ao desestimular o hiperconsumo, frequentemente
realizado por impulso. Fato é que investir em experiências e resultados parece
mais prudente e satisfatório a médio prazo.
As empresas são o segundo pilar do
ganha-ganha-ganha da era denominada por alguns como economia da recorrência ou
- por que não? - economia de requisição. O XaaS permite otimizar processos ao
organizar a cadeia produtiva, tornando a fabricação mais inteligente, ágil e
barata. A redução de custos é tangível: há empresas que conseguiram, por
exemplo, economizar até 17% ao terceirizar suas frotas, uma vez que não
precisam investir em logística e gastos administrativos, documentação, impostos
e burocracias, nem em manutenção e depreciação veicular. Ainda há o custo de
oportunidade, visto que a empresa que não terceiriza a frota, opta por não
investir o valor em ações mais estratégicas para a empresa. Em outras palavras,
é possível encurtar o caminho e dedicar o capital humano e financeiro
da empresa ao que realmente importa: os resultados.
O planeta também agradece. Ao eliminar
a compulsão irracional pela compra, a tendência as a service contribui
para diminuir os impactos ao meio ambiente, recursos naturais e cenários
urbanos. O hiperconsumo é fundamentado na obsolescência e exploração
compulsória de recursos naturais. Os serviços sob demanda vão de encontro a
esse ciclo vicioso já que substituem a compra única e defendem a economia
circular e a logística reversa, visto que ao final do período de contratação, o
bem é devolvido. O que iguala em: menos descarte, menos resíduo e menos
desperdício.
Atenta às tendências da mobilidade, o
movimento dos cars as a service (CaaS) destina-se a quem pretende usar um
automóvel sem se preocupar com as burocracias e os encargos associados à posse
do carro. Aproxima-se do conceito de subscrever um veículo, no qual o usuário
fica apenas responsável pelo pagamento de um valor ou mensalidade, podendo
liquidar o relacionamento com a empresa quando lhe convier. Manutenção,
revisões técnicas, mudanças de pneus, seguros, impostos… Não são
responsabilidade do condutor. O fenômeno CaaS simboliza a tendência aqui
debatida: novos hábitos de consumo que priorizam a experiência e uma sociedade
que escolhe tecnologia e conectividade para simplificar processos antes
burocráticos e complexos.
Embora ainda em fase de crescimento, a
tendência XaaS poderá atingir a marca de US$ 344 bilhões em 2024, conforme
estimativa publicada pela Revista Exame. A avaliação do mercado de veículos é
positiva, devendo ultrapassar US$ 30 bilhões até 2030, conforme estudo da
Global Market Insights Inc. Confirmo: testemunhamos uma economia orientada cada
vez mais para serviços em todos os segmentos. É um movimento global que acirra
as vantagens competitivas, estimula as empresas a gerarem mais valores,
antecipando, assim, as necessidades dos clientes, e mais, explora
possibilidades de reinventar produtos e serviços e desopilar o planeta.
Vinícius Carneiro -
gerente de marketing do V1.
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