Especialista
defende a urgência de medidas aceleradoras para alcançar a igualdade de gênero
na sociedade, nos parlamentos, nos ambientes público e privado
“Não existe neutralidade social. O neutro é
masculino. Sempre que você pensar no padrão, no homem comum, no senso comum, no
neutro, é um padrão masculino”. A partir desta reflexão, Christine Peter,
professora de Direito Constitucional do Centro Universitário de Brasília
(CEUB), aborda o constitucionalismo feminista, corrente de pensamento que busca
analisar as normas jurídicas a partir da perspectiva de gênero, questionando as
hierarquias e as assimetrias que são reproduzidas pelo sistema jurídico.
De acordo com a jurista, o constitucionalismo
feminista se mostra como instrumento para a promoção dos direitos das mulheres
e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. “O Artigo. 5º -
Inciso I da Constituição Federal diz que homens e mulheres são iguais em
direitos e obrigações. Esse é o primeiro dos direitos fundamentais enunciados
na perspectiva individual e coletiva e foi fruto de muitas lutas. Tudo que diz
respeito à igualdade de gênero é fruto de muita luta, de muito trabalho, de muita
conversa, de muito diálogo, de muitos acordos no ambiente da política”,
considera Christine Peter.
Como exemplo, a professora relata suas experiências
de vida como mulher em um ambiente masculino e como demorou para compreender
que o Direito Constitucional é uma área masculina por natureza, onde as
relações são assimétricas e as vantagens pendem para o sexo masculino. “Onde há
poder, há homens. Onde há poder o neutro tem gênero e é masculino”, enfatiza.
A partir da perspectiva daqueles que foram excluídos desde a gênese do poder aplicado no estado de direito, a professora cita decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tributação de pensões, que afetou principalmente mulheres, já que são elas que assumem a maior parte dos cuidados com os filhos e, consequentemente, recebem a pensão alimentícia dos pais. “Isso mostra como as questões de gênero devem ser consideradas em todas as áreas do Direito, incluindo a tributária, para que a justiça seja efetiva para todos os gêneros”.
Christine aponta que apesar de algumas políticas afirmativas reservarem 20% a
30%, a realidade mostra que as mulheres ocupam pouco mais de 10% dos lugares de
poder. Os desejáveis 50% só se concretizam quando o critério de escolha é
meritocrático.”O direito das mulheres à educação é um exemplo disso, tendo sido
conquistado com muita luta ao lado do direito ao voto. A naturalização da
igualdade de oportunidades para as mulheres ainda é um processo em andamento,
que requer uma mudança de mentalidade na sociedade”, destaca a professora do
CEUB.
A jurista também defende a urgência da
representatividade política das mulheres e a necessidade de medidas
aceleradoras, como as cotas, para alcançar a igualdade de gênero nos
parlamentos. Para Peter, a cota é um instrumento para garantir a presença
feminina em espaços historicamente ocupados pelos homens, sendo a
representatividade política uma das muitas formas de combater o patriarcado que
limita a participação das mulheres em diferentes esferas da sociedade.
A partir do exemplo de sua vida como mulher,
profissional e mãe, Christine reafirma que todos os complicadores
socioeconômicos, sociais, políticos mostram que a condição feminina é realmente
um elemento que precisa ser percebido. “A primeira consciência que precisamos
ter é que é preciso olhar para as mulheres com empatia, porque é uma condição
diferenciada”, considera.
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