- Para pais e responsáveis, os focos das políticas de
educação devem ser a formação de professores, a oferta de tecnologia e os
programas de reforço escolar;
- Pesquisa avalia o primeiro ano de retorno presencial das
aulas na visão das famílias e foi encomendada por Fundação Lemann, Itaú
Social e BID;
- Segundo pais e responsáveis, 40% dos alunos de escolas
públicas estão com dificuldades de avançar no processo de alfabetização;
- Escolas oferecem mais reforço escolar e apoio psicológico
aos estudantes do que no início da pandemia, mas persistem as
desigualdades regional e socioeconômica
Educação precisa ser prioridade dos
novos governos, segundo 78% de pais e responsáveis por estudantes de escolas
públicas. O tema ficou à frente de saúde (66%) e segurança pública (21%). É o
que mostra a décima edição da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes
e suas famílias”, encomendada ao Datafolha por Fundação Lemann, Itaú Social e
BID, com apoio da Rede Conhecimento Social. Realizada em dezembro de 2022 com
1.323 responsáveis por 1.863 estudantes de todas as regiões do país, a pesquisa
busca retratar a visão das famílias sobre o primeiro ano de retorno presencial
das aulas após a pandemia da Covid 19.
Para melhorar a educação, os
entrevistados destacaram que os novos governos devem garantir maior oferta de
formação de professores, a ampliação do uso de tecnologia nas escolas e a
promoção de programas de reforço e recuperação de estudantes, igualmente com
21% cada.
A pesquisa também evidencia amplas
desigualdades regionais e de renda nas necessidades dos familiares. Por
exemplo, a ampliação do uso das tecnologias nas escolas é uma demanda mais
presente para os responsáveis por estudantes das regiões Norte (28%),
Centro-Oeste (23%) e Nordeste (22%) se comparado às regiões Sudeste e Sul
(ambas com 18%). Escolas de índices socioeconômicos mais baixos também aparecem
na frente com essa demanda (25%).
Esse dado reforça os resultados de um
Estudo da MegaEdu, lançado em abril de 2022,
que apontou que o problema de conectividade nas escolas é mais evidente no
Norte, onde apenas 63% das unidades de ensino são cobertas com internet, contra
94% tanto no Sudeste quanto no Sul.
DESAFIOS NA
ALFABETIZAÇÃO E NO ENSINO FUNDAMENTAL II
De acordo com os responsáveis ouvidos
pelo Datafolha, 6% dos estudantes não estão avançando e 34% estão avançando com
dificuldades no processo de alfabetização, somando 40% de estudantes com algum
desafio neste processo. Em maio de 2022, esse número era de 45%, e, embora
esteja um pouco menor agora, ainda apresenta imenso desafio para o país.
Também neste caso persistem as
desigualdades de renda: em escolas de menor nível socioeconômico, o número de
estudantes com problemas no processo de alfabetização chega a 50% (14% não
estão avançando no processo e 36% estão avançando com dificuldades).
“É preocupante a percepção continuada
das famílias, reforçada novamente nesta pesquisa, de que suas crianças não
estão aprendendo a ler e a escrever como deveriam. Esse resultado deve servir
de alerta para a importância da colaboração entre gestores de diferentes níveis
de governo para endereçar esse desafio”, comenta Daniel De Bonis, diretor de
Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.
Segundo os pais, 10% dos estudantes
de alfabetização estão em nível muito abaixo do esperado em leitura e escrita.
Esse número chega a 24% em escolas mais pobres. A boa notícia para os menores é
que as avaliações para conhecer as dificuldades dos alunos acontecem
principalmente na fase de alfabetização (73%) – contra 58% no Ensino Médio.
