Para especialista,
cidadania deve ser transposta para as relações digitais e socioemocional nas
escolas é ferramenta cada vez mais necessária
O ambiente escolar é um espaço no qual se pode
cultivar relações saudáveis de aprendizado e amizade. Porém, sempre foi repleto
de armadilhas para a saúde mental, especialmente nas fases de mudança da
infância para adolescência. Da pressão dos estudos ao bullying dos colegas ou
até a imersão em realidades completamente novas, como a da vida virtual, é
preciso estar atento ao que afeta os filhos e a educação socioemocional na
escola é um aliado nessas horas.
“Parece simples constatar que a vida digital é uma
continuação da vida real, mas muitas vezes a cidadania e as boas práticas de
convívio não são levadas para esse espaço”, afirma a diretora Socioemocional do
Colégio Novo de Ribeirão Preto nas unidades Alto da Boa Vista e Alvorada.
A pandemia deixou algumas marcas invisíveis nos
jovens, como fobia social, síndrome do pânico, dependência e supervalorização
da vida digital. O ambiente virtual de aulas reforçou o impacto da cultura
digital, dada por meio de grupos de WhatsApp e presença nas redes sociais da
moda, o que no regresso ao presencial a escola terá de responder com uma nova
postura.
A psicoterapeuta aponta que o digital ganhou grande
relevância no cotidiano, mas o anonimato ou o comportamento de grupo muitas
vezes levam os usuários a não pensarem antes de escrever, nem sobre o efeito da
violência verbal que causam ao outro. “No caso de adolescentes, que ainda estão
firmando sua identidade, uma mensagem no TikTok pode acabar com a autoestima,
imagine um viral iniciado pelos próprios colegas, que deveriam ser uma base de
apoio desse jovem?”, diz Capuani.
O relacionamento virtual, repleto de filtros e
informações sem comprovação científicada dadas por influencers, somam-se aos
quadros de depressão, estresse, ansiedade, transtornos e abuso de drogas. “É
preciso alimentar desde a infância o entendimento das emoções, o que as provoca
e como lidar com elas. A família também é importante, pois a validação dos
sentimentos do outro começa em casa e se estende para escola, e vice e versa”,
conta a diretora.
O bullying digital é fator de risco, inclusive para
o suicídio de jovens por levar a emoções como vergonha, insuficiência e
desilusões amorosas. Preconceito em casa com esses temas atrapalha, pois faz o
jovem se fechar e ficar ainda mais inseguro em perguntar ou compartilhar sua
dor.
“A porta tem que estar sempre aberta e o sentimento
do outro precisa ser validado, sem julgamento. Tem coisas que eles ainda não
sabem responder, e tudo bem. Mas a relação de confiança vai sendo
estabelecida”, explica Capuani.
Os pais não precisam entender todas as tecnologias
que os filhos usam, mas precisam saber o peso que elas têm na vida deles e
nunca minimizar esse valor para poderem de fato se conectar com eles.
“Ninguém gosta de ser criticado o tempo todo, de
estar errado o tempo todo. Há formas de falar que não fazem a pessoa se sentir
menor ou menos importante, e isso impacta na valorização que ela tem da própria
vida”, diz Capuani.
Ao mesmo tempo, os alunos de hoje precisam de uma
nova conduta social para essa vida digital que emerge e no qual a opinião
negativa de desconhecidos afeta profundamente, inclusive para cobrar dessas
mídias um controle maior dos ataques virtuais. “A cidadania digital, a causa e
consequência, tudo isso precisa permear o ensino das crianças de hoje para
evitar o sofrimento silencioso que vem cada vez mais pelo cyberbullying”,
conclui a diretora.
Dados de 2019 do MS apontam que a cada 46 minutos
uma pessoa tira a própria vida - a maioria é homem com idade entre 10 e 29
anos. Cerca de 96,8% desses casos de suicídio entre jovens estão ligados a
algum transtorno mental, mas a notícia boa é que são um problema de saúde
tratável - a OMS afirma que 90% dos suicídios podem ser evitados.
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