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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Projeto Aristóteles: desvendando os segredos de um time eficaz

 

Grande parte do trabalho feito no Google e em muitas organizações é feito por equipes. A equipe é a unidade onde o trabalho é feito, onde ideias inovadoras são concebidas e testadas e onde os colaboradores desempenham a maior parte de seu trabalho. Mas também é na equipe que problemas de relacionamento, falta de habilidades e a pouca clareza dos objetivos podem prejudicar a produtividade e causar brigas.

 

Para entender mais sobre o tema, pesquisadores do Google iniciaram um estudo para descobrir os segredos das suas equipes mais eficazes. Com o codinome Projeto Aristóteles - uma homenagem à citação de Aristóteles, "o todo é maior que a soma de suas partes" -, o objetivo era responder à pergunta: "O que torna uma equipe eficaz no Google?".


 

O que é e o que faz uma equipe?


O primeiro passo para responder a esta pergunta de "o que torna uma equipe eficaz?" é perguntar "o que é uma equipe?". Mais do que um exercício filosófico, descobrir associações, relacionamentos e responsabilidades de todos os indivíduos que trabalham juntos é difícil, mas ao mesmo tempo fundamental para decodificar a eficácia da equipe.

 

O termo "equipe" pode assumir uma ampla gama de significados. Existem muitas definições e estruturas , dependendo da interdependência de tarefas, status organizacional e renda da equipe. No nível mais fundamental, os pesquisadores procuraram distinguir um "grupo de trabalho" de uma "equipe". Por isso, definiram:

 

● Os grupos de trabalho são caracterizados pela menor quantidade de interdependência. São baseados na hierarquia organizacional ou gerencial. Grupos de trabalho podem se reunir periodicamente para ouvir e compartilhar informações;


● As equipes são altamente interdependentes - elas planejam o trabalho, resolvem problemas, tomam decisões e analisam o progresso a serviço de um projeto específico. Os membros da equipe precisam uns dos outros para realizar o trabalho.

 

Os tradicionais organogramas contam uma pequena parte da história. A equipe de pesquisa do Google se concentrou em grupos com relações de trabalho verdadeiramente interdependentes, conforme a definição do termo "equipe". Os agrupamentos estudados no Projeto Aristóteles variaram de três a 50 indivíduos (com uma mediana de nove membros).


 

O que é eficácia?


Definido o conceito de equipe no Google, os pesquisadores tiveram que determinar como medir quantitativamente a eficácia. Eles analisaram diversos indicadores, como linhas de código escritas, bugs corrigidos, satisfação do cliente e muito mais. Mas os líderes do Google, que inicialmente escolheram medidas objetivas de eficácia, perceberam que cada medida sugerida poderia ser falha - mais linhas de código não são necessariamente uma coisa boa e mais bugs corrigidos significam que mais bugs foram inicialmente criados.

 

Em vez disso, os estudiosos decidiram usar uma combinação de avaliações qualitativas e quantitativas. Para avaliações qualitativas, coletou-se informações de três perspectivas diferentes - executivos, líderes de equipe e membros da equipe. Embora todos tenham sido solicitados a classificar as equipes em escalas semelhantes, quando precisavam explicar suas classificações, suas respostas mostraram que cada um se concentrou em diferentes aspectos ao avaliar a eficácia da equipe.

 

Assim, definiu-se que a eficácia da equipe é medida de quatro maneiras diferentes:

 

  1. Avaliação executiva da equipe;
  2. Avaliação do líder da equipe da equipe;
  3. Avaliação do membro da equipe da equipe;
  4. Desempenho de vendas em relação à cota trimestral.

 

As avaliações qualitativas ajudaram a captar uma visão diferenciada dos resultados e da cultura, mas tinham uma subjetividade inerente. Por outro lado, as métricas quantitativas forneciam medidas concretas de equipe, mas careciam de considerações situacionais. Essas quatro medidas combinadas, no entanto, permitiram que os pesquisadores estruturassem uma definição abrangente de eficácia da equipe.