Já nos anos finais do Ensino
Fundamental (6º ao 9º ano), o desafio parece ser a ausência de avaliação: 35%
dos pais e responsáveis acreditam que o principal problema da escola em relação
às perdas de aprendizagem pela Covid-19 ocorre porque a escola não está fazendo
o suficiente para avaliar a perda de aprendizado e identificar áreas que os
adolescentes precisam de apoio. Ilustra este cenário de ausência de avaliações
o fato dos responsáveis acreditarem que os professores conhecem pouco a
respeito das dificuldades de aprendizado de quase metade dos alunos (46%), além
de perceberem que para 49% dos estudantes há pouco apoio individualizado para
aqueles que não estão conseguindo acompanhar as aulas nessa etapa escolar.
REFORÇO ESCOLAR
E APOIO PSICOLÓGICO
Segundo as famílias, metade dos
estudantes (50%) tiveram oferta de reforço escolar pelas escolas, o maior
índice desde maio de 2021 (29%). Essa proporção era de 43% no mesmo período do
ano anterior, segundo a série Datafolha. Apesar do aumento progressivo desde o
início da pandemia, a proporção de estudantes matriculados em escolas que
oferecem reforço escolar revela desigualdades, inclusive entre os ciclos da
educação básica: estudantes dos anos iniciais têm maior oferta (56%) do que
estudantes dos anos finais (48%), de acordo com a pesquisa. As diferenças
regionais também são alarmantes, já que alunos da região Sul (65%) têm maior
oferta do que aqueles da região Norte (35%) e Nordeste (41%).
A despeito de terem o menor índice de
oferta de aulas de reforço, os estudantes do Norte são os que mais frequentam
esse tipo de programa. O Datafolha revela que 6 em cada 10 (61%) estudantes que
possuem oportunidade de reforço escolar participam da ação na região Norte,
número muito superior ao da região Sul (35%). A média do Brasil fica em 42% de
participação dos estudantes.
Com relação ao apoio psicológico,
atualmente, 44% dos estudantes estudam em escolas que oferecem esse tipo de ação
– em setembro de 2021, o índice era de 36%. Entre os estudantes que
participaram do apoio psicológico (23%), a percepção é de que eles se sentem
mais integrados (98%), mais felizes no dia-a-dia (97%) e mais
envolvidos com a escola (96%). A oferta de apoio psicológico aos alunos é
maior nas regiões Sul (56%) e Centro-oeste (52%), contra 40% na região Norte e
41% nas regiões Nordeste e Sudeste.
Segundo os responsáveis, 14% dos
estudantes realizam ações de apoio psicológico fora da escola. Além disso, 65%
dos responsáveis indicam que estudantes não atendidos por apoio psicológico
fora da escola gostariam que estes contassem com o serviço.
Esse é um tema que merece atenção dos
gestores públicos também: entre maio e dezembro de 2022, passou de 33% para 40%
o índice de estudantes que, na visão de seus responsáveis, estão precisando de
apoio psicológico; e de 34% para 38% a proporção de estudantes com dificuldades
para controlar suas emoções, como raiva e frustração. Mais de 60% dos
responsáveis acreditam que o principal problema da escola em relação a forma de
lidar com as questões de saúde mental dos estudantes é a falta de profissionais
qualificados.
“A retomada das aulas presenciais nas
redes de ensino foi um marco na vida de crianças e jovens em idade escolar após
o período mais crítico da pandemia. Agora, é preciso ter um olhar atento e
propor ações ágeis e eficientes para mitigar o alto índice de evasão escolar, a
defasagem na aprendizagem e os desafios relacionados à saúde mental que atingem
nossos estudantes. Importa ainda que isso seja feito em todo o território
nacional, com ações estruturadas de forma conjunta, garantindo a equidade e
qualidade, requisitos básicos para a efetivação do direito à educação”,
enfatiza Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social.
A PESQUISA
A décima edição da pesquisa “Educação
na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada ao Datafolha por
Itaú Social, Fundação Lemann e BID, com apoio da Rede Conhecimento Social,
procura avaliar o primeiro ano de retorno presencial após a pandemia. Realizada
em dezembro de 2022, o levantamento também busca elucidar as expectativas para
o futuro dos estudantes. Foram entrevistados 1.323 responsáveis por 1.863
estudantes matriculados em escolas públicas entre 6 e 18 anos.
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