 

Definidas as questões-chave, a equipe de pesquisa identificou 180 times para estudar (115 de projeto em engenharia e 65 em vendas), que incluíam uma mistura de equipes de alto e baixo desempenho. O estudo testou como a composição da equipe (por exemplo, traços de personalidade, habilidades de vendas e dados demográficos) e sua dinâmica (por exemplo, como era trabalhar com colegas de equipe) afetavam sua eficácia. As ideias foram extraídas de pesquisas existentes, bem como da própria experiência do Google sobre o que torna uma equipe eficaz.

 

Conduziu-se centenas de entrevistas duplamente cegas com líderes para ter uma ideia do que eles achavam que impulsionava a eficácia da equipe. Os pesquisadores então analisaram dados de estudos existentes, incluindo mais de 250 itens da pesquisa anual de engajamento de funcionários e gDNA, estudo longitudinal do Google sobre trabalho e vida, para ver quais variáveis ​​podem estar relacionadas à eficácia.


 

Qual era o segredo das equipes mais eficazes da pesquisa?


Com todos esses dados, a equipe executou modelos estatísticos para entender quais das múltiplas entradas coletadas realmente impactam a eficácia da equipe. Usando mais de 35 modelos estatísticos diferentes em centenas de variáveis, eles procuraram identificar fatores que:

 

● Impactaram diversas métricas de resultados, tanto qualitativos quanto quantitativos;


● Funcionaram para diferentes tipos de equipes em toda a organização;


● Apresentaram significância estatística consistente e robusta.

 

Os pesquisadores descobriram que o que realmente importava era menos sobre quem está na equipe e mais sobre como a equipe trabalha em conjunto. Assim, para uma equipe eficaz, garanta cinco itens:

 

● Segurança psicológica: A segurança psicológica refere-se à percepção de um indivíduo sobre as consequências de assumir um risco interpessoal ou a crença de que uma equipe está segura para assumir riscos em face de ser vista como ignorante, incompetente, negativa ou incômoda. Em uma equipe com alta segurança psicológica, os colegas de equipe se sentem seguros para assumir riscos às claras. Eles se sentem confiantes de que ninguém na equipe irá atrapalhar ou punir alguém por admitir um erro, fazer uma pergunta ou sugerir uma nova ideia;


● Interdependência: Em equipes onde os membros confiam uns nos outros, um trabalho de qualidade é entregue no prazo acordado. Não havendo a confiança mútua, se estabelece um jogo de empurra e fuga da responsabilidade;


● Estrutura e clareza: A compreensão de um indivíduo sobre as expectativas de trabalho, o processo para atender a essas expectativas e as consequências de seu desempenho são importantes para a eficácia da equipe. As metas podem ser definidas em nível individual ou em grupo e devem ser específicas, desafiadoras e alcançáveis. O Google costuma usar OKRs (Objectives and Key Results) para ajudar a definir e comunicar metas de curto e longo prazo;


● Significado: Encontrar um senso de propósito no trabalho ou no resultado é importante para a eficácia da equipe. O significado do trabalho é pessoal e pode variar: segurança financeira, apoio à família, ajudar a equipe a ter sucesso ou a autoexpressão de cada indivíduo, por exemplo;


● Impacto: Os resultados do trabalho de alguém e o julgamento subjetivo de que seu trabalho está fazendo a diferença são fatores importantes para motivar os membros . Ver que o trabalho de alguém está contribuindo para os objetivos da organização pode ajudar a revelar o impacto.

 

Dessa forma, busque sempre propiciar essas cinco características no seu time, porque são a chave para o sucesso da equipe. Garanta que todos se sintam livres para errar, que se comprometam com o resultado, que haja estrutura e clareza nas metas, que o trabalho tenha significado e que todos vejam que o quanto fazem tem valor.

 


 

Virgilio Marques dos Santos - um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.


